14 setembro, 2006

O pai do metodismo morreu Anglicano, o que o futuro nos reserva?

Por: Maria Newnum

O futuro é incerto. Isso é “uma máxima” verdadeira da natureza humana. Posso partir dessa uma para melhor(?) antes da conclusão desse ensaio. Mas essa idéia não me paralisa. Me vejo velhinha ao lado do meu marido, sonhando com o nosso futuro e de nossa igreja amada; segunda paixão.

Para ver o futuro é preciso analisar a história. A igreja Metodista é marcada pela resistência. Nasceu da resistência primária da reforma promovida por Lutero contra a forma absolutista de poder, controle e venda de indulgências dos gananciosos papas romanos.

A ganância sempre desafia para a resistência e faz nascer o desejo louvável de assumir o poder no lugar e na forma que possibilite mudanças e libertações. Orientados pela ganância uns matam, outros oprimem; alguns perseguem e atemorizam.

Como Lutero, Wesley foi um resistente. Resistiu especialmente às idéias hegemônicas; andou literalmente na contra-mão de sua história. Quando o impediram de pregar nos templos, subiu em túmulos e dizia que “o mundo era sua paróquia”.

Quando os ataques dos católicos fundamentalistas vieram contra os protestantes na Irlanda, onde inclusive, conta a história, Wesley foi recebido a pedradas, escreveu a linda “carta ao um amigo católico”.

Quando a sua Igreja Anglicana omitiu-se do compromisso com os pobres Wesley, iniciou o movimento metodista que além de uma espiritualidade marcada pelas orações e hinos, ele e os dos “clube dos santos” agiram de forma intensa nas minas de carvão, presídios e comunidades pobres . Poucos sabem, mas o pai do metodismo atuou, inclusive como médico, usando fórmulas naturais para curar as pessoas carentes.

Wesley não tomou de assalto o poder. O poder lhe foi nascendo como resistência.

Finalmente quando o movimento metodista pregou divisão e o rompimento com Igreja Anglicana Wesley resistiu. Morreu Anglicano.

Em toda a vida Wesley foi conquistando poder; inclusive o poder de decidir sobre sua condição religiosa.

Quantos/as metodistas morrerão metodistas no Brasil? Quantos serão os homens e mulheres desse tempo? Quantos buscarão o poder para transformar e resistir?

Em que pese avaliação simples, é possível afirmar que “sobreviverão” o/as metodistas no Brasil que abandonarem a condição “de ovelhas”; analogia lindamente usada por Jesus, contudo, apropriada posteriormente, ora de forma despretensiosa, ora com fins de manipular e amortizar as consciências. Ovelha não pensa, obedece; ovelha tem visão limitada e precisa ser guiada; ovelha não se empodera, fica sob o poder. Já ouvi de um líder da Igreja Metodista que: “Ovelha rebelde, se mata e se come”. Será um caso isolado na igreja hoje?

Que não paire o engano, esse tempo secular e eclesiástico é dirigido pela busca incessante de dinheiro e poder.

O poder “pelo poder” é ruim e danoso. O poder como resistência e transformação, é necessário.

Infelizmente pessoas que não almejam dinheiro e controle, se afastam do poder. O poder, seja no âmbito eclesiástico, seja no secular, é quase sempre visto como coisa ruim.

Ivone Guebara, em Poder e não- poder das mulheres , p. 12, diz: “A desconfiança em relação àqueles que têm poder é quase contínua, pois a história confirma através do caminho da cruz dos pobres o que o poder dos ricos lhes impôs como sofrimento, como “canga”, como fardo insuportável. Portanto essa experiência não é teórica ou abstrata, mas está fundada numa longa experiência que atinge até o cotidiano. Ela está na memória dos pobres como cicatriz que sangra continuamente...” Assim, pessoas “de bem” querem ficar longe do poder. Porém, com isso, corre-se o grande risco apontado por Martin Luther King: “O que mais me espanta não é maldade dos maus, mas a omissão dos justos”.

O poder é necessário, seja para dominar e enriquecer, seja para libertar e repartir riquezas.

Daqui há 5 anos a Igreja Metodista estará diante de um novo concílio. Alguns dos atuais bispos encerrarão seu período de “poder”. Cabem algumas perguntas: Quantas “ovelhas” serão conciliares? Quantos estarão afoitos em assumir o poder, motivados pela ganância e desejo de controle?

E mais importante: Quantos/as se colocarão a disposição de concorrer ao ”poder episcopal” movidos/as pelo senso de resistência, responsabilidade e transformação?

É necessário que se comece a encontrar respostas. Cinco anos, passam rápido.

Maria Newnum - Metodista da 6a RE.