28 julho, 2006

Concílio foi uma expressão do que é a Igreja Metodista hoje

Comecei a ficar por dentro do que ocorreu no Concílio somente hoje, pois estava de férias, isolado do mundo, sem telefone nem internet. No início pensei que se tratava de uma "pastoral" dos Bispos sobre ecumenismo. Depois, recebi mais algumas mensagens, em especial, do Cléber Paradela, de Salvador. Ele me colocou por dentro do que ocorrera no Concílio.

Não sei se grupos de debate resolvem o problema. Acredito que o que ocorreu no Concílio foi uma expressão do que é a Igreja Metodista hoje: uma igreja de maioria carismática, mas de um carismatismo medíocre, excludente e individualista. Não tem nada a ver com a Igreja na qual muitos/as de nós vivemos e militamos.

Por isso, penso em uma renovação que comece pela formação de nossos/as pastores/as. Para início de conversa, penso no pastorado como uma vocação cujo exercício tem a ver com a consciência de que o/a pastor/a estará servindo ao Reino de Deus, por meio das expressões da fé que professa. O/a pastor/a metodista precisa estar imbuído dos elementos que caracterizam o metodismo histórico: a certeza de que a graça de Deus é oferecida a todos/as, fé e obras de misericórdia, santificação, perfeição cristã, além de um conhecimento profundo da teologia wesleyana, conhecimento que possibilite transportá-la para o século 21 como expressão moderna da fé em Jesus Cristo, encarnado, morto e ressuscitado. Por isso, a Faculdade de Teologia precisava ser renovada para formar pastores/as com uma visão profunda da fé metodista e do mundo no qual vivemos; ao mesmo tempo, comprometidos/as com as expressões de fé exaradas nos documentos da Igreja, na certeza de que somos diferentes dos batistas, dos presbiterianos, dos adventistas, dos católicos, dos pentecostais, mas não os excluímos e, sim, os respeitamos como partícipes das hostes divinas que lutam para a construção do Reino de Deus, aqui e agora.

Somos diferentes. Quem sabe, nossa vocação como igreja não seja a de construirmos grandes templos e catedrais, ou de vermos nossos templos abarrotados de gente, mas de sermos fermento que faz crescer a massa dos que aceitam Jesus Cristo como Senhor e Salvador? Um fermento que tem como local prioritário de sua ação as expressões educativas, formais e informais, na escola e fora dela (na igreja), mas a educação. Quem sabe, quando Wesley chamava os metodistas de "pequeno povo chamado metodista", ele não estaria se referindo a isso?! Por isso, sua obsessão pela educação. A nossa grandeza pode estar em sermos pouco numerosos, mas com uma atuação robusta em favor do Reino de Deus.

Assim, a Faculdade de Teologia formaria pastores e pastoras para uma Igreja diferente, mas consciente da sua missão. Esses homens e essas mulheres não se deixariam levar pela facilidade de "conquistar almas" por meio do apelo à emoção alienante e não se deixariam levar pela tentação de serem imitadores (na maioria das vezes medíocres) dos "universais", Edir Macedo e R.R.Rodrigues, que atraem multidões com suas pregações emotivas e apelativas. Pastores e pastoras que pudessem ser também pedagogos e pedagogas, isto é, guias capazes de orientar o povo chamado metodista na direção da massa da qual ele seria o fermento a levedar o pão. Somente assim poderíamos atingir o alvo para o qual a nossa fé nos impulsiona: o aniquilamento dos sistemas injustos que excluem e aniquilam milhares de pessoas todos os dias, impedindo que o Reino de Deus se faça presente.

Sim, sou a favor de uma ruptura. Não penso que somos os donos da verdade. Mas não podemos, a título de uma falsa ação democrática, nos deixar dirigir pela posição de uma maioria inconsciente (do que é o metodismo) e alienada, que quer ser a expressão do metodismo brasileiro. Os 79 "cavaleiros húngaros" deste Concílio não têm o direito de se arvorar em donos da verdade eclesiástica.

Vou contar uma história verídica: quando estava na Inglaterra fazendo pesquisa para a minha tese, em abril de 1984, perguntei para historiadores, teólogos e pastores metodistas se Wesley tinha sido maçom. A resposta, pronta e seca: não. Mas, e o nome de Wesley no livro de registro dos iniciados da loja nº 38 da Irlanda? Ninguém sabia responder. Mandavam-me ler o que o Editor do Journal escrevera sobre o assunto. Em outubro do mesmo ano recebi do Secretário do Conselho Metodista do Conselho Mundial de Igrejas um exemplar do Jornal oficial da Igreja Metodista da Inglaterra, o Methodist Recorder, com uma matéria sobre uma decisão do Concílio da Igreja (que se realizara em julho/84), de proibir os metodistas ingleses de serem ao mesmo tempo maçons. Involuntariamente, eu havia mexido em uma ferida que estava fechada, mas não cicatrizada, há 200 anos. Em fevereiro de 1985, recebi alguns exemplares do mesmo jornal, dando conta do que havia acontecido depois disso. Os metodistas maçons reagiram e provocaram a realização de um Concílio Extraordinário.
Decisão final: os metodistas ingleses podiam ser também maçons. A reação da minoria foi sufocante e a Igreja metodista inglesa teve a sabedoria de voltar atrás na decisão conciliar.

É claro que muitos Bispos (inclusive de outras partes do mundo) se aliaram aos metodistas maçons ingleses na sua luta pela reversão da decisão, isso em nome da liberdade individual, tão festejada pelo liberalismo. Será que nossos Bispos, ou alguns deles, não têm poder de fogo para reagir? E os nossos/as teólogos/as, aceitam isso na santa paz, sem sequer uma reação contrária?

Estou indignado...

Desculpe pelo desabafo.

Um abração.

Peri Mesquida
Curitiba - PR
mesquida.peri@pucpr.br

1 Comments:

At julho 28, 2006, Blogger marianewnum said...

Prezado Peri,

Gostei de ver a sua manifestação, especialmente por ser da mesma região sua. Vários pontos de sua análise mostram os motivos que nos levaram a esta situação atual. A maior dela apontada por ti é justamente um empobrecimento intectual-teológico onde a teologia e aducação teológica são para algumas pessoas quase um defeito.
Um abraço,
Maria

 

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