04 setembro, 2008

Mulheres e espaço de poder na sociedade e no ecumenismo brasileiro

Como ocorrem nas várias instâncias eclesiásticas; as mulheres são acolhidas com gentileza no meio ecumênico. Poucas mulheres pentecostais, católicas, protestantes e as ligadas aos organismos ecumênicos denunciariam sexismo ou discriminação de gênero nos espaços que transitam.

Quase não há como denunciar. Especialmente nas últimas décadas, as mulheres receberam o “crédito” que merecem, frente ao funcionamento diário de suas Igrejas, grupos societários e ecumênicos. Elas “são pau para toda obra”: varem o chão, limpam banheiros, põem flores no altar e organizam liturgias belíssimas. Por inúmeras vezes, as ações tecidas pelas mãos das mulheres superam o espaço cúltico e atingem projetos ambiciosos que envolvem direitos humanos, alimentação e saúde familiar, violência social, cuidados com o meio ambiente e responsabilidade política.

De modo muito particular, as mulheres têm sido desafiadas, inclusive por homens, a perceber que o voto no meio secular precisa da intervenção feminina, pois, suas escolhas políticas vão interferir diretamente no “universo estrito” das mulheres, ou seja, no cuidado dos filhos e parentes dependentes de seus cuidados. Cada vez mais, as mulheres adquirem “ciência” que é imprescindível ter nos quadros diretivos, mulheres e homens competentes e comprometidos com causas amplas, tanto no âmbito da política secular, como eclesiástica.

Obviamente, por trás dessas conquistas há um esforço de mulheres articuladoras e fomentadoras dos movimentos sociais e ecumênicos brasileiros e de muita gentileza fraterna por parte de alguns homens comprometidos com a eqüidade de gênero.

Apesar disso, elas ainda ocupam o escalão de “segunda classe” nos espaços de decisão da sociedade. Se forem negras, indígenas e com baixa formação educacional, o quadro se agrava enormemente. Uma prova que evidencia a discriminação de gênero é que mesmo as mulheres brancas e com excelente formação educacional e profissional não conseguem atingir as posições diretivas nas empresas. Segundo dados da Secretária Especial de Políticas para as Mulheres: “Independentemente da maior escolaridade das mulheres, a inserção delas em ‘nichos’ ocupacionais tipicamente femininos faz com que elas ganhem menos que os homens (...) ”.[1]

Já nos cargos de chefia, dados do Instituto Catho demonstra que o índice não atinge 21% do mercado. “O índice chegou a 20,56% contra os 10,39% registrados há 11 anos, em 1997.[2]” Ou seja, houve aumento significativo em 11 anos, mas o índice é baixo quando se constata a presença massiva de das mulheres no mercado de trabalho e nos cursos de qualificação profissional. Os cursos de MBA têm a média de 32% de participação feminina em suas turmas. O índice é alto quando se leva em conta os sacrifícios pessoais que elas fazem para se inscreverem nesses cursos.

Mas a pergunta que não quer calar é: Que posição ocupa as mulheres nos espaços de decisões do ecumenismo brasileiro? O movimento ecumênico defensor da eqüidade de gênero tem, na prática, empoderado as mulheres?

Antes de responder, visite o site das principais organizações ecumênicas brasileiras e procure por elas nas juntas diretivas, nas secretárias executivas e nos cargos de presidência.

Adianto: a surpresa não é das melhores.

Somente uma avaliação precisa e reflexões pontuais sobre o assunto, poderão, quem sabe em 10 anos, reverter o quadro atual.

Para as mulheres ecumênicas brasileiras fica o desafio de responder a pergunta: Que papel, nós mulheres temos desempenhado no movimento ecumênico brasileiro? O papel de “segunda classe” talvez seja apenas uma resposta simples; há outras ainda mais preocupantes.

Ivone Gebara, em seu livro, Poder e não poder das mulheres nos ajuda a entender nossa situação de mulheres latino-americanas. Fica o convite a essa leitura.
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Maria Newnum é pedagoga, mestre em teologia prática, Ex-vice-presidente do Movimento Ecumênico de Maringá e filiada a um partido político. Para comentar ou ler outros artigos acesse: http://br.groups.yahoo.com/group/LittleThinks/http://br.groups.yahoo.com/group/LittleThinks/


[1] http://200.130.7.5/spmu/docs/indic_sociais2006_mulher.pdf - acesso em 10/08/08.
[2] http://www3.catho.com.br/institucional/imprensa_read.php?id1=1652&id2=256 – acesso em 10/08/08.

02 setembro, 2008

Moderador do CMI conclama igrejas ao diálogo

O moderador do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) e presidente da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), pastor Walter Altmann, convidou denominações brasileiras que apresentam reservas ao ecumenismo a buscarem informações mais amplas possíveis a respeito do organismo internacional e abrirem diálogo com irmãos e irmãs na fé sem juízos prévios, mas no intuito do conhecimento mútuo.


ALC - Rio de Janeiro, segunda-feira, 18 de agosto de 2008


O apelo consta na entrevista que Altmann concedeu ao repórter Oziel Alves, publicada na edição de julho da Enfoque Gospel, revista de circulação nacional, com tiragem de 50 mil exemplares. “Creio que à medida que estabelecemos o diálogo e removemos mal-entendidos, abrem-se novas perspectivas de cooperação, mesmo se não passarem por afiliação formal ao CMI. A cooperação é mais importante do que a afiliação”, declarou.


Altmann mencionou que há uma série de mal-entendidos em relação ao ecumenismo, um deles de que o CMI queira constituir-se numa superigreja. “Ao contrário, o CMI é, constitucionalmente, um instrumento de diálogo e serviço das igrejas-membros, mas não tem qualquer prerrogativa de decisão sobre questões de doutrina, moral ou liturgia, em que a autonomia de cada uma das igrejas é plenamente respeitada”, argumentou.


Outro equívoco lembrado pelo pastor luterano é que ecumenismo teria algo a ver com comunismo. A semelhança fonética das palavras poderia gerar essa associação, que, no entanto, é totalmente descabida. “A responsabilidade social dos cristãos, pela qual o CMI advoga, é inspirada no próprio Evangelho e não por uma ideologia humana”, frisou.


O moderador do organismo ecumênico internacional acentuou que o CMI entende missão, diálogo teológico e ação social como “partes integrantes da responsabilidade que as igrejas têm, e não considera a ação social como mais importante do que a missão e o diálogo teológico”.


O pastor luterano não deixou de mencionar, contudo, o grande desafio com o qual o movimento ecumênico se depara nas áreas políticas, econômicas e sociais, qual seja, o de relacionar pobreza, riqueza e ecologia com a reflexão e ação voltadas à transformação de estruturas econômicas injustas, que atingem de forma mais direta os pobres, em especial as mulheres, os jovens, os povos indígenas e as pessoas portadoras de deficiência.


O diálogo, para o qual Altmann conclamou denominações brasileiras, visa a aproximação, a remoção de mal-entendidos e a busca de compreensão comum. - Nós, cristãos, não gostaríamos que os adeptos de outras religiões nos julgassem sem o devido conhecimento do que cremos e defendemos, fazendo generalizações arbitrárias acerca de nós e da fé cristã. Então, tampouco devemos fazê-lo em relação às outras religiões. Isso de forma alguma compromete nossas próprias convicções cristãs, argumentou.


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