12 janeiro, 2008

Livro de padre claretiano é daninho ao fiel, afirma Comissão Episcopal

MADRI, 8 de janeiro (ALC) – A Comissão Episcopal para a Doutrina da Fé, da Conferência Episcopal Espanhola, qualificou o livro do padre claretiano José Maria Vigil – Teologia do Pluralismo. Curso Sistemático de Teologia Popular – como “um instrumento especialmente daninho para a fé das pessoas simples”.

Em nota divulgada na sexta-feira, 4, a Comissão Episcopal afirmou que o livro de Vigil contém afirmações incompatíveis com a fé católica, como a negação do realismo da Encarnação, a mediação salvífica única e universal de Jesus Cristo e da Igreja. Na avaliação de bispos da Comissão o autor do livro reduz a religião à ética, entendida como justiça e respeito ao outro, e assinala a ruptura entre o Reino de Deus e a Igreja.

Vigil recorre ao “ver, julgar e agir”, da metodologia latino-americana, mas faz, segundo a Comissão Episcopal, a leitura e interpretação da Sagrada Escritura à margem da Tradição eclesial, nega o Magistério como intérprete autêntico da Palavra de Deus, e traz uma compreensão sociológica da Igreja e uma apresentação ideológica da história da evangelização.

Na avaliação da Comissão Episcopal, o padre claretiano faz valorações históricas “injustificadas e marcadas por uma ideologia dialética” que se afastam da verdade, ao qualificar a evangelização da América como uma “invasão” e “conquista” motivada pelo poder, e enumera as “limitações concretas do cristianismo”, como a opressão da mulher, a justificação da violência, a opção clara pelos ricos, a falta de respeito para com a natureza.

“No fundo dessas afirmações encontra-se a negação da verdade sobre Cristo, o Filho de Deus encarnado, e da originalidade do cristianismo”, que não é uma expressão do esforço do homem para alcançar a divindade, mas o testemunho da encarnação de Deus que saiu ao encontro do homem, avaliou a Comissão.

O livro de Vigil, de 389 páginas no original espanhol, foi lançado pelas Edições El Almendro, de Córdoba, em 2005, e traduzido ao português pela Editora Paulus, em 2006.

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Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação

Bispo metodista alenta opositores do projeto turístico Passeio Caribe

PORTO RICO - SAN JUAN, 8 de janeiro (ALC) - O bispo metodista Juan Vera assegurou que a Coligação Ecumênica de Porto Rico apóia a causa que defende a devolução dos terrenos nos quais está sendo construído o polêmico projeto turístico Passeio Caribe, na capital porto-riquenha.

Presidente da Igreja Metodista de Porto Rico, Vera visitou ontem, 7, o Acampamento do Povo, integrado por manifestantes que se opõem à construção do projeto turístico residencial em terrenos de domínio público.

O projeto está sendo executado na entrada de Viejo San Juan e há meses provoca controvérsia na ilha. O Tribunal do Povo, em Laudo Interlocutório do dia 20 de agosto de 2007, afirmava que "essas construções estão sendo realizadas em terrenos de domínio público e avançaram ao mar mediante preenchimento, sem ter sido realizado em nenhum destes terrenos um deslinde total, cabal e confiável que permita determinar que tipo de proteção ambiental a área requer. Também não foi levado em consideração a jurisdição de cada agência administrativa encarregada de velar pela proteção dos diferentes recursos naturais, patrimoniais e culturais do povo de Porto Rico, segundo requerido por lei."

Recentemente, o secretário de Justiça, Roberto Sánchez Ramos, disse que esses terrenos são de domínio público porque foram ganhos de área onde antes chegava o mar.

“Na Coligação Ecumênica conversamos sobre este tema e há muita simpatia com esta causa. A liderança da Coligação se reunirá e tomará as decisões que sejam pertinentes em seu momento”, disse Vera.
O bispo foi enfático ao dizer que Passeio Caribe foi “construído ilegalmente para favorecer interesses alheios ao povo”. Afirmou que é preciso devolver ao povo o que é do povo. Ele chegou ao acampamento junto com pastores e fiéis da Igreja Metodista de Porto Rico, que cantaram e levaram doces aos manifestantes.
“Aqui há uma igreja que os apóia, respalda-os, e queremos dizer que sua causa é justa e nobre. Vocês não estão sozinhos”, assinalou.

De acordo com a decisão do governador Aníbal Acevedo Vilá, a Administração de Regulamentos e Permissões (ARPE) suspendeu as permissões de Passeio Caribe por 60 dias. Atualmente, o caso está sendo debatido nos tribunais, com data de audiência prevista para amanhã, 9 de janeiro.

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Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação

Declaran de “interés histórico” el templo metodista de Trinidad

En Uruguay, el Templo Metodista de la ciudad de Trinidad, fue declarado de “interés histórico” por el gobierno del Departamento de Flores

La decisión culminó la iniciativa surgida en la Comisión de Patrimonio Histórico que consideró la importancia de ese Templo, inaugurado en noviembre de 1896, siendo el primer templo de la IMU (Iglesia Metodista en el Uruguay) que se edificó en el interior del país.

La noticia fue “tapa” del diario Ecos Regionales, de la ciudad de Trinidad, cuya tirada llega a todo Flores y a los departamentos vecinos.

El gobierno del Departamento de Durazno tomó una medida similar al declarar de “interés histórico” el Templo Metodista de la ciudad de Durazno. La decisión fue dada a conocer por el Director del Museo Histórico Departamental, Oscar Padrón, en ocasión del Culto de Acción de Gracias por los 100 años de la construcción del Templo, en noviembre de 2007. En esa oportunidad el Intendente de Durazno, Carmelo Vidalín Aguirre, tuvo conceptuosas palabras sobre la labor metodista en el pasado y en la actualidad.

La Iglesia Metodista en Trinidad tiene una activa participación en instancias de servicio y cooperación en la sociedad, representada por su pastora, Ana María Barolín quien, entre otras instituciones, participa en la Intersindical e Intersocial Departamental.

Entre los varios ejemplos de esa acción comunitaria, vale mencionar que en el mes de noviembre de 2007, en las instalaciones de la Iglesia Metodista en Barrio Primavera, de Trinidad, se realizó la Exposición-Feria de los productos elaborados por los participantes de los cursos de Corte y Confección y Panificación, que se desarrollaron en ese lugar, bajo la coordinación del Programa SOCAT (Servicio de Orientación, Consulta y Articulación Territorial) con el apoyo del Gobierno de Flores a través del Departamento de Cultura.

El matutino Ecos Regionales amplió la información al detallar que ese proyecto “gira en la órbita del Programa Infamilia del Ministerio de Desarrollo Social que se dedica a ofrecer servicios de orientación, trabajando en cuestiones básicas, además de ser articuladores de los distintos servicios sociales para la infancia” y que “las prendas y productos alimenticios presentados fueron de excelente calidad”. Las actividades surgen a propuestas de los mismos vecinos que, además, crearon una Cooperativa Social como parte del objetivo de que los cursos provean una salida laboral.
El acta de constitución de la Iglesia Metodista en Trinidad está fechada el 7 de octubre de 1883, trece años antes de la construcción del Templo y cinco después de la iniciación de la IMU que en el 2008 cumple 130 años en Uruguay.+ (PE)

Fonte: ECUPRES - PreNot 7105 - 080111

Líderes religiosos oram pela reconciliação

NAIROBI, Kenia, Janeiro 10, 2008. Cerca de 50 líderes religiosos de comunidades cristãs e muçulmanas do bairro de Korogocho, da capital Nairobi, realizaram uma vigília de oração pela paz e a reconciliação nesta quarta-feira, 9, no campo desportivo da escola primária Ngunyumu.

Korogocho é um dos bairros periféricos da capital mais devastados pela violência que sacudiu diferentes partes do Quênia depois da divulgação do resultado das recentes eleições gerais. Em Korogocho, como em outras partes do país, a violência tomou um caráter tribal. No bairro, 18 pessoas foram mortas, centenas de residentes tiveram que fugir e várias propriedades destruídas.

Existe muita animosidade e desconfiança disseminadas entre as diferentes comunidades étnicas em Korogocho. Criminosos aproveitaram a situação de caos e saquearam lojas e departamentos comerciais. A região sofre com a escassez de alimentos, já que os transportadores de mantimentos não podem chegar ao único mercado que permanece aberto em Korogocho e arredores. Os preços dos produtos básicos e dos combustíveis triplicaram, perpetuando o sofrimento dos mais pobres.

Nos últimos dias, os religiosos, agrupados sob a bandeira da associação de líderes espirituais de Korogocho (KOSLA, a sigla em inglês), foram muito hábeis na criação de uma cultura de paz no bairro, favorecendo a redução do clima de tensão entre os moradores.

Foram organizados encontros de paz em diferentes setores de Korogocho. O encontro de oração da quarta-feira contou com a participação de embaixadores, de representantes da administração estadual, de religiosos e moradores vizinhos. Durante o evento, líderes religiosos divulgaram uma declaração conjunta intitulada “Procure a paz e segue-a!” (Salmo 34), dirigindo uma exortação aos políticos do Quênia.

Também fizeram um chamado à continuação da corrente de oração pela paz no Quênia e em todas as comunidades cristãs do mundo.

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Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação

Líderes religiosos oram pela reconciliação

NAIROBI, Kenia, Janeiro 10, 2008. Cerca de 50 líderes religiosos de comunidades cristãs e muçulmanas do bairro de Korogocho, da capital Nairobi, realizaram uma vigília de oração pela paz e a reconciliação nesta quarta-feira, 9, no campo desportivo da escola primária Ngunyumu.

Korogocho é um dos bairros periféricos da capital mais devastados pela violência que sacudiu diferentes partes do Quênia depois da divulgação do resultado das recentes eleições gerais. Em Korogocho, como em outras partes do país, a violência tomou um caráter tribal. No bairro, 18 pessoas foram mortas, centenas de residentes tiveram que fugir e várias propriedades destruídas.

Existe muita animosidade e desconfiança disseminadas entre as diferentes comunidades étnicas em Korogocho. Criminosos aproveitaram a situação de caos e saquearam lojas e departamentos comerciais. A região sofre com a escassez de alimentos, já que os transportadores de mantimentos não podem chegar ao único mercado que permanece aberto em Korogocho e arredores. Os preços dos produtos básicos e dos combustíveis triplicaram, perpetuando o sofrimento dos mais pobres.

Nos últimos dias, os religiosos, agrupados sob a bandeira da associação de líderes espirituais de Korogocho (KOSLA, a sigla em inglês), foram muito hábeis na criação de uma cultura de paz no bairro, favorecendo a redução do clima de tensão entre os moradores.

Foram organizados encontros de paz em diferentes setores de Korogocho. O encontro de oração da quarta-feira contou com a participação de embaixadores, de representantes da administração estadual, de religiosos e moradores vizinhos. Durante o evento, líderes religiosos divulgaram uma declaração conjunta intitulada “Procure a paz e segue-a!” (Salmo 34), dirigindo uma exortação aos políticos do Quênia.

Também fizeram um chamado à continuação da corrente de oração pela paz no Quênia e em todas as comunidades cristãs do mundo.


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Agência Latinoamericana e Caribenha de Comunicação

Igreja Valdense celebra 150 anos de fé e serviço no Rio da Prata

BUENOS AIRES, 11 de janeiro (ALC) - A Igreja Evangélica Valdense do Rio da Prata celebrará e recordará, em 2008, os 150 anos de presença em terras uruguaias e argentinas. As primeiras famílias de imigrantes provenientes do Piamonte, na Itália, membros da Igreja Evangélica Valdense, estabeleceram-se na região de La Paz, no departamento de Colônia. Chegaram outas levas, que se espalharam pelos dois países.

Os valdenses surgiram no século XII, no sul de França, como um movimento cristão que procurava a autenticidade do Evangelho através da pregação itinerante, o que lhes custou a separação da Igreja Católica Romana. Disseminaram-se pela Europa, sendo duramente perseguidos na França e na Itália, instalando-se com maior concentração nos vales alpinos de Piamonte, norte da Itália.

Conta a história que um homem, denominado pela tradição Valdo, comerciante de Lyon, converteu-se ao Evangelho por volta de 1174. Ele decidiu traduzir parte da Bíblia para a linguagem popular e começou a pregá-la ao povo sem ser sacerdote. Ao mesmo tempo, renunciou a sua atividade e aos bens, que repartiu entre os pobres. Valdo não deixou nada escrito, nem regras, nem ordens, limitando-se a viver a fé.

Esses "valdenses" eram leigos católicos que reivindicavam o direito de pregar o evangelho sem serem sacerdotes. Por isso, foram excomungados em 1184, começando a partir dali um tempo de perseguições, roubos, torturas, julgamentos, execuções e massacres. Para escapar de um extermínio total, refugiaram-se em uma zona montanhosa dos Alpes, conhecida até hoje como “vales Valdenses”.

Aderiram à Reforma Protestante em um Sínodo (assembléia), em 1532, deixando de ser movimento para transformar-se em Igreja Valdense. A partir deste momento construíram templos e aperfeiçoaram a teologia, sem deixar de sofrer perseguições. Esta situação perdurou até 1848, data da proclamação do edital de Emancipação, através do qual os valdenses acedem aos mesmos direitos civis e políticos de seus concidadãos. Esta nova situação permitiu, entre outros fatos importantes, a possibilidade de emigrarem, considerando as dificuldades econômicas ocasionadas pela superpopulação dos vales e os anos de colheita ruim.

Nestas condições, chegaram ao Rio da Prata em grupos, a partir de 1858, com o desejo de trabalho e a vontade de manter e estimular a formação cultural em um novo meio. Cedo vieram os pastores e os professores das novas gerações, que serão numerosas.

A Igreja Valdense foi se organizando e seguiu sendo uma só, representada num único Sínodo, que se reúne em duas sessões: Itália e Rio da Prata. Assim perdura até a atualidade.

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Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação

07 janeiro, 2008

O DESAFIO DA EVANGELIZAÇÃO: tomar Jesus Cristo como nosso modelo de evangelizador e missionário

O maior desafio que se coloca para a Igreja e para cada cristão é a evangelização, porque ela constitui sua vocação primordial, sua identidade mais profunda. Naturalmente, esse desafio implica em outros. Um é a convergência e a comunhão dos cristãos nessa tarefa. Outro é a fidelidade à verdade (ao conteúdo da evangelização), tal como Cristo a expôs, pois só a verdade nos torna livres – e a evangelização libertadora do homem perderia seu sentido se não a transmitisse integralmente.

Implica também no desafio de evangelizar com base em critérios autenticamente cristãos. Propor esses critérios em cada etapa da história constitui igualmente responsabilidade da Igreja, pois eles são indispensáveis para que a evangelização mantenha a sua verdade e sua identidade, seja libertadora e redentora – em suma, seja “seja cristã”.

Com tais orientações, saberemos estar realizando a ação própria de Jesus que se propaga hoje na Igreja e não qualquer atividade que se possa chamar precipitadamente de “evangelização”.

A evangelização, para ser cristã:
- deve transmitir a Jesus Cristo, Deus Salvador, e levar à adesão e ao seguimento;
- deve ser “encarnada”, ou seja, transformar os homens concretos, com sua história, sua cultura, suas aspirações, sua organização social – em suma, transformar o homem e sua realidade;
- dever ser integralmente libertadora: precisa transformar as pessoas, os grupos humanos, as famílias e as sociedades de egoístas em fraternais, de injustas e pecadoras em justas e conformes o Reino de Deus;
- deve se inspirar no seguimento de Jesus, nosso Modelo inclusive como o Evangelizador, como fonte de uma espiritualidade missionária.

Nós já conhecemos essas orientações e também sabemos usá-las bem na linguagem pastoral. Compreendemos que elas determinam a autenticidade e a credibilidade da evangelização, o seu ser cristão. Mas elas nos colocam angustiantes desafios.
- Como realizar a evangelização?
- Como levar o Evangelho a pessoas obstinadas e submersas em uma sociedade que idolatra o dinheiro, o poder e o prazer?
- Como levar o Reino de Deus a nossas sociedades exploradoras e injustas, a homens egoístas e divididos, a famílias destroçadas, a miseráveis e marginalizados e a minorias insensíveis?
- E um desafio ainda maior: como levar o Evangelho aos vastos setores culturais e ideológicos que consideram a religião desnecessária para a realização do homem, para sustentar sua moral, para trabalhar pela paz e a justiça?
- E mais: como fazê-lo, quando ideologias influentes proclamam a religião não só como inútil, mas também prejudicial à criação de uma sociedade justa e à libertação do homem?

Diante desses duros e complexos desafios, é possível experimentarmos a tentação da impotência e da desesperança. Temos a impressão de que o Reino de Deus sempre retrocede, que pregamos no deserto, que o mal e a injustiça são mais fortes do que o bem e a justiça. Ficamos sem saber como romper a crosta de uma realidade anti-evangélica e redimir tanto egoísmo e tanta exploração. Somos tentados de muitas maneiras a cair no conformismo, na pusilanimidade e na indiferença; a abandonar tudo ou substituir a evangelização por algo parecido com ela, mas que dê resultados imediatos, como o ativismo social, a política do poder, etc.

Por isso tudo, a esperança cristã – inseparável da audácia missionária e da criatividade – constitui o desafio fundamental da evangelização. Uma esperança que está arraigada em realidades que evidenciam a presença do Reino e não em meras utopias. Em fatos que realizam as promessas de Jesus e não em ilusões. Proclamar as razões da esperança é próprio do cristão, da mesma forma que constatar as sementes de esperança no mundo atual, como fruto da evangelização; os oásis de solidariedade e justiça em meio ao egoísmo e à exploração; a defesa da dignidade de cada pessoa em meio aos sectarismos e aos abusos da riqueza, do poder e da sexualidade; a persistência da fé em meio às perseguições; a consagração a Deus em meio aos materialismos; o fracasso das violências na criação de um mundo de paz e das ideologias materialistas (sem Deus) na construção de sociedades justas e fraternas e na libertação do homem (como reedições da torre de Babel no mundo atual).

Por isso, precisamos encarar a evangelização a partir da perspectiva de Jesus e de sua prática evangelizadora. Evangelização é colaborar e seguir a Cristo evangelizador ou então não é nada. A Missão nasce da fé e do amor a Jesus e é motivada pela esperança em sua causa ou então é realmente e apenas uma “missão impossível”.


ESPIRITUALIDADE E MISSÃO
Evangelizar é seguir o Cristo evangelizador e redentor de seus irmãos em uma sociedade pecadora. Como toda forma de seguimento, a evangelização gera uma espiritualidade. A evangelização cristã deve estar animada por uma mística, uma espiritualidade que nos identifique com a missão de Jesus e constitua a sua motivação mais radical dentro de nós. A espiritualidade da Missão é a própria Missão, com seus critérios, atitudes e opções, animados pelo espírito de Jesus. Missão e espiritualidade são elementos coerentes e inseparáveis, como alma e corpo.

Esse enraizamento no seguimento de Jesus é o único fator capaz de criar na evangelização o “dinamismo voltado para a Missão”, do qual a evangelização necessita tão desesperadamente hoje em dia e sem o qual, como já dissemos, não pode ser plenamente cristã.

Por “dinamismo missionário” entendemos que a evangelização deve privilegiar os setores mais necessitados, descristianizados e socialmente periférico. Deve buscar a ovelha perdida com prioridade em relação às noventa e nove fiéis (Lc 15:1ss), deve procurar e salvar o que está perdido (Lc 19:10), deve chamar os doentes e pecadores e não tanto os justos e sadios (Mt 9:12-13). A evangelização deve ir além das fronteiras da Igreja. A tônica missionária deve nos precaver contra uma evangelização que se consuma entre os já convertidos, os praticantes.

Assim, se o caráter missionário é essencial para a evangelização cristã, então ela deve assumir opções. Fazer opções faz parte da espiritualidade e dos critérios cristãos da evangelização, na medida em que são as opções de Cristo.

Mas que opções são essenciais para a evangelização? Que critérios são inseparáveis de seu ser cristão? Que espírito e atitudes deve ter o evangelizador para se identificar com Cristo missionário?

Responder a essas perguntas em nossa vida significa evangelizar como Jesus evangelizou. Fora dele e de sua prática missionária não se pode encontrar uma resposta.


O CRISTO EM QUE CREMOS, QUE SEGUIMOS E QUE TRANSMITIMOS
Aprioristicamente, não se pode saber o que é evangelização, qual é o seu conteúdo, quais seus critérios de ação ou que exigências ela implica para o evangelizador. Só podemos sair da obscuridade quando olhamos, contemplamos e aprendemos com Jesus Cristo seus critérios, orientações e atitudes, tal como o Evangelho nos revela e a fé da Igreja nos transmite.

Nossa fé e nosso conhecimento de Cristo são essenciais e decisivos para a evangelização, já que sua mensagem central gira em torno de Cristo – e o que o evangelizador faz é transmitir a imagem e a idéia de Cristo que ele próprio tem, com os critérios, as orientações e as exigências que elas implicam. E isso nos leva a uma constatação problemática: conforme a imagem de Cristo que o missionário tenha, a evangelização terá ou não implicações sócio-políticas, será ou não socialmente libertadora, exigirá ou não uma mudança pessoal de vida, será ou não missionária e encarnada nas culturas, se vinculará ou não com as esperanças humanas.

Perguntar em que Cristo cremos e que Cristo anunciamos na evangelização significa colocar mais uma vez a questão da relação entre missão e espiritualidade. É impossível evangelizar como Jesus se não seguimos o verdadeiro Jesus.

Seguir o Jesus dos Evangelhos – aí reside o desafio do evangelizador. Para seguir os critérios, as opções e as atitudes de Jesus na evangelização, não temos outro guia senão a fé da Igreja. E essa fé nos remete constantemente ao Evangelho.

Podemos para isso, por exemplo, seguir o ensinamento das bem-aventuranças. Não porque esse seja o único caminho, mas porque nelas encontramos a melhor síntese da espiritualidade cristã e da missão. Ao mesmo tempo, as bem-aventuranças nos revelam a verdadeira face do Jesus evangelizador que queremos seguir e transmitir.

AS BEM-AVENTURANÇAS: EVANGELIZAR COMO JESUS
Já se sabe que o Sermão da Montanha constitui o elemento mais representativo do Evangelho, a sua mensagem central. E que as bem-aventuranças são a síntese do Sermão da Montanha. Elas não só introduzem o célebre discurso de Jesus, como também o resumem: uma boa parte do discurso representa uma elaboração e uma aplicação daquilo que Jesus afirma de modo sumário nas bem-aventuranças.

As bem-aventuranças constituem ao mesmo tempo uma promessa e uma exigência de Jesus aos seus discípulos. A promessa constante de cada bem-aventurança é a dos valores do Reino e a da felicidade que este traz consigo. Mas, como todas as promessas de Jesus, a das bem-aventuranças só alcançará sua plenitude no Reino definitivo e só então a felicidade não terá sombras a empaná-la. No entanto, também como todas as promessas de Jesus, a das bem-aventuranças começa a realizar-se já, aqui e agora, limitadamente, mas como uma verdadeira antecipação do Reino.

Cada bem-aventurança representa igualmente uma exigência de Jesus aos discípulos: é o caminho traçado por Jesus para que eles participem do Reino já agora, façam-se seus seguidores e alcancem a autêntica felicidade. A promessa, o seguimento e a felicidade são fruto das bem-aventuranças e, assim, são inseparáveis.

A mensagem das bem-aventuranças são se dirige a qualquer pessoa, mas especificamente aos discípulos. E não somente a qualquer discípulo, mas àqueles que fazem parte de certa categoria de pessoas (conforme afirma o Evangelho de Lucas) ou que vivem certas atitudes (conforme afirma o Evangelho de Mateus). Contudo, participar das bem-aventuranças de Jesus não significa já estar salvo. Significa que Deus os considera “bem-aventurados”, oferece-lhes e dedica-lhes o Reino e os conclama a seguir por esse caminho. Além disso, promete-lhes a felicidade aqui e no futuro, uma felicidade diferente, que não provém do “mundo” mas sim do seu seguimento.

No entanto, seria insuficiente conceber as bem-aventuras tão somente como um caminho de espiritualidade evangélica. A mensagem das bem-aventuranças são é somente, nem mesmo principalmente, sobre o homem e sua perfeição. Ela é sobretudo uma mensagem sobre Cristo e seu Reino. Ela nos revela como Deus é e não apenas como deve ser o homem. Ensina como é o Reino de Deus e não apenas o que tem de fazer o homem para entrar nesse Reino.

Assim, podemos dizer que as bem-aventuranças aplicam-se em primeiro lugar a Cristo, que Jesus é o único bem-aventurado e que em Jesus as bem-aventuranças não são um código abstrato de espiritualidade, mas sim a expressão de sua experiência do Reino e de sua vida interior. As bem-aventuranças nos revelam a verdadeira fisionomia de Cristo, seus critérios, suas atitudes e seus amores.

Tudo isso faz das bem-aventuranças o guia indispensável da evangelização, fiel à verdade sobre Jesus, fiel à verdade sobre o Reino, fiel à imitação de Cristo evangelizador. As bem-aventuranças nos revelam a evangelização com os olhos de Jesus.

Os evangelhos nos apresentam duas versões das bem-aventuranças: a de Lucas e a de Mateus. Mateus registra oito bem-aventuranças. Lucas apresenta apenas quatro, seguidas porém de quatro “ais”, as maldições, que não são encontradas em Mateus. Isso, entretanto, não constitui a diferença principal entre as duas versões. A diferença é mais profunda e global: os evangelistas referem-se a coisas diferentes e suas bem-aventuranças correspondem a preocupações e propósitos diversos. Aparentemente, os dois evangelistas relatam o mesmo, embora com estilos diferentes e com palavras que ora se parecem, ora são diferentes. Todavia, a verdade é que as duas séries de bem-aventuranças são distintas e irredutíveis em seu conteúdo –à exceção da última série (tanto em Lucas quanto em Mateus), a bem-aventurança da perseguição.

Contudo, as duas versões são coerentes e complementares. Qualquer estudo ou meditação sobre a mensagem das bem-aventuranças tem que abordar a coerência e complementaridade de sua mensagem.

Em síntese, Lucas nos mostra “quem” é bem aventurado, para Cristo e para o seu Reino, destacando certas categorias de pessoas: diz quem é objetivamente bem-aventurado (ou “desventurado”) segundo o Reino, mesmo antes de considerar sua situação moral. Já Mateus nos diz “como” se consegue ser bem-aventurado, assinalando as condições para seguir a Jesus e participar de seu Reino e, portanto, referindo-se a todas as categorias de pessoas.

Tanto Lucas como Mateus, cada qual a partir de seu ponto de vista, nos ensinam, complementando-se, que condições deve ter a evangelização para ser autêntica, crível e cristã. Indicam-nos o caminho para evangelizar como Jesus e nos inculcam os critérios, as opções fundamentais e as atitudes próprias do evangelizador.

As bem-aventuranças de Jesus (“quem” é bem-aventurado segundo a natureza e a orientação do Reino de Deus) nos revelam precisamente as predileções e opções do Reino (que são as de Cristo), indicando-nos, portanto as opções e orientações objetivas da evangelização, como atividade da Igreja que promove o Reino segundo Jesus.

Já as bem-aventuranças de Mateus (“como” as pessoas se tornam bem-aventuradas) colocam-nos as exigências e atitudes que devemos cultivar para imitar Jesus como evangelizador, indicando-nos as atitudes de Jesus, que seus seguidores, também devem ter. Revelando-nos a espiritualidade do evangelizador na linha de Cristo, relacionam-se com a evangelização como testemunho de vida.

Se Lucas nos ajuda a compreender as grandes orientações e opções da Missão, Mateus nos ensina as atitudes próprias da testemunha do Evangelho. E ambas as dimensões têm sua fonte e modelo em Jesus, único bem-aventurado e único evangelizador.

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Texto de Segundo Galilea "adaptado" à uma linguagem mais protestante. O texto foi extraído das páginas 7 a 22 do livro "Espiritualidade da Evangelização segundo as bem-aventuranças", publicado em 1980 pelas Edições Paulinas. O livro está esgotado há uns 10 anos e não foi republicado desde então.

América Latina vive democracias com resultados desiguais: continente rumou na direção de sociedades abertas e economia global.

Juan Bautista Alberdi, constitucionalista e liberal argentino, observou em 1837 que as "Nações, como os homens, não têm asas: percorrem o caminho a pé, passo a passo". A América Latina, há muito suscetível a vislumbres utópicos de revolucionários e caudilhos, e que até hoje não está imune a essas figuras, lutou para incorporar essa verdade. Contudo, como Michael Reid observa em seu novo livro "Forgotten Continent" (continente esquecido), surgiram democracias de massa duradouras em toda a região.


Nos últimos anos, essas democracias lançaram os dados com uma variedade extraordinária de líderes, incluindo Michelle Bachelet no Chile, Luiz Inácio Lula da Silva, o metalúrgico que alcançou a presidência do Brasil, e o militar venezuelano Hugo Chavez.


Os resultados são desiguais. Chavez testou a paciência de todos com sua bazófia de revolução socialista nutrida pelo petróleo. Mas com passos prosaicos, um após o outro, o continente rumou na direção de sociedades abertas e economia global.


O progresso chegou apesar das desigualdades brutais de renda, que transformaram cidades como São Paulo em labirintos de riqueza e pobreza. A improvável ascensão de Lula refletiu a esperança de que esses abismos sociais pudessem ser estreitados, assim como o sucesso inicial de Barack Obama e Mike Huckabee reflete a avidez da sociedade por mudanças e o cansaço da população dos titãs do fundo hedge se esquivando dos impostos pagos pelo cidadão comum.


Democracia e esperança
Enquanto seguem a jornada a pé, os países também sonham. As democracias são criativas e avessas à concessão. São muitas as suas imperfeições, mas também são muitos os mecanismos de auto-renovação. Esperança é imprescindível. A dinâmica, com o passar do tempo, supera o dinástico.


A jornada brasileira foi muitas vezes hesitante, dando margem à panacéia de que se tratava de um país com um grande futuro condenado à eterna contemplação. Os índices anuais de homicídios, na casa das dezenas de milhares, indicam os contínuos problemas sociais. Tom Jobim, que compôs "A Garota de Ipanema", lembrou que o Brasil não é para iniciantes.


Mesmo assim, como Lula havia previsto com seu perspicaz pragmatismo – quem mais é amigo de Chavez e do presidente Bush? – a maré está a favor deste país. O futuro do Brasil é agora e por cinco motivos: terra, matéria-prima, energia, meio-ambiente e China.


Território agrícola
Vastidão é o que define o Brasil. O uso agrícola de seu território está longe de atingir a exaustão. Tendo alcançado a posição de maior exportador de café, carne, açúcar e suco de laranja do mundo, vem aumentando rapidamente as exportações de outros produtos alimentícios, inclusive frango (equivalente a US$ 4,2 bilhões em 2007, comparados com US$ 2,9 bilhões em 2006) e soja. Mais de 90 milhões de hectares, uma área maior do que a que se encontra em cultivo no momento, seguem inexplorados fora das florestas tropicais.


Outro produto cuja exportação cresce rapidamente é o minério de ferro. A China, que está investindo pesado no Brasil, quer tudo que conseguir obter, na mesma proporção em que se interessa por alimentos (como a Índia) e energia. Esta abunda no Brasil e ainda pode se expandir muito mais.


Basta pensarmos nos vastos recursos hidrelétricos do Brasil e na sua recente descoberta de um enorme poço de petróleo de águas profundas na costa sudeste. A longo prazo, o importante será a sua liderança mundial na área de combustíveis de origem vegetal, sobretudo o etanol de cana-de-açúcar, que produz oito vezes mais energia por hectare do que o milho do qual se extrai a maior parte do etanol dos EUA.


Somando isso à quantidade quase ilimitada de terras agricultáveis, temos em foco a importante mudança do futuro para o presente no Brasil. Como escreve Reid: "Se a China se transformar na fábrica do mundo e a Índia em seu departamento administrativo, o Brasil será a sua fazenda, e possível centro de serviços ambientais." A liderança do país em combustíveis não fósseis e a incomparável biodiversidade da floresta amazônica fazem dele um líder natural na luta do século XXI contra o aquecimento global.


Transformação subestimada
Nenhum item citado anteriormente seria significativo se o Brasil fosse instável. Mas, como a maioria do continente, o país se tornou mais previsível. A China percebeu isso e está rapidamente ampliando suas relações comerciais com o Brasil e outros países da América Latina. Os Estados Unidos também tentaram obter uma série de acordos de livre comércio, com resultados variáveis.


De modo geral, porém, permeia o continente a sensação de negligência dos americanos, agravada pela promessa não cumprida de Bush feita antes do 11 de setembro de que seria dado um novo foco que refletiria a presença de mais de 40 milhões de latinos nos Estados Unidos. O próximo presidente deve priorizar a atenção ao sul, considerando o Brasil como pivô de relações mais aprofundadas.


A transformação da América Latina nas últimas décadas foi subestimada. Foi política e econômica, mas também cultural. O preconceito enraizado contra populações indígenas, mestiças e mulatas foi confrontado e, se não eliminado, pelo menos diminuído. Em termos históricos, foi um período de fortalecimento àqueles de pele escura. As Américas estão mudando e, apesar da retórica antiianque de Chavez, estão se tornando, passo a passo, mais unidas.

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Notícia:
Roger Cohen, Do New York Times, no G1.
Endereço: http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL248728-9356,00-AMERICA+LATINA+VIVE+DEMOCRACIAS+COM+RESULTADOS+DESIGUAIS.html

Tradução: Cláudia Freire