12 agosto, 2006

Meditação Diária - 13 de agosto

O Direito da Crítica Positiva

Amós 3.3-8

Há pessoas que reprovam a Igreja por intrometer-se em áreas que estão fora de sua competência, quando fala de questões sociais e econômicas. O/A clérigo/a que se aventura a externar suas idéias sobre tais matérias, dele/a se diz que deveria "permanecer no púlpito". Daí se conclui que assuntos sociais e econômicos não devem ser discutidos do púlpito.

Pode-se admitir com sinceridade que a Igreja, como tal, não está qualificada a pronunciar qualquer juízo em referência a problemas técnicos, econômicos e sociais. Nem é da competência dos/as clérigos/as como tais interessar-se por esses problemas (há, naturalmente, muitos/as pastores/as que são também experimentados/as economistas, sociólogos/as etc., e não menos competentes que seus/suas colegas leigos/as para emitir opiniões acerca dessas matérias; mas não falam então como pastores/as.

Entretanto, a Igreja é competente, e o são igualmente seus/suas ministros/as, sensibilizados/as como deveriam ser por seus compromissos teológicos, para reconhecer uma injustiça. Quem percorre as lamentacentas vielas de um mocambo do Recife, uma favela do Rio, ou um apinhado cortiço de Lima, não precisa ser um/a experimentado/a economista ou um/a cientista da sociedade para reconhecer a injustiça social que pesa em cima de tal miséria. Um sistema que, produzindo para alguns muita riqueza, povoa os cortiços do mundo com milhões de necssitados/as, é evidentemente injusto, e a Igreja está agindo corretamente ao condená-lo, como fez no caso do capitalismo do laissez-faire. Cabe aos técnicos dizer que fatores no sistema são responsáveis por tais conseqüências injustas e que mudanças devem ser feitas no sentido de suprimi-los.

Meditação: Quais são as injustiças que existem em nossa vizinhança? Como podemos ser agentes proféticas nessas situações?

Adaptado do: Leitura Cotidiana da Bíblia - Edição Ecumênica - CMI.
Contribuição de Stephen e Maria Newnum - Maringá, PR.

Os donos do céu

Não é preciso muito para concluir que a briga entre algumas religiões é pela escritura do céu. Especialmente entre as religiões cristãs, há uma concepção egocêntrica de que o céu pertence a um grupo de proprietários. Essa idéia seria cômica se não fosse trágica.

Cômica porque simboliza o cúmulo da prepotência de grupos que sem nenhum embaraço ou senso do ridículo assumem o lugar de Deus. Trágica porque os que se nutrem dessas crenças, proliferam o ódio entre os seres humanos feitos, todos e todas à imagem e semelhança de Deus, como diz as Escrituras, livro sagrado que os cristãos dizem seguir.

O ódio espalhado pelos donos do céu deixou e tem deixado um rastro de sangue em toda a história da humanidade. Pela grandeza que muitos que pagaram com a vida hoje é possível a liberdade de culto em tantos países do mundo. Noutros o sacrifício dos mártires foram soterrados pelo extremismo religioso.

No Brasil onde a conquista da liberdade de culto também foi assinada com sangue, basta a proposta de um evento ecumênico ou inter-religioso para se notar o vigor dos proprietários do céu. Eles ignoram a história dos mártires e com os egos inflados assumem o trono do Altíssimo; aquele cujo filho antes de sua morte avisou: “Na casa de meu pai há muitas moradas vou preparar-lhes lugar”.

Há uma piada contada entre metodistas: São Pedro estava mostrando as dependências do céu a um grupo eclético de religiosos. Ao passar por uma porta grande, São Pedro diz: “Por favor, muito silêncio, é que aí estão os metodistas e eles ainda pensam que são os únicos aqui”.

Em No mesmo Barco p. 22, o pastor metodista Helerson Bastos Rodrigues, resgata uma importante vertente do pensamento de John Wesley, fundador do movimento metodista, expresso em A Bíblia revela a missão do leigo, p. 79, um dos documentos orientadores da Igreja metodista do Brasil que diz: “Para Wesley, o essencial é ser convertido e, portanto estar devotado inteiramente a Deus. O resto, ainda que importante, é secundário. (...) O sectarismo não tem lugar no seio do Metodismo. Deus o levantou para a conversão de almas e não para fazer metodistas. Ao invés de perturbar às demais confissões, espalhando a cizânia ou arrebanhando-lhes membros, busca ajudá-las e alegra-se com o seu progresso. O metodismo é ecumênico por excelência, e por isso Deus o comissionou para aproximar os cristãos das diversas denominações uns com os outros, e todas entre si”. Por desconhecer o pensamento de seu fundador, não são poucos metodistas que se acham donos do céu.

O conceito de propriedade no contexto religioso é um perigo porque se nutre do equívoco sobre as diversas religiões, que em suma, carregam em suas entranhas o princípio de paz e amor entre as pessoas. Por outro lado, esse conceito tira de foco o objeto primário do “Deus” ao qual se deveria reverenciar e estabelece como centrais, elementos secundários tais como práticas religiosas dogmas e interpretações pessoais; sujeitas a toda sorte de preconceitos e ignorâncias, próprias do caráter humano.

O que deveria ser ultrajante para os donos do céu é que apesar do número crescente de seguidores entre as diversas religiões, haja ainda pessoas morrendo de fome, frio e guerras respaldas pelos donos do céu espalhados por esse mundo tenebroso.

Pela escritura do céu uns morrem, outros matam e muitos se calam...
Resta a pergunta: Qual a relevância de certas religiões para o mundo hoje?
___________
Maria Newnum é teóloga, pedagoga, mestre em teologia prática e vice-presidente do Movimento Ecumênico de Maringá
Para comentar ou ler outros artigos acesse: http://br.groups.yahoo.com/group/LittleThinks/
Outros artigos de Maria em http://www.maringanews.com.br/

Meditação Diária - 12 de agosto

Amós 3.1-2

Sempre se considerou o dar esmola com obrigação de caridade cristã. (Não devemos, porém, supor seja isso uma prática exclusivamente cristã. Praticaram-na largamente os muçulmanos, budistas, hindus, judeus, etc. Na realidade, outros/as a têm em alta estima, pelo menos tanto quanto os/as cristãos/ãs). Por essa razão, tem sido geralmente catalogada como ato de caridade a assistência ao pobre.

Torna-se hoje cada vez mais importante considerar a esmola como ato não de caridade, mas de justiça. Infelizmente, a palavra caridade caiu em descrédito. Isso foi muito ruim, porque é uma boa palavra que significa amor. Dar aos pobres por caridade não deveria significar ato paternalista ou filantrópico, mas ato de amor. Contudo, seja como for, o auxílio aos pobres, quer às nações pobres, é uma exigência não só da caridade mas também da justiça.

A justiça é a virtude que requer que demos aos/às outros/as aquilo que lhes é devido. A pobreza que a maioria dos/as indivíduos/as experimenta hoje resulta do fato de estarem privados/as daquilo que por direito lhes pertence. Poucas pessoas há, relativamente, cuja pobreza se deve apenas à sua indolência. E mesmo em referência àqueles/as que podemos considerar indolentes, sabe-se hoje muito bem que, na maioria dos casos, isso é conseqüência de fatores sobre os quais eles/as não têm controle. Já foi cientificamente provado, por exemplo, que aqueles/as que na sua primeira infância foram mal nutridos/as - e hoje existe milhões de crianças em tal situação - jamais possuirão as energias físicas necessárias para uma vida ativa e eficaz.

Todos os antigos pais da Igreja, baseados em Gênesis, ensinaram que Deus fez as coisas boas da terra para uso de todos. A justiça concorda com isso.

Meditação: Como expressamos a caridade cristã hoje? É somente para aqueles/as são merecedores, ou é o dom gratúito que expressa a graça de Deus para com todos e todas?

Adaptado do: Leitura Cotidiana da Bíblia - Edição Ecumênica - CMI.
Contribuição de Stephen e Maria Newnum - Maringá, PR.

11 agosto, 2006

Nem remendos nem gambiarras

"Quem mói no asp'ro não fantaseia." (João Guimarães Rosa)

Vou lendo tudo. Tentando escutar os muitos lugares, as muitas vozes.

Existe o acontecimento, como fato. Existem as falas sobre o acontecimento.
Declarações. Comunicados. Entrevistas. Pronunciamentos... quase temos a impressão que estamos lidando com textos, com idéias. Intertextos. Metatextos.[1]
O que Wesley disse. O que Wesley diria.
O que os cânones dizem. Os textos bíblicos.
Mas estamos diante de um fato, de um acontecido e sua materialidade.
O acontecimento precisa ser percebido na história, por dentro dos conflitos sociais e seus desdobramentos concretos. Uma decisão Conciliar é um discurso antecipado de práticas políticas e teológicas, por mecanismos de ajuste das relações internas de poder, de influência e de trocas (econômicas e simbólicas).
O problema aqui não são as idéias e o conceito de ecumenismo
As idéias não têm história. – apesar de ser possível uma história das idéias!! - a força impulsionadora da história não são de novo as idéias, e sim a história material, suas práticas e simbólicas.
Nosso problema é real! acontecido! acontecente! Áspero.
A igreja metodista não é ecumênica. No Brasil, não é!
Deixou de ser faz tempo!
Precisamos encarar as práticas e as relações sociais de poder entre nós. Sem fantasia sobre nós mesmos.
Todos e todas aqui neste blog não expressamos a materialidade da presença da
Igreja Metodista no tecido social brasileiro. Somos minoria até bem pouco... silenciosa.
Nossas comunidades estão vincadas pelo senso comum da cultura evangélica de
consumo que é anti-ecumênica e proselitista. Na minha opinião esta cultura responde à demandas específicas do metabolismo social brasileiro e latino-americano e deve ser entendido por dentro deste complexo.
O ecumenismo não é uma idéia é uma presença crítica e recriadora do cristianismo que desiste de ser reserva moral dos poderes de plantão. A prática do ecumenismo exige a crítica da cristandade como orgulho-de-si e desejo-de-poder.
Anti-ecumênicos não estão dispostos à pluralidade, à diversidade, ao multiculturalismo e ao diálogo. Anti-ecumênicos são fundamentalistas, proselitistas, unívocos e intolerantes. Anti-ecumênicos são pessoas cansadas de ter coragem.

A tolerância não exige tolerância de valores, nem atitude cética diante da verdade. Ao contrário, requer uma referência certa aos direitos humanos, como norma e padrão das condutas: direito à vida, à integridade física, à igualdade de oportunidades etc. Há, portanto, limites para a tolerância. Sem o respeito à vida, à liberdade dos outros, a seus direitos humanos fundamentais, a tolerância pode esvaziar-se. (Prof.Faustino Teixeira)

Este é o nosso problema! Este é o acontecido! Esta é a Igreja Metodista no Brasil!
Nem remendos... nem gambiarras! O que precisamos agora é nascer de novo.
É na história e nos conflitos históricos que o metodismo mais uma vez vai testar seus materiais e suas relações e descobrir se tornou-se irrelevante, insensível, opressivo e insípido (como no texto de José Carlos Barbosa) ou se ainda pode se re-inventar crítica e criativamente junto às forças vivas da sociedade.

Temos pela frente um longo caminho de testemunho e enfrentamento, não de palavras, mas de práticas ecumênicas e populares, de uma espiritualidade libertadora, plena de misericórdia e conflito. E de reflexão teórica que ultrapasse as belas palavras do "meu velho baú metodista" e que coloque pra funcionar as possibilidades interpretivas e operativas que vão nos ajudar numa práxis de re-inserção do metodismo brasileiro. Reinserção no que? na disputa eclesial-eclesiástica? Qual é o projeto? O que nos move? recontar votos? dar uma melhorada nos pronunciamentos?

Conviver com a intolerância? permissão para continuar sendo metodista envergonhado?
Nem remendos de pano novo em roupa velha, nem vinho novo em barril velho (Mateus 9, 16 e 17).

Eu gostaria de começar a moer no áspero... sem fantasia!

[1] Wilson Gomes, Verdade e Perspectiva, http://www.facom.ufba.br/etica/txts/verdade.pdf

Nancy Cardoso Pereira
Pastora Metodista
Coordenação Nacional da Comissão Pastoral da Terra
www.cptnac.com.br
(51)9865-6055
Porto Alegre - RS

E agora, o que fazemos com essa lição?

Obs.: Trata-se de uma lição da revista Cruz de Malta, exemplar do 2º semestre de 2006, que já está em distribuição às igrejas locais.

Revista Cruz de Malta
Unidade 4 – Metodismo
Lição – 19
Título: O dono da bola
Texto bíblico: 2 Reis 10.15,16


(exemplar do professor/a)

Objetivo da lição

Demonstrar que é parte da identidade metodista respeitar as opiniões alheias.

Para início de conversa

O título da lição de hoje faz referência a uma figura bastante conhecida da infância da maioria das pessoas: o dono da bola, aquele que dita as regras do jogo, que determina os movimentos, que acha que é o único que tem razão e, se algo sai diferente da sua vontade, simplesmente pega a bola e vai embora não se importando com quem quer que seja.

Independente da idade, cada um de nós, muitas vezes, age como se fosse o "dono da bola" achando que é o centro do mundo. Gostamos de pensar que o mundo gira ao nosso redor e estão todos/as a nosso serviço.

Isso acontece também no que se refere à religião: é grande a tentação de considerar correta apenas a nossa prática religiosa julgando todas as posturas diferentes da nossa como erradas quando não "demoníacas". Essa forma de pensar, pedante, petulante e arrogante, além de revelar imaturidade, não deixa espaço para o diálogo que é uma das marcas do Metodismo e se apresenta como postura mais do que necessária nos dias de hoje.

Esta lição pretende contribuir para que os alunos/as reflitam sobre o "jeito metodista"de se relacionar com outras confissões lembrando que respeitar (o que está acima de tudo) não significa aceitar ou concordar assim como dialogar não significa impor ou determinar.

Desenvolvimento da aula

Depois de orar, exponha em poucas palavras o significado do título da lição. Deixe que 2 ou 3 alunos/as repartam com a classe momentos ou situações em que, no dia-a-dia, experimentam a realidade do "dono da bola". Para incentivar a participação, explique que muitas vezes as pessoas não são assim mas agem dessa forma em determinados momentos como, por exemplo, quando exigem que suas opiniões, ao invés de serem apenas respeitadas, sejam seguidas como ordens. Se e quando contrariado/a, o dono ou a dona da bola em geral diz algo como "Se não for do meu jeito, não brinco mais!" Isso pode acontecer entre casais, entre amigos, colegas de trabalho, irmãos e irmãs na igreja...

Escreva no quadro de giz as palavras RESPEITO e TOLERÂNCIA afirmando se tratar de sinais de maturidade no sentido de que pessoas imaturas são aquelas que ainda estão em formação, que não têm definidas para si mesmas a sua identidade. Daí a negativa ou distância que preferem manter do diálogo. Vêem o diálogo como algo perigoso à sua identidade. Não se dão conta de que dialogar não significa necessariamente concordar mas ouvir e expor e não "impor e fechar os ouvidos".

Deixe que a classe converse sobre as questões relacionadas na revista do aluno/a lembrando que assim como no dia-a-dia, é possível, sim, conviver e dialogar com aqueles/as que pensam diferente de nós em nome de algo maior. Dê o exemplo de torcedores de times rivais que se encontram para assistirem juntos a um jogo da Seleção Brasileira na Copa do Mundo. Nem um deles deixa de ser corinthiano, flamenguista ou cruzeirense por estar assistindo à Copa ao lado do rival. O que os une (no caso, o time do Brasil) é maior e mais importante que o que os separa (seus "times do coração").

Para mantermos o exemplo na área do futebol, assunto comum à maioria dos brasileiros/as, lembre que o objetivo do encontro (no exemplo citado acima) não é convencer o outro a mudar de time mas apreciar juntos algo que lhes é comum apesar das diferenças de opiniões.

Para haver encontro (diálogo) de torcedores, há que se ter torcedores de times diferentes. Nada mais contrário ao diálogo que a pretensão de unificar, uniformizar. Como imaginar um "diálogo entre torcidas" se todos torcem pelo mesmo time? Na mesma linha, como imaginar uma bela salada de frutas se só se tem um tipo de fruta?

No episódio do Pentecostes, o Espírito Santo não fez com que todos falassem e entendessem uma mesma língua; ao contrário, o texto bíblico afirma que cada um entendia o que os discípulos falavam em sua própria língua de origem. Podemos afirmar, então, que foi vontade de Deus manter as características culturais (a linguagem faz parte da cultura) de cada povo.

Leve para a classe o sermão nº 38 de João Wesley, Advertência contra o Sectarismo. Se a biblioteca da sua igreja não possuir os Sermões de Wesley, seu pastor ou pastora provavelmente terá.

Para terminar

Providencie cópias da letra do cântico abaixo para todos/as. Depois de analisar e discutir o conteúdo, encerre a aula cantando e orando.

Eu sei que foi pago um alto preço
Para que contigo eu fosse "um", meu irmão
Quando Jesus derramou a sua vida
Ele pensava em mim, Ele pensava em ti,
Pensava em nós.


E nos via redimidos por seu sangue
Lutando o bom combate do Senhor
Lado a lado trabalhando, Sua igreja edificando
E rompendo as barreiras pelo amor


E na força do Espírito Santo
Nós proclamamos aqui
Que pagaremos o preço
De sermos um só coração no Senhor
E por mais que as trevas militem e nos tentem separar
Com os nossos olhos em Cristo
Unidos iremos andar



(exemplar do aluno/a)

A lição de hoje trata do tema da tolerância como parte da identidade metodista.

Para começar, precisamos nos lembrar de que essa é uma palavra dos tempos modernos. Isso porque a organização social e religiosa dos períodos que antecederam a modernidade não "necessitava" assumir uma postura de tolerância: cabia a um poder central estabelecer as normas, os valores e as virtudes que deveriam ser praticadas por todos/as. Foi assim na Idade Meia e em outros períodos da história.

Nos tempos modernos, com o desenvolvimento do conceito de indivíduo, que enfatiza a liberdade de cada pessoa de fazer escolhas ou tomar decisões, a palavra ou, o valor "tolerância" passa a ocupar lugar de extrema importância.

Por não mais estarem sujeitas a um poder central que determina suas ações, as pessoas passam a se unir em torno de propostas e projetos que lhes parecem razoáveis. Assim, tolerância e democracia caminham lado a lado o que pressupõe respeito à opinião de cada pessoa e predisposição de viver numa sociedade em que há diversidade de crenças e de pontos de vista. Tolerância é o elemento que torna possível a vida neste tipo de sociedade.

É necessário explicar que tolerância não significa concordância. Tem a ver com a capacidade de conviver, de respeitar opiniões divergentes estando sempre aberto ao diálogo respeitoso. Essa é a postura metodista, principalmente no que se refere às convicções religiosas.

O esforço empregado por Wesley para que o movimento metodista não se afastasse da Igreja Anglicana, entendendo que a divisão não era necessária, expõe uma marca preponderante do metodismo: a de buscar o entendimento, a conciliação como sinal da ação do Espírito na vida do seu povo. É próprio do metodismo histórico a disposição de praticar uma fé consciente, de princípios bem fundamentados e prática cidadã coerente, porém, com postura de respeito às opiniões diferentes.

Converse com seus colegas de classe sobre as questões abaixo relacionadas:
  1. Você convive com pessoas que pensam de forma diferente de você? Sobre que tipo de coisas vocês divergem? Time de futebol, cor preferida, alimentos, gosto musical, modo de se vestir?
  2. Se pensam de forma tão diferente, por que continuam juntos? Será porque existe algo maior que a diferença que os separam provocando tal união como o amor de um casal, o objetivo final de uma equipe, o salário no fim do mês etc.

Vida disciplinada, mas democrática

Embora defensores de uma vida cristã disciplinada (que cumpre as orientações do Evangelho e das normas doutrinárias), nossa perspectiva é a de que as práticas importantes e fundamentais em determinado contexto podem, ao mesmo tempo, serem consideradas irrelevantes em outro; isto é, entendemos que, no exercício da fé, existem algumas coisas que são centrais das quais não podemos abrir mão e outras que não devem tomar esse lugar central. Assim, a visão metodista é: "No essencial, unidade; no não-essencial, liberdade; em tudo, amor".

Quando falamos em disciplina democrática, queremos enfatizar que nossas decisões são tomadas pela comunidade de fé a partir do que nos orienta a Palavra de Deus. Nesse sentido, o que se busca é a preservação da unidade do Corpo de Cristo como algo fundamental (Jo 17.20-24). Fazemos isso procurando respeitar a diversidade de experiências sendo que o que nos garante a coesão numa sociedade tão diversa é o Espírito Santo.

A igreja de Cristo nasce na experiência do Pentecostes e nele se inspira para viver em união num mundo dividido. A disciplina, antes de ser uma lei rígida que nos oprime, é um instrumento de Deus para a preservação de nossa unidade na fé. Isso pode ser observado desde o antigo pacto que o Senhor estabeleceu com o povo hebreu em que havia o compromisso de observância de leis e condutas por parte do povo. Do mesmo modo, o novo povo de Deus, reconciliado em Jesus Cristo, é chamado a viver em santidade e isto implica na adoção de determinado padrão ou estilo de vida espiritual e social.

Uma espiritualidade não sectária

Um documento importante a respeito do tema de nossa lição é o sermão número 38 de João Wesley intitulado Advertência contra o sectarismo. Para termos uma rápida idéia da posição do fundador do Metodismo a respeito dessa questão, vejamos um trecho do sermão: a coisa que durante todo esse tempo grandemente me afligia e, contra a qual resolvi usar de todos os métodos possíveis de precaução, era a estreiteza de espírito, o zelo parcial, o constrangimento de alma; aquele miserável sectarismo que torna a muitos incapazes de crer que haja qualquer obra de Deus, a não ser entre eles.

Neste pequeno recorte podemos perceber a visão de Wesley a respeito de nossa conduta diante das opiniões alheias. Sectarismo é aquela atitude de isolamento, provocada pela crença de que somos os donos da verdade enquanto todos os demais estão errados ou equivocados. Como metodistas, entendemos que todo aquele(a) que faz a vontade de Deus é nosso irmão e irmã.

No sermão 38, Wesley estabelece as bases para uma religião não-sectária:

  • aquela que não pretende possuir como coisa sua, como posse privada, o poder de Deus;
  • que não faz da diferença religiosa motivo de exclusão ou separação do(a) irmão(a);
  • que não cria embaraços para aqueles(as) que, não pertencendo ao nosso grupo, esforçam-se para não só anunciar mas também viver de acordo com a palavra de Deus.

Para terminar

A revista do professor/a traz a letra de um cântico (Alto Preço) para ser analisada pela classe. Nossa sugestão é terminar a aula de hoje cantando.

Entre na Roda

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10 agosto, 2006

Líderes ecumênicos pedem novamente pelo fim do conflito no Oriente Médio

GENEBRA, Suiça, Agosto 8, 2006

Líderes do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), da Federação Luterana Mundial (FLM) e da Aliança Reformada Mundial (ARM) pediram mais vez a Israel e ao Hezbolah para que coloquem fim à intransigência e iniciem o imediato cessar fogo no Oriente Médio.

“É tempo das partes em conflito deixarem a intransigência de lado. Israel deve retirar-se do território libanês e o Hezbolah deve, ao mesmo tempo, cessar as ações contra o povo israelense”, afirmaram os líderes dos organismos cristãos internacionais em declaração divulgada hoje.

A declaração, assinada pelo secretário geral do CMI, pastor Samuel Kobia, pelo presidente da FLM, bispo Mark Hanson, e pelo presidente da ARM, pastor Clifton Kirkpatrick, pede aos Estados Unidos, à União Européia e aos Estados árabes que exerçam influência para conseguir o término dos conflitos.

Até agora, Israel e o Hezbolah fizeram ouvidos surdos às demandas internacionais. Israel declarou que continuará as operações militares no Líbano até que se estabeleça uma força de paz na região. O Hezbolah afirmou que não vai parar os ataques enquanto as forças militares israelenses não deixarem o território libanês.

Desde o início do conflito, no dia 12 de julho, cerca de mil pessoas perderam a vida no Líbano. Um terço das vítimas tem menos de 12 anos de idade. Em Israel, 100 pessoas morreram atingidas pelos mísseis lançados pelo Hezbolah. Mais de 600 mil pessoas foram obrigadas a abandonar suas casas por causa dos incessantes bombardeios.

Os líderes ecumênicos afirmam que "nem o terror dos mísseis Katyusha, nem a destruição das casas, colégios e povos no Líbano contribuirão para uma paz duradoura na região". E emendam: "Tais atos aumentarão ainda mais o ódio entre as partes".O cessar fogo é um primeiro passo, e quando isso ocorrer os líderes das nações devem trabalhar para conseguir uma paz duradoura na região. “Nossas organizações e igrejas desejam participar desse esforço”, sustentam os religiosos.

A tarefa é grande e o caminho difícil, mas o temor deve ser superado com fé, o ódio com confiança, a inimizade com reconciliação, e a injustiça com justiça, concluem os líderes cristãos.

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Noite pela Paz em Maringá é destaque Internacional

BRASIL
Religiosos se unem para orar pela paz

MARINGÁ, 10 de agosto (ALC) – Budistas, muçulmanos, espíritas, bahais e cristãos vão se unir em oração na segunda-feira, 14, nesta cidade, para pedir paz ao Brasil, o fim dos combates entre Israel e o Hezbolah, no Líbano, e encaminhar manifesto a autoridades do país, da ONU e dos Estados Unidos, demandando sua ingerência para acabar com as ações de guerra e de violência.

O momento de oração é uma iniciativa da Comissão do Diálogo Inter-Religioso de Maringá, criada este ano, e que congrega católicos-romanos, evangélicos-luteranos, anglicanos, metodistas, espíritas, afro-brasileiros, bahais, budistas e muçulmanos. “Não existe uma comunidade judaica constituída na cidade”, explicou o pastor metodista Robert Stephen Newnum, justificando a ausência de judeus na “Noite de Oração pela Paz”.

“A nossa luta é pela paz”, definiu o coordenador da Comissão do Diálogo Inter-Religioso, o advogado católico Irivaldo Joaquim de Souza. “Vamos unir os nossos esforços para pedir a Deus a interrupção do ciclo de violência no Oriente Médio”, agregou. O texto do manifesto será finalizado e aprovado na segunda-feira, durante o ato pela paz, que terá lugar, às 20h, no salão social da mesquita da cidade.

Embora a Comissão Mista tenha sido criada este ano, essa é a terceira vez que cristãos, muçulmanos, espíritas, bahais e representantes de religiões afro se unem para rezar pela paz. Os outros dois eventos ocorreram em 2001 e 2003. No encontro da segunda-feira, religiosos vão dirigir as orações a Deus, intercedendo pela paz segundo liturgia e tradições de sua crença religiosa. O evento é aberto a todas as pessoas de boa vontade.

Maringá, localizado no noroeste do Paraná, a 434 km de Curitiba, é município recente. Criado em 1951, foi pólo de atração de pioneiros paulistas, mineiros e nordestinos, em busca de melhores condições no campo. Hoje, Maringá tem 300 mil habitantes.


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Anglicanos aprovam moção sobre sexualidade e enviam carta aos metodistas


ALC - BRASIL

CURITIBA, 9 de agosto (ALC) – Episcopais anglicanos aprovaram moção de apoio e solidariedade aos clérigos e leigos que sofreram perseguição e injúria por causa da sua orientação sexual, pediram a proteção do Espírito Santo ao bispo católico dom Erwin Kräutler, da Diocese de Altamira, no Pará, e enviaram carta à Igreja Metodista, expressando a esperança de que ela retorne logo ao convívio ecumênico.

As moções e a carta à Igreja Metodista foram debatidas e manifestadas pelo 30. Sínodo Geral da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB), reunido em Curitiba, dias 26 a 30 de julho, mas somente ontem divulgadas.

Aprovada pela Câmara de Clérigos e Leigos, a moção sobre a sexualidade humana expressa apoio aos religiosos e laicos que, “ao longo da história da igreja recente do Brasil têm sofrido perseguições e injúria por razão de sua orientação sexual, ou por apoiarem a inclusão de todas as pessoas, independente de sua orientação sexual, na vida plena da Igreja”.

O assunto da sexualidade humana é caro na Comunhão Anglicana. O tema provocou acirrados debates e ameaçou, inclusive, cindir a comunidade anglicana mundial, principalmente depois que a Igreja Episcopal dos Estados Unidos (Ecusa) consagrou, em novembro de 2003, o reverendo Gene Robinson, um homossexual assumido, como bispo coadjutor do Estado de New Hampshire.

Na carta dirigida à Igreja Metodista do Brasil, bispos, clérigos e leigos anglicanos reconhecem e aplaudem a caminhada ecumênica dessa igreja, mas dizem que é preciso respeitar a autonomia interna de cada denominação. Por isso, acolhem a decisão do Concílio de Aracruz, que optou pela retirada dos metodistas de organismos ecumênicos que tenham a presença da Igreja Católica e de grupos não-cristãos.

“No entanto, diante de nossa histórica relação fraterna, e fiéis à nossa identidade, manifestamos a esperança que, no futuro, possamos contar com o povo metodista para que retome conosco, e outras Igrejas do Senhor, o testemunho ecumênico pleno”, afirmam.

Em outra moção, o Concílio da IEAB solidariza-se com o bispo católico-romano da Diocese de Altamira, dom Erwin Kräutlein, que, junto com agentes de pastorais e movimentos sociais, vem sofrendo ameaças por causa da defesa do direito dos pobres do campo e da cidade, das populações ribeirinhas, dos trabalhadores sem-terra e indígenas da região.

“Temos certeza de que o Espírito Santo, fonte plena de Sabedoria e Consolação, irá protegê-los e inspirá-los para que o Evangelho continue sendo anunciado aos pobres, e os critérios da justiça e da paz prevaleçam nas relações sociais e econômicas em benefício dos humildes”, desejam os episcopais anglicanos.



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Meditação Diária - 11 de agosto

Amós 2.14-16

Se os ensinamentos da teologia bíblica e da tradição não são suficientes para persuadir o/a cristão/ã de que deve interessar-se profundamente pela paz e pelo progresso, considerações de grosseiro auto-interesse são suficientes. É raro acontecer que aquilo que é moralmente certo coincida tão obviamente com o que é mais proveitoso.

Numa época em que vive sob a horrenda sombra da bomba de hidrogênio, pode alguém duvidar de que a eliminação da guerra seja de interesse vital para todas as pessoas? O troar dos canhões em frente de Waterloo não impediu a alegria reinante nos salões de baile em Bruxelas, a 24 quilômetros de distância. Hoje o distante trovejar de fuzis no oriente médio repercute em cada canto do globo, enquanto lembramos as palavras do Papa Paulo VI, em sua mensagem de Páscoa de 1968: "O mundo retém a respiração numa agonia de medo ante o gigantesco conflito que há de levar tudo a uma espantosa destruição".

Talvez seja menos evidente que o egoismo imponha interesse pelo mundo subdesenvolvido. Mas é insensatez esperar que milhões de pessoas vão aceitar em silêncio, e para sempre, uma crescente pobreza e um eventual fome. Elas se revoltarão, finalmente, e sua reação será extrema.

Pode-se prever com segurança uma violenta revolução, e em larga escala, se não for ganha a batalha pelo desenvolvimento. O ilustre presidente da Conferência de Beirute, Dr. Jan Tinbergen, escreve o seguinte: "Se não levantarmos, por um esforço combinado, o índice de desenvolvimento, prevalecerá o caos em poucas décadas, se não antes". As instituições econômicas, sociais e políticas dos países ricos serão abaladas, bem como as dos pobres. Serão sentidos os efeitos em toda parte, na cidade e no campo, e ninguém ficará intato.

Meditação: Se a paz depende de mudanças nos sistemas econômicos, políticos e sociais, que atitudes podemos tomar como comunidades de fé para que o shalom de Deus seja estabelecido?

Adaptado do: Leitura Cotidiana da Bíblia - Edição Ecumênica - CMI.
Contribuição de Stephen e Maria Newnum - Maringá, PR.

Manifestação do Núcleo do CONIC - Juiz de Fora

O CONIC MG – Núcleo Juiz de Fora, reunido nesta data, lamenta profundamente a saída da Igreja Metodista (do Brasil) dos órgãos ecumênicos.

Contudo, espera continuar o diálogo, ações sociais e outras manifestações de Unidade com os membros desta Igreja. Também se solidariza com todos aqueles que sofrem com o retrocesso dessa decisão. Não perde a esperança de um dia reatar os laços oficiais. Como Paulo, temos a certeza de que “nem a morte nem a vida, nem os anjos nem as autoridades, nem o presente nem o futuro, nem os poderes, nem as alturas nem as profundidades, nem qualquer outra criatura, nada nos poderá separar do amor Deus, manifestado em Jesus Cristo, nosso Senhor.”

Assim podemos colaborar com o sonho de Jesus – que todos sejam Um, para que o mundo creia.

Juiz de Fora, 07 de agosto de 2006.

Maria Célia Sigiliano Pinto
Pelo Núcleo

O metodismo entrará em declínio não por ser refutado ou perseguido, mas quando se tornar irrelevante, insensível, opressivo e insípido

Por: José Carlos Barbosa

* Somos herdeiros de uma visão maniqueísta da realidade e adotamos a tendência simplificadora e ingênua de separar quase tudo em dois blocos antagônicos. No caso da religião ainda persiste a tendência de encarar a nossa complexa realidade a partir de dois grandes grupos: protestantes e católicos. Nós, os protestantes, temos uma sensível predisposição de olhar com mais simpatia para as denominações consideradas evangélicas, mesmo que sejam portadoras das mais estapafúrdias "teologias". Com respeito aos católicos há uma animosidade instintiva que impossibilita qualquer avaliação mais serena e imparcial. Tal comportamento é facilmente explicável em função de diversos fatores históricos importantes, mas principalmente por causa da forte oposição feita pela Igreja Católica para impedir a implantação do protestantismo no Brasil e a conseqüente reprodução em nosso país, com séculos de atraso, da mesma polêmica entre protestantismo e catolicismo ocorrida na Europa por ocasião da Reforma.

Creio que esta herança histórica continua sendo fator fundamental para inibir a possibilidade de uma melhor compreensão do tema. Enquanto esta indisposição psicológica não for trabalhada não haverá possibilidade de mudança. Não estamos falando aqui na possibilidade de concordar com as doutrinas da Igreja Católica. Não se trata disso. JW nunca concordou com tais doutrinas e, inclusive, denunciou algumas delas, principalmente o papel das obras no processo de justificação. Dizia que esse foi o "erro mais destrutivo de todos os que Roma, a mãe das abominações, produziu". Perto dele, dizia, "a questão da transubstanciação e outras doutrinas são insignificantes".

Assim como nossa herança histórica nos delimita e até condiciona, para o bem ou para o mal, podemos dizer que o fato de JW ter nascido na Inglaterra, país que de certa maneira passou por um outro percurso em função do Anglicanismo e representa uma via diferente em relação aos tradicionais catolicismo e protestantismo, contribuiu para que ele pudesse ter uma visão diferente da questão. Mais claramente que qualquer outro teólogo da sua época, JW entendeu que essa antiga e prejudicial polarização entre protestantismo e catolicismo não poderia representar uma boa proposta para o futuro do cristianismo. É nessa perspectiva, de libertar-se de todos as amarras históricas delimitadoras, que ele apresenta a sua proposta básica que é espalhar a santidade bíblica sobre toda nação. Nesta proposta ele extrapola qualquer visão estreita e está pensando numa igreja verdadeiramente católica (no seu sentido original), verdadeiramente evangélica e verdadeiramente reformada.

Essa herança ecumênica JW a recebeu em Epworth, já nos primeiros anos de sua formação. Foi através de seus pais que ele entrou em contato com textos de autores católicos como Tomas a Kempis, Blaise Pascal, Jacques Bénigne Bossuet, Gaston Jean Baptiste de Renty e de diversos outros. Em Oxford ele amplia muito mais a lista e lê Jeremy Taylor, William Law, Gaston Jean Baptiste de Renty, Francisco de Sales, Miguel de Molinos, John Tauler, São João da Cruz, São João de Ávila, Pascal, Fénelon, etc. Após deixar a Universidade, JW continuou lendo e encorajando outros a lerem livros da espiritualidade católica. Na sua Biblioteca Cristã, publicada entre 1750 e 1755, entre outros ele incluiu Pascal, Fénelon, as Cartas de São João de Ávila, a Vida de Gregório Lopes e o Guia Espiritual de Miguel de Molinos.

JW não desenvolveu uma maneira de se relacionar com os católicos e uma outra para se relacionar com os membros das demais denominações. Ele jamais elegeu a Igreja Católica como adversário a ser combatido e nunca olhou para os demais cristãos a partir desta perspectiva. No sermão "O caminho do Reino" ele diz:

"A religião não consiste na ortodoxia ou em opiniões corretas, que não estejam no coração, mas só no entendimento. É possível ser ortodoxo em cada ponto; é possível apoiar não só as opiniões corretas, mas também defende-las zelosamente de seus opositores; é possível ter crenças corretas a respeito da ressurreição, da trindade, a respeito de cada doutrina; é possível afirmar cada um dos credos (Apostólico, Niceno e de Atanásio) e ainda assim se pode não ter mais religião que um judeu, turco ou pagão. É possível ser tão ortodoxo como o diabo e sem duvida estar tão distante da religião do coração."

JW tinha todas as razões possíveis para se tornar intolerante, como quase todos da sua época. Os violentos conflitos que marcaram o panorama britânico desde a reforma, mas especialmente no século XVII com a imposição do Anglicanismo sobre toda a população, feita pelo Rei Carlos II, e mais tarde, os excessos praticados pela Rainha Maria, ferrenhamente católica, chamada sanguinária, que também procurou impor a sua religião sobre os súditos. Além disso, outra razão importante que poderia produzir e justificar uma postura intolerante foi JW ter sofrido perseguições da população católica em algumas das inúmeras vezes em que esteve na Irlanda. Entretanto, ao invés de pagar com a mesma moeda, o olho por olho, ele procurou demonstrar amor aos católicos romanos.

Foi justamente neste período em que sofreu fortíssima perseguição na Irlanda, em 1749, que JW redigiu a sua "Carta a um Católico Romano". Poderia muito bem reforçar o senso comum e reagir com intolerância, mas ele não o faz porque entendia que o cristianismo exige uma outra postura. E mesmo admitindo que muitos protestantes ficariam irados contra ele, achando que se mostrava "favorável demais aos católicos", ainda assim ele publica o texto e faz ampla divulgação.

O que é Igreja?

Esta pergunta foi colocada numa reunião do Concílio Mundial de Igrejas, em 2004, e respondida por representantes de diversas igrejas. Resposta interessante foi dada por um pastor de Sumatra, uma ilha na Indonésia. Disse que sua primeira nomeação foi para cuidar de 10 congregações, distantes uma das outras. Tinha que caminhar pela selva e muitas vezes se encontrava com tigres.

- Para mim, disse ele, parte da eclesiologia consiste em evitar os tigres na viagem de uma igreja a outra.

Que maravilha! Evitar os tigres! Mas, quem são os tigres? Onde estão? Como evitá-los?
Se há tigres, somos nós. Se há adversários a serem combatidos, eles não são os outros. Os tigres mais ferozes e que devem ser combatidos são a arrogância, o desamor, a intolerância, a divisão, a agressividade, a soberba espiritual, a religião de palavras e não de atos, etc. Numa carta dirigida à pregadores e amigos, de 10 de julho de 1771, JW faz uma pergunta irônica. Diz: "Sobre o que estivemos debatendo durante estes trinta anos? E ele mesmo deu uma resposta desalentadora e sincera: "Receio que estivemos discutindo sobre palavras"

Se há tigres, eles estão entre nós. Numa carta muito interessante, JW orienta Adam Clark a lidar com determinado problema que estava ocorrendo no seio da sua congregação e recorda que enfrentou situação idêntica por ocasião de um avivamento em Londres. Neste texto, de setembro de 1790, JW. assinala que na época enfrentou dois problemas, um para controlar as pessoas que não concordavam com o movimento, e o outro, para controlar e colocar em ordem as extravagâncias dos que promoviam o movimento. Lembra que dos dois, o mais complicado e difícil foi controlar os promotores do movimento, visto que muitos não quiseram aceitar qualquer controle. No final da carta ele faz um alerta desalentador: mesmo que o pastor atue com a mais perfeita correção e sabedoria ainda assim o normal é que os dois lados queiram culpá-lo. E do alto da sua experiência JW faz o seguinte alerta: "As diferenças que começam com assuntos de opinião raras vezes terminam assim. Geralmente se estendem aos afetos e separam grandes amigos. Não há animosidades tão profundas e irreconciliáveis como aquelas que surgem de desacordo em matéria de religião."

Sabemos muito bem do que JW está falando. Olhando para a história recente da nossa V.RE identificamos inúmeras experiências divisionárias, todas elas originadas a partir de comportamentos intolerantes e estreitos. Não há nada demais que um pastor metodista tenha pontos de vista particulares a respeito de diversas questões eclesiológicas. É natural que assim seja. Todos nós temos. O grave, o gerador de crises e divisões, é quando o pastor começa a fazer do seu ponto de vista um cavalo de batalha, quando instaura na sua comunidade local a semente da agressividade e da intolerância.

Uma maneira muito comum de semear a agressividade no seio da nossa comunidade é quando gastamos tempo demasiado identificando heresias e problemas com os outros e usamos tempo de menos para ensinar a essência do Evangelho. Penso que nós pastores não deveríamos de forma alguma estimular qualquer comportamento ou cultura exclusivista. A própria sociedade carrega e propaga todo tipo de preconceitos e xenofobias e não cabe ao pastor estimular nesta direção. O papel é outro, anunciar o Evangelho do amor, da graça, do perdão, da tolerância, do respeito, da inclusão. Já temos violência demais. Já somos armados demais. Nosso papel é outro, não o de ser juiz. A nós cabe dialogar, abrir os braços, acolher. Não se trata de aceitar a doutrina do outro grupo religioso, mas sim acreditar que o mesmo Deus que nos acolheu também acolherá o outro, mesmo que eu não concorde com a sua visão.

O outro, aquele que não pensa como eu, que obedece outras doutrinas, será instrumento para o meu crescimento e na medida em que o acolho eu me descubro melhor na minha identidade. O outro deixa de ser um estranho e se torna meu irmão. Aquilo que antes era visto como espaço para conflitos e incompatibilidades, a partir do meu acolhimento passa a ser celebrado como complementaridade. Essa disposição nos coloca num caminho de reconhecimento mútuo, na vida da hospitalidade em suas múltiplas dimensões e permite tratar a pluralidade religiosa como ponte e não mais como barreira.

O aprofundamento dessa relação com o outro, com o diferente, é uma santa responsabilidade e permite a libertação de uma perigosa clausura. Não devo esperar que o outro venha me estender o braço, caminhar o meu caminho, defender os meus princípios. Isto seria exigir que ele seja eu, que se transforme naquilo que eu sou. Estendendo a minha mão eu não estou aderindo à visão de mundo do outro, mas permitindo que ele encontre o mesmo caminho em direção a sua própria profundeza.

A própria sociologia da religião explica que atitudes intolerantes e sectárias são reflexos de uma cultura violenta e reprodutora de agressividade e violência. Não há espaço para o Evangelho e nem saída possível. A tendência é a redução constante das fronteiras laterais e um extravasamento para o alto. Diminui-se a fraternidade e aumenta-se a agressividade.

Esta cultura agressiva está-se multiplicando em todos os cantos e invadindo nossas igrejas. Eu me lembro do caso de uma de nossas igrejas locais, uma comunidade muito saudável e missionária, que acolheu o projeto G12. Em menos de dois meses o clima se transformou. O que antes era uma comunidade acolhedora e tranqüila transformou-se em uma comunidade agressiva e intolerante. E o mais impressionante é que tal comportamento passou a ser direcionado primeiramente aos de dentro, àqueles que agora já não partilhavam os mesmos pontos de vista. No interior daquela comunidade os conflitos foram sérios, entre aqueles que tinham participado do projeto e os que não participaram.

Não estou aqui questionando o G12, porque este não é o espaço adequado. O que estou fazendo é denunciar projetos que se propõe a produzir e incentivar uma religiosidade agressiva, violenta e intolerante. Projetos como esse são propensos a reconhecer e supervalorizar as diferenças mais ínfimas, a colocar o outro sob a mira constante de um severo microscópio, a dilatar egoísmos, a polemizar sobre questões secundárias e até irrelevantes, a repetir idêntico comportamento fiscalizador de escribas e fariseus que se arvoraram em defensores intransigentes da lei e atormentaram o ministério de Jesus. O que precisamos fazer é valorizar projetos que estimulem a fraternidade, a tolerância e tragam serenidade e paz às pessoas.

Uma das fontes da intolerância e não abertura ao outro, ao diferente, pode ser encontrado na própria história de Israel. É verdade que Heródoto, o historiador grego, distinguia duas espécies de humanos: gregos e bárbaros. Os judeus aparentemente recusaram essa distinção, mas estabeleceram uma outra com a mesma lógica: judeus e gentios. O princípio da eleição, que para a Bíblia deveria ser compreendido como responsabilidade e abertura universalista, aos poucos, em função da própria especificidade histórica do povo, se transformou numa torneira, num modelo de fechamento. O princípio da hospitalidade, fundado na lembrança de que "que fostes estrangeiros no Egito, então amai-vos uns aos outros", não foi observado e criadas inúmeras justificativas para justificar tal omissão.

Aquele colega que é diferente de mim, aquela Igreja que é diferente da minha, não representam nenhum estorvo, nenhuma ameaça. Eles não são adversários e nem devem ser modificados. Não são eles que prejudicam a nossa qualidade e não são eles que atrapalham o trabalho de evangelização. Encontrar um bode expiatório tem sido uma prática constante. Imaginar que determinado colega, determinada igreja ou determinado povo representam estorvos e que modificá-los ou até suprimi-los para que as coisas se arranjem é uma tentação diabólica já levada a efeito por movimentos nazi-fascistas. É evidente que por detrás deste processo de expiatorização está o desejo de formação de uma mais coesa identidade coletiva, de um grupo mais puro e zeloso, só que tal projeto inibe e interdita princípios bíblicos fundamentais.

Quais são as saídas

A história da Igreja cristã, marcada por inúmeros concílios, divisões e conflitos, revela que somos herdeiros de uma tradição platônica e monoteísta, com uma nostálgica vocação para a unidade. Esperamos que nossos bispos e autoridades utilizem-se de seus cetros para nos dizer qual é a verdade a ser seguida e obedecida. Assim também nos comportamos como pastores em nossas comunidades locais. Agimos como pequenos bispos, como autoridades que acham que devem ser seguidos e ouvidos. Ários e Montanos de todas as épocas continuarão sendo declarados hereges, condenados e expulsos. Essa é a nossa história, fruto de uma cultura extremamente agressiva.

A questão eclesiologica central não está na adoção de grupos familiares, na adoção de outra forma de batismo, se devemos ou não participar do CONIC, etc. Fico meio preocupado quando vejo colegas concentrarem todos seus esforços nessas direções. O caminho não é este, nunca foi. A título hipotético façamos de conta que no próximo Concílio Geral ocorram tais mudanças. E daí? O que vai mudar de substancial na vida da igreja metodista? Para melhor, nada. Apenas ela vai se tornar muito mais intolerante, muito mais fechada e radical. Os fundamentalistas vão soltar foguetes, imaginando que foram vitoriosos. Mas eu pergunto: vitoriosos em que? Vitoriosos contra quem? Essa é a questão, vitoriosos contra quem? E não adianta argumentar que o inverso também é verdadeiro porque não é a mesma coisa. Historicamente, o metodismo sempre teve essa característica inclusiva de acolhimento, sempre teve essa maravilhosa maleabilidade. Em caso de vitória dos fundamentalistas vai desaparecer essa característica. Será a instauração da intolerância. Será a adoção da política da caça às bruxas. Haverá novas e severas determinações: a partir de agora só se batiza por imersão, está abolido o batismo infantil, não teremos nenhuma relação ecumênica, adotaremos o modelo de células, etc., etc.

Não devemos nos enganar, imaginado que aqueles que lutam para o fechamento da igreja se darão por satisfeitos quando alcançarem tal objetivo. Nada disso! Tal comportamento fundamentalista é tremendamente exigente e costuma ser intolerante em muitas outras questões. Os que defendem tal postura certamente questionam a questão do batismo infantil, exigem o batismo por imersão e fazem uma série de outras exigências. É simples essa lógica. O núcleo da questão está no próprio comportamento intolerante, eternamente insatisfeito e exigente, colocando a culpa pela situação sempre num bode expiatório.

Não nos enganemos. Aqueles que pensam que há um só tipo de batismo e querem impô-lo aos demais jamais se contentarão com isso. Pode ser que amanhã essa loucura passe no Concílio Geral e vá se tornar regra. E daí? Vitória da intolerância. O centro da questão não é o batismo, ecumenismo, episcopado, células. Nada disso! O problema é a intolerância de tais idéias. O problema do G12 e movimentos como esse é a intolerância, o horror da intolerância.
É óbvio que grupos fundamentalistas e fechados tendem a crescer. Há uma infinidade de estudos confirmando este espírito de servidão voluntária. O exemplo do povo hebreu que sonha com as panelas de carne na escravidão do Egito e se assusta com a caminhada de liberdade é muito eloqüente e confirma. Só que o metodismo não pode se guiar por essa visão empresarial. O caminho do reino é o da cruz. A missão da igreja é abençoar, lavar os pés, servir, é ser uma comunidade missionária a serviço do povo.

Uma saída caseira

Ingenuidade imaginar que a mera recuperação de alguns modelos formais como classes, bands, sociedades, circuito, itinerância, etc., serão suficientes para nos devolver o "gênio" wesleyano. Nada disso! Não é esse o caminho. Estaríamos recuperando apenas a forma, sem a alma, sem a essência. É a mesma coisa que pegar uma roupa antiga e vestir. Ela não se ajusta. Não dá para simplesmente transplantar o modelo eclesiástico wesleyano para a nossa realidade. Ao invés de fiéis estaríamos cometendo a mais ignorante das infidelidades. O caminho é outro, é descobrir a essência, é procurar reconhecer qual foi a alma do movimento wesleyano.

Seria interessante se o metodismo brasileiro tivesse mais homogeneidade, se as nossas igrejas locais fossem mais reconhecíveis em todas as regiões eclesiásticas, se os nossos cultos tivessem algum padrão. Seria legal, só que também poderia ser enganoso. O fundamental não é a forma, não é que cantemos os mesmos hinos e tenhamos a mesma liturgia. O maravilhoso seria que o conteúdo dos nossos hinos fossem parecidos e que promovessem a unidade, a santidade, o amor ao próximo. Não hinos de guerra, não hinos agressivos, não hinos intolerantes e horrorosos.

O sonho de J.E. Newman, um dos nossos pioneiros, era que o metodismo no Brasil cantasse hinos de Carlos Wesley e de Isaac Watts. Este sonho foi realizado pelo Rev. Justus Nelson, missionário metodista em Belém do Pará, que organizou o primeiro hinário metodista no Brasil. Disse que estava cansado de cantar músicas calvinistas, músicas que reforçavam uma doutrina que não estimulava o amor ao próximo, que afirmavam que uma vez salvo, salvo para sempre, e por isso traduziu as músicas dos metodistas.

Aventuro-me a dizer que nos equivocamos muito quando perdemos o foco, achando que o xis da questão está em alguma mudança formal nesta ou naquela questão. Mudanças dessa natureza não serviriam nem como maquiagem, porque iriam enfear substancialmente o metodismo e transformá-lo numa denominação agressiva e belicosa.

Se há alguma batalha a ser travada, que seja na direção correta. Se há algum projeto importante que ocupe as nossas atenções, que seja para dilatar a nossa generosidade, que seja para nos integrar totalmente ao Evangelho de Cristo.

Proposta

Uma das frases de JW que constantemente martela a minha cabeça diz respeito à pergunta que lhe fizeram, para saber se tinha medo de que o metodismo um dia desaparecesse. Na sua resposta ele assinala que o seu maior temor não era este, mas a possibilidade de o metodismo um dia perder a sua vitalidade, a sua alma, e se transformar numa mera instituição religiosa sem a essência do verdadeiro cristianismo. E completa dizendo que tal ocorrerá inevitavelmente, a menos que o povo chamado metodista se mantenha firme na doutrina, no espírito e na disciplina que marcaram o início do movimento.

Qual é o "espírito" do metodismo? Qual é a sua identidade? Em diversos textos JW procura mostrar que o metodismo é um movimento que procura resgatar a essência do cristianismo e sua singularidade está centrada na ênfase que se dá à doutrina da santificação, "o grande tesouro que Deus depositou nas mãos do povo chamado metodista", conforme escreveu a Robert C. Brackenbury, em carta de setembro de 1790.

Proponho que concentremos todos nossos esforços na recuperação deste grande tesouro. Que seja este o nosso propósito, o nosso cavalo de batalha. Que concentremos toda a nossa dedicação nessa direção.

Nosso primeiro passo será compreender que não se trata de uma tarefa fácil e simples, que pode ser conseguida mediante decisões administrativas tomadas nos níveis regional, distrital ou local. O próprio JW "penou" a vida inteira gritando sobre a centralidade da santificação e não obteve o sucesso esperado. Em 1745 ele declarou estar farto de uma religião só baseada em palavras, sem gestos de amor e de misericórdia. Disse que a verdadeira religião, sólida e substancial, deve estar assentada na santidade do coração e da vida. Em carta escrita ao irmão Carlos, em março de 1772, ele reclama dizendo que "quase todos os pregadores nos circuitos abandonaram a pregação da perfeição cristã. Dizem que crêem; mas nunca pregam sobre ela, nem sequer uma vez por trimestre". Nas suas cartas JW exorta e incentiva os pregadores a insistirem neste tesouro, como fez com Samuel Bardsley, em 3 de abril de 1772: "Nunca se envergonhe da antiga doutrina metodista".

JW continua significativo para nós metodistas porque de certa maneira entendeu a recomendação dada por Jesus à Marta, assinalando que o que importa é uma só coisa. É por isso que ele vai centrar todas as suas baterias, os seus esforços, em uma só direção, uma direção necessária e fundamental, que é a questão da santificação, "sem a qual ninguém verá o Senhor". No Sermão "O caminho do reino", JW diz que a "religião não consiste na ortodoxia ou em opiniões corretas, que não estejam no coração, mas só no entendimento. É possível ser ortodoxo em cada ponto; é possível apoiar não só as opiniões corretas, mas também defende-las zelosamente de seus opositores; é possível ter crenças corretas a respeito da ressurreição, da trindade, a respeito de cada doutrina; é possível afirmar cada um dos credos (Apostólico, Niceno e de Atanásio) e ainda assim se pode não ter mais religião que um judeu, turco ou pagão. É possível ser tão ortodoxo como o diabo e sem duvida estar tão distante da religião do coração."

Dons e Ministérios

Creio que o projeto Dons e Ministérios compreende de forma extraordinária essa essência wesleyana e representa uma ótima estratégia para a recuperação do nosso grande tesouro.
Mas se é assim, porque em mais de vinte anos de projeto não alcançamos os resultados esperados?

Isso é o que precisamos conversar. O que sei é que não podemos continuar adotando projetos esdrúxulos, projetos agressivos que nos afastam do nosso verdadeiro objetivo. O que sei é que não podemos imaginar que a simples adoção de um bom projeto represente a solução de todos os nossos problemas. E foi isso o que aconteceu com Dons e Ministérios em muitos lugares. Houve uma maquiagem e ele não foi devidamente implementado. Essa é a questão. Não basta seguir algumas indicações, um roteiro, e imaginar que está tudo pronto. Isso qualquer um faz e muito rápido. Basta reunir a igreja, dividi-la em grupos e assinalar o que cada grupo ou ministério deve fazer. Isso é muito fácil. Só que o projeto não é isso. O problema eclesiológico não é gerencial e administrativo, se bem que algumas de nossas comunidades estão desorganizadas, mas essa é outra coisa, bem mais simples e pode ser resolvida com mais facilidade.

O metodismo entrará em declínio não por ser refutado ou perseguido, mas quando se tornar irrelevante, insensível, opressivo e insípido. E isto ocorrerá quando a fé for substituída pela profissão de fé, a adoração pela disciplina, o amor pelo hábito; quando a crise de hoje for ignorada pelo esplendor do passado; quando a fé se tornar mais propriamente uma herança tradicional do que uma fonte de vida; quando se expressar mais pela autoridade do que pela voz da compaixão.

Santidade é o grande tesouro que Deus ofereceu aos metodistas!

José Carlos Barbosa
Pastor Metodista
Coordenador do Centro de Estudos e Pesquisas sobre Metodismo e Educação (CEPEME) IEP/UNIMEP

* Este texto é parte de um trabalho sobre eclesiologia, apresentado no Concílio Regional da 5 RE, realizado em novembro de 2005.

Os ipês estão floridos...

Por: Pedro Nolasco

As causas do meu luto são conhecidas por todos que participam seriamente do movimento ecumênico em terras brasileiras.

Seus sintomas também são aqueles de sempre: a tristeza da perda, o vazio do sentido e a desesperança quanto ao futuro, que levaram-me a uma incrível falta de motivação quanto ao presente.

Mas, alguma coisa aconteceu nas últimas semanas. Em meio aos escombros de um terremoto ainda em atividade, começam a surgir sinais de esperança, como os ipês que insistem em florescer no inverno (na cidade onde moro, eles são muitos, havendo um até mesmo na frente ao templo da igreja em que sirvo).

Preciso confessar que minha esperança nasce do próprio princípio ecumênico um tanto deixado de lado por muitos de nós nos últimos tempos: o encontro.

Foi encontrando pessoas que amam a unidade da Igreja que pude chorar e refletir, pensar e sentir. Não somos tantos, mas não somos tão poucos e, acima de tudo, não estamos sós.

Estou redescobrindo, com outros companheiros e companheiras, alguns fundamentos da caminhada cristã que fazem muito sentido neste momento do metodismo brasileiro, os quais compartilho humildemente com os irmãos e irmãs:

Apesar de tudo...

O primeiro é a insistência na esperança, mesmo com todos os sinais contrários. Nossos olhos estão atentos aos movimentos que agem em prol da morte. Não somos ingênuos: a realidade é muito contrária à unidade e ao respeito, mas o aguçar do olhar sobre a dura realidade não deve ofuscar a visão do Reino de Deus e do seu ideal. Nossa vocação não é vencer aos olhos da sociedade, mas resistir no ideal do Reino apesar de todas as forças contrárias. Resistir mesmo com risco à vida.

Onde está a esperança?

O segundo é que nossa esperança não se funda (nem se finda) na instituição humana.

Queremos e buscamos uma instituição que esteja de acordo com a vontade de Deus, mas, quando esta se distancia de sua vocação, nossa fé nos leva à reafirmação da ação profética em prol da vida. Nosso fundamento é a fé, além do otimismo humano, além dos sinais evidentes de fracasso. Não é a instituição que nos motiva, muito menos o sucesso de nossa ação. Nossa motivação nasce do Espírito e atua mediante o amor aos semelhantes e aos absurdamente diferentes.
Encontro

O terceiro fundamento é o encontro. Além de todo discurso, as distâncias precisam ser superadas, especialmente entre aqueles/as que se esforçam pela unidade da Igreja. Nunca senti tanto gosto na palavra "movimento", que caracteriza o ecumenismo mundial. É tempo de fomentarmos consciente e alegremente o "movimento ecumênico" entre leigos e leigas, pastores e pastoras e entre as igrejas. A celebração, o estudo e o testemunho, tão marcantes no passado próximo ou distante, precisam ser priorizados, visando uma espiritualidade pulsante e consciente.

Muitas outras novidades vão surgindo, mas por enquanto, as sementes apenas começam a germinar, a partir das árvores que, há muito tempo, as lançaram ao vento.

E o luto vai dando lugar à luta, não aquela sangrenta e desleal, mas a uma luta amorosa, ética e responsável, não apenas pensando no tempo atual, mas inspirada no passado que nos motiva e no futuro que nos desafia.

E se você ficou tão desesperançoso como eu, dê uma olhada na rua, numa praça ou na beira da estrada, talvez algum ipê possa lhe mostrar que mesmo em meio ao frio inverno, a vida insiste em renascer.

Pedro Nolasco
Pastor Metodista em Jundiaí – SP
3a Região Eclesiástica

Magali pessoas boas tomam decisões difíceis

Prezada Magali,

Que riqueza a sua contribuição. Além de rica ela é comovente, desarmada e interessada em ajudar a compreensão e superação, sem deixar de viver, esse momento que atravessamos como Igreja Universal (católicos e protestantes) que enquanto corpo sofre.

Temos amigos e amigas católicos que estão sofrendo e perguntando: "onde erramos, como poderíamos ter evitado essa decisão do 18 concílio?"- com a mesma humildade de Padre José Oscar Beozzo.

A humildade desses irmãos e irmãs e agora do Padre Beozzo, nos chamam a razão, responsabilidade e auto-crítica que nos faz perguntar onde falhamos também como metodistas, teólogos/as e professores/as dentro da nossa própria casa.

É certo que falhamos. Falhamos, certamente , num comodismo, que nos fazia descansar na confiança em documentos assinados, que nos respaldava a "ser ecumênicos" e deixar livres os/as que não desejavam sê-lo. E aí pecamos, não por deixar livres os que não queiriam ser ecumênicos, pois cremos, que o ecumenismo não se impõe ele é apreendido no processo de conversão e no processo rumo a "perfeição cristã" a qual estamos sempre no caminho do "alvo", como nos ensina Wesley. Mas pecamos, por deixar de nos preocuparmos em expandirmos a visão e o compromisso ecumênico através do estudo da Bíblia, de Wesley e do diálogo com os novos na fé; e ainda com os que nos acham "ecumeníacos" como certo pastor metodista nos rotulou a nós metodistas e ecumênicos/as no Brasil.

Pecamos, prezada irmã Magali, por não sentarmos com essas pessoas e tentarmos entender a razão para tanto ódio, desprezo, desrespeito com os próprios irmãos/as "de sangue metodista" e perguntarmos se a questãos estava na ausência de conhecimento da Igreja Metodista, da Bíblia ou nos sentimentos existênciais provocados por feridas históricas ou quaisquer outras; faltou a pergunta, muitas perguntas do por quê?

Faltou-nos a humildade dos católicos que tais como o padre Beozzo, conseguiu perceber que há tantas pessoas amorosas na nossa Igreja, ele não os temeu, se sentiu em casa, ora veja! Um católico se sentiu em casa no 18 concílio que tratou de expulsá-lo da nossa igreja!

Nós também não deveriamos ter temidos nossos irmãos e irmãs. Não deveríamos ter medo de que nos rotularssem de "liberais", ou "ecumeníacos". Há tantos irmãos e irmãs bondosos/as, acolhedores/as e simples de coração que, às vezes, são apenas "mal educados/as" na fé, porque lhes faltaram pessoas que se aproximem deles/as sem medo...

Depois de seu relato me veio a mente o título de um livro em inglês: Quando pessoas boas tomam decisões difíceis.

Cada vez mais penso, prezada Magali, que as 79 pessoas que votaram no 18 concilio se encaixam no título desse livro. Foram pessoas boas, mansas de coração que tomaram uma decisão difícil. Não agiram de má fé, maldade ou algo do gênero. Mesmo sem conhecê-los um/a a um/a me arrisco a afirmar que são todas pessoas boas que tomaram uma decisão difícil...

Devemos daqui por diante tentar sentar com elas, "educá-las bem", abraçá-las sempre que possível, tal qual, certamente, Jesus faria e fará sempre; e acima de tudo não temê-las... Aos poucos descobrirão que não somos ecumeníacos, mas carne da carne, sangue do sangue do povo metodista e do povo de Deus; e ecumênicos/as, graças a Deus.

Um abraço querida irmã.

Maria Newnum - Maringá

Meditação Diária - 10 de agosto

Amós 2.13

Por que devem os cristãos preocupar-se com os problemas de desenvolvimento? A Conferência de Beirute, em 1968, sobre a Cooperação para o Desenvolvimento Mundial, patrocinada pelo Comitê de Sociedade, Desenvolvimento e Paz, organismo conjuntamente estabelecido pelo Conselho Mundial de Igrejas e pela Igreja Católica Romana, respondeu a isso de maneira muito simples:

"(...) Porque cremos seja da vontade de Deus, e que esse interesse e a ação que se segue são confiados a nós, como seres humanos, pelo Criador.

Deus nos fala através das exigências de pão, trabalho, saúde e educação, por parte de nossos semelhantes - em resumo, de dignidade e justiça humanas, (...) Como no tempo de Isaías, assim hoje Ele nos convida para as verdadeiras observâncias religiosas; 'Soltar as ligaduras da impiedade, desfazer as cargas pesadas e libertar os oprimidos, despedaçar tudo jugo... repartir o pão com o faminto, e recolher em casa os pobres desterrados' (Is 58.6-7). Assim também Jesus Cristo descreveu o juízo final: 'Toda vez que não fizestes a um destes pequeninos, não o fizestes a mim' (Mt 25.45".

A unidade da raça humana, ensinada pela teologia bíblica, tornou-se agora uma realidade física. Ontem talvez fosse difícil identificar-se alguém com pessoas que vivem do outro lado do globo. Hoje, porém, os indivíduos podem, dos mais remotos cantos da terra, assistir ao funeral de um Martin Luther King ou à investidura de um Príncipe de Gales, pela televisão, ou até mesmo à descida de homens na lua. Em poucas horas de vôo a jato transpomos continentes. Já não há mais distância. Hoje toda pessoa é realmente meu/minha próximo/a, e por mandamento divino, devo preocupar-me com os seus sofrimentos.

Meditação: Por que devemos nos preocupar com a violência e guerra que acontecem longe de nós? Como podemos, como cristãos e cristãs, proclamar a paz do nosso Senhor?

Extraído: Leitura Cotidiana da Bíblia - Edição Ecumênica - CMI.
Contribuição de Stephen e Maria Newnum - Maringá, PR.

09 agosto, 2006

Uma atitude de humildade que faz bem nesta hora

Por: Magali do Nascimento Cunha

Impressões de um católico sobre o Concílio Geral metodista

Na semana passada participei de um seminário ecumênico em que o tema de destaque em todas as conversas – no programa e nos momentos informais – acabou sendo a decisão de nossa Igreja Metodista de se desligar de qualquer associação oficial da qual a Igreja Católica Romana faça parte. Tive que responder a muitas perguntas. O mesmo aconteceu com outros/as metodistas presentes.

Um dos conferencistas era o Padre José Oscar Beozzo, secretário-executivo do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e à Educação Popular. O tema da apresentação dele era “Questões atuais do ecumenismo e do diálogo inter-religioso na América Latina”. Ele foi o representante da Igreja Católica Romana (CNBB) no último Concílio Geral da Igreja Metodista e participou integralmente de todas as sessões.

Claro que ele não poderia deixar de dizer alguma coisa sobre o Concílio Geral Afinal, havia o tema de sua fala + o tema de destaque em todas as conversas + a informação socializada de que ele esteve presente e viveu tudo o que foi vivido em Aracruz.

Gostei muito da fala dele. Avalio como uma atitude de humildade da qual nós, metodistas brasileiros, precisamos muito nestes tempos em que vivemos. Ele dividiu a reflexão em quatro momentos, o que passo a compartilhar com quem ler esta mensagem.

Primeiro: Aprendizado no Concílio

Ele relatou tudo o que aprendeu, sendo participante do concílio, onde esteve pela primeira vez. Falou de como foi bem acolhido, como se sentiu em casa – mesmo sendo o único padre católico-romano entre mais de 200 metodistas – disse: “não vi nenhum problema em relação à minha pessoa”.

Ele destacou também a transparência dos/as dirigentes da igreja, aliada à confiança que foi depositada nele e nos demais representantes de outras igrejas e organismos que receberam todo o material distribuído em concílio. Documentos, os mais diversos, chegaram às suas mãos, sem discriminação.

O padre Beozzo revelou que aprendeu muito pelo concílio ser um concílio de oração. Ele percebeu que a oração esteve presente ao longo de todo o evento. Na avaliação dele, geralmente, o mais comum é se ter momentos específicos de oração mas, palavras dele, “o coração aquecido metodista” se manifestou com uma presença constante da oração em diversos momentos – parava-se sessões para orar. Houve também o momento do jejum durante a eleição dos bispos e da bispa e um cantinho de oração permanente. O padre Beozzo aprendeu que há coragem nesta prática.

Outro elemento que lhe serviu de aprendizado foi o fato de que a caminhada da Igreja não é monopolizada por seu Colégio Episcopal (“o que é muito comum na Igreja Católica”, disse Beozzo). Ele destacou: “a voz dos batizados, dos membros do corpo – homens, mulheres, pastores, pastoras, leigos, leigas – era ouvida”. O ministério feminino tem um lugar significativo na Igreja Metodista, na visão do padre católico, que acrescentou: “por isso a Igreja Metodista saiu na frente na abertura para o ministério feminino no Brasil e é a única das chamadas igrejas históricas a ter uma bispa. Ela foi reeleita no último escrutínio – mas foi reeleita!”.

Impressionou ainda o padre Beozzo o fato de a Igreja Metodista ter uma “câmara jurídica” (a Comissão Geral de Justiça), com gente com formação em Direito para a qual se pode recorrer e apelar.

Segundo: Pedido de perdão

No segundo momento de sua fala, o padre Beozzo expressou um pedido de perdão por sua Igreja aos irmãos e irmãs metodistas presentes. Ele disse que se a Igreja Metodista quer se distanciar da Igreja Católica Romana é porque muitas coisas que esta igreja faz e fala provocam o afastamento das igrejas irmãs. Ele destacou que a Igreja Católica Romana, ao contrário do que muita gente pensa e fala, ficou muito tempo de fora da caminhada ecumênica na América Latina.

Desde a Conferência do Panamá em 1916, houve esforços de aproximação da parte dos evangélicos mas a Igreja Católica esteve ausente e recusou contato. Estar tanto tempo fora da caminhada, é elemento negativo no processo, diferente dos metodistas, que sempre estiveram entre os primeiros a se engajarem.

Beozzo declarou que sua igreja tem muito o que aprender com a caminhada ecumênica. Somente com João XXIII e o Vaticano II é que a busca de unidade aflorou, o que é uma decisão muito recente. Apenas em 1965 a Igreja Católica no Brasil afirmou que ecumenismo seria uma das seis prioridades de ação no país.

Por isso, ele apresentou três motivos especiais para pedir perdão aos metodistas:

1 – Soberba. A Igreja Católica Romana ainda é a maior igreja do mundo, agrupando 52% de todos os cristãos do planeta. Para Beozzo, é como “um elefante num jardim” – acaba esmagando as menores – não as ouve antes de tomar decisões que afetam todos os cristãos. É uma atitude de soberba.

2 – Posições Teológicas. Católicos Romanos ainda dizem que há apenas uma igreja e que Jesus Cristo não fundou várias igrejas. Uma das afirmações históricas, decorrentes do Vaticano II, é: “A Igreja de Cristo subsiste nas igrejas”.O problema, segundo Beozzo, é que a Declaração Dominus Iesus trocou a expressão “subsiste nas” por “e as”. Por isso, afirmou, a Dominus Iesus é atrapalha a caminhada ecumênica cristã pois ela deveria ter tratado apenas da questão do diálogo inter-religioso e acabou retomando afirmações anteriores ao Vaticano II.

3 – Eucaristia. O último documento sobre Eucaristia volta atrás nas ênfases do Vaticano II, pois afirma que não se partilha a comunhão do corpo e do sangue com as igrejas com quem não se tem comunhão.

Estes são três elementos destacados, segundo o padre Beozzo, dentre outros que têm causado sofrimento e dificuldades a outras igrejas, não só à Metodista. Por isso ele pediu perdão em viva voz.

Terceiro: impressões sobre a discussão do tema “ecumenismo”

No terceiro momento de sua apresentação, José Oscar Beozzo pediu licença a nós, metodistas presentes, para partilhar algumas idéias decorrentes do impacto que lhe causou as falas no momento da discussão em plenário sobre o tema “ecumenismo”.

1 – ele constatou que existem dificuldades na Igreja em relação ao tema e não se pode “tampar o sol com a peneira”, atribuindo-lhe caráter político ou jurídico tão só;

2 – houve um problema de método na apresentação do tema. Não houve diálogo. Não houve momento pedagógico de se suspender o debate, por vezes por demais acalorado, para se ouvir quem não teve chance de falar, conversar em grupos, por exemplo. Para Beozzo ficou claro que os discursos já estavam prontos e eram simplesmente apresentados, sem qualquer expectativa de alteração ou abertura para ouvir.

3 – Ficou nítida para o participante católico a existência de um problema pastoral. Houve momentos em que se ouviu “bispo, me ajude. O que fazer?” ou “estão saindo pessoas da igreja!”.

Para o padre Beozzo não é só o caso de estar saindo gente da igreja que deveria dirigir a discussão mas a pergunta: o que está fazendo gente sofrer nas igrejas? Esta pergunta não foi feita. Dizia-se muito das divisões, das saídas, mas, o padre Beozzo não ouviu ninguém perguntar “por que?”, por que as pessoas sofrem a ponto de sair? Por que as pessoas saem das comunidades? O problema pastoral se revela pela falta da pergunta e da resposta ao porquê. E isto se intensificava com as falas de pastores anotadas por José Oscar Beozzo: “Bispo, o que eu faço com esta situação?” Beozzo anotou a seguinte crítica em algumas falas: “vocês, que estão nas universidades, fora das comunidades locais, não vêem as dificuldades com o ecumenismo.

Quem vê é quem está na base, na comunidade local”. Por que esta afirmação foi feita? Mais um indício do problema pastoral, para o representante católico no concílio. “No chão pastoral”, afirmou, “há que se ter aproximação pastoral e não doutrinal tão só”.

4 – As reclamações sobre a Igreja Católica Romana que apareceram nas falas dos conciliares metodistas foram de três tipos:

a) repetiu-se o que aparece na mídia católica como a verdade sobre o catolicismo no Brasil. Isto confirmou que mais vale o que o padre Marcelo Rossi fala do que o que a CNBB fala. Isto, para padre Beozzo é um problema porque as redes de TV católicas não têm postura ecumênica e quando as pessoas só conhecem o que estas redes divulgam, fica muito difícil de lidar com a questão. Quem tem abertura para o diálogo e caminhada ecumênica, raramente tem destaque na mídia católica;

b) houve a reclamação de mau trato das lideranças católicas na base para com os evangélicos: “chamam a gente de seita!”. Beozzo reconhece a crítica como real, mas é preciso reconhecer também, para ele, que isso é fruto da falta de contato, de freqüência de encontro, de diálogo nas localidades;

c) houve reclamações de ordem doutrinal, como citações do Documento Dominus Iesus. A reclamação deve ser acolhida, diz Beozzo, mas não se resolve sem uma parada para pensar e dialogar com quem tem a mesma reclamação entre os católicos.

Quarto: O que fazer?

O padre José Oscar Beozzo terminou sua exposição indicando algumas questões práticas para a consideração dos presentes no seminário, que estendo à consideração de quem lê esta mensagem.

1 – o quanto revisamos nossos materiais de estudo com nossas bases para que tenham a dimensão ecumênica ressaltada?

2 – o quanto temos investido na formação ecumênica?

3 – quanto dos seminários teológicos inserem nas disciplinas do currículo a dimensão ecumênica?

4 – Não podemos desconhecer as quatro grandes tradições cristãs, do ponto de vista teológico, pastoral e litúrgico: a tradição oriental, a católica romana, a protestante e a pentecostal. Isto é urgente.

5 – Voltar nossa atenção principalmente à Bíblia e não só ao que dizem os patriarcas de cada confissão como Aquino, Lutero ou Wesley, dentre outros. Beozzo diz que ouviu mais sobre Wesley nas falas do concílio e pouco sobre a Bíblia. Não seria necessário voltar à Bíblia, que é o que nos une?

6 – É preciso trabalhar mais a espiritualidade ecumênica. Precisamos de espaço para realimentarmos nosso compromisso ecumênico. Nos momentos de oração a gente se encontra...

7 - Exercitar o convite para participação nos momentos litúrgicos, celebrativos e romper preconceitos. Ter uma acolhida fraterna nas celebrações... conhecer como celebram as diferentes tradições, por meio de visita fraterna.

8 – Na América Latina o compromisso ecumênico se renova nas lutas concretas por justiça e paz e a oração vai junto. Reafirmar e viver mais intensamente isto.

Então...

Eu me emocionei muito com a fala do padre Beozzo. Aprendi com sua humildade e sua espiritualidade e com sua postura aberta e desarmada. Suas impressões, algumas críticas, me ensinam muito. Concordo muito com a visão de que temos um problema pastoral. É verdade!

Quando vamos enfrentá-lo? Acredito que não é com votação ou legislação que trabalharemos a cura de feridas abertas que têm a ver com a questão ecumênica e ao mesmo tempo não!
Expliquei ao padre Beozzo, que diferente da fala de senso comum que ele anotou, estou na universidade e estou radicalmente integrada à base, à comunidade local – nunca deixei de sê-lo como leiga; até o ano passado eu era professora da escola dominical e agora sou aluna da classe de adultos. Estou na igreja local, e, por isso vejo, sim, as dificuldades com o ecumenismo.

Dificuldades que nascem da intolerância e da falta de amor que muitas vezes são ensinadas e propagadas por meio de estudos, pregações e canções da moda.

Aprendi muito com o padre Beozzo, ao ouvi-lo falar na semana passada. Preciso aprender mais com pessoas como ele a ter humildade e fraternidade em momentos como o que ele experimentou. Assim a gente vai vendo e vivendo a ação de Deus.

Magali do Nascimento Cunha
magali.cunha@metodista.br

O lugar comum

Por: Nilson da Silva Jr.

Certamente nossa humanidade nos faz conviver com algum tipo de ansiedade. Cada um de nós luta para realizar sonhos, e é isto que nos faz sofrer... a expectativa de chegarmos à conquistas que tanto queremos.

De alguma forma somos caminhantes, andarilhos/as à procura do lugar onde mora a realização do que queremos.

Freqüentemente observamos que nosso sofrimento existe não porque não temos objetivo, mas, porque mesmo sabendo onde queremos chegar, não sabemos como fazê-lo.

É aí que reside a nossa fé... é nesse espaço que ela atua, como esperança de que existe um lugar onde as coisas acontecem e se concretizam.

A meu ver, ter fé em Deus é crer que Deus é este lugar. Um lugar onde os sonhos e esperanças se encontram, fazendo surgir a felicidade.

Mas que lugar é Deus? Quem pode chegar a Ele?

Deus é o objetivo natural de toda a humanidade. Cada um/a de nós, de alguma maneira, de algum jeito, procura andar em sua direção. Existe uma devoção particular em cada pessoa.

Mas o que conflita a fé, ou Deus, ou o lugar onde todos/as queremos chegar, é o fato de existirem ações humanas que demarcam o caminho e, pior, procuram restringir o caminho a Deus a moldes próprios, peculiares.

É assim que Deus se torna um ambiente distante, difícil e até proibido a muita gente!

Na dinâmica da fé os conflitos acontecem mais pela forma de entender o caminho de Deus do que pelo caminho, propriamente dito! Em diversos momentos, as tensões são causadas não porque não queiramos andar em direção à fé, mas porque existe confusão sobre o que isto significa!

Quando o parecer pessoal age como regra e condição para o caminho, o caminho passa a ser uma questão de imposição, de interpretação e especialmente de transtorno!

A cena da Ceia é o exemplo mais clássico do caminho de Deus. É desafiadora demais para a nossa limitação humana! A mesa é um espaço comum onde Cristo chama a todos/as para cear com Ele.

Alimentaram-se do pão e do vinho pessoas desiguais... pescadores rudes e ignorantes se sentaram ao lado de um médico, de um ex-coletor de impostos, e até de um traidor!

Jesus não excluiu ninguém! E Ele sabia profundamente de todas as intenções que o cercavam naquele momento... não concordava com muitos interesses dos que o acompanhavam, porém, mesmo assim, considerava o simbolismo da mesa importante como processo de crescimento, e porque não dizer, até, de conversão!

Quantas vezes vemos gente cercando as mesas, impedindo que desiguais participem juntos/as! Criando critérios, condições, salientando mais a diferença do que a utopia da unidade. Negar o pão e o vinho ao/a próximo/a, porque o/a próximo/a não comunga das mesmas idéias, porque não tem a mesma tradição e costume, porque tem crenças que divergem, é negar o Cristo Salvador a quem Ele mesmo fez questão de se entregar!

Em diversas situações vemos discussões acirradas sobre diferenças religiosas, mas essas diferenças da fé são nada mais nada menos, que reflexos das diversidades pessoais impressas em cada um de nós! A intolerância é uma só com faces variadas e é dela que nascem problemas de crença, de racismo, de cultura, de discriminação social, e por aí vai.

Se as diferenças tiverem o poder de nos afastar, então de quem seremos próximos/as? Em maior ou menor grau, somos múltiplos em pensamentos, em potenciais, em discernimento! É preciso haver uma constante tolerância na vida, até para que hajam relações na sociedade, na igreja e na família! Tolerar é arte de respeitar e conviver mesmo na diversidade!

Da mesma forma que não concordamos com o pensamento de algumas pessoas, assim, também, existe quem não aceite a nossa maneira de ser, mas isto deve ser encarado com naturalidade, parte de nossa humanidade, não como desagravo, desconsideração... é aí que Deus nos ensina a convivência, com o que Pedro chamou de multiforme graça de Deus, (1Pe 4:10) que é multiforme porque também nós somos multiformes!

Achando pontos de equilíbrio nesta heterogeneidade é que sobrevivemos como pessoas e comunidades!

A mesa de Cristo está muito acima disso! Porque se a mesa fosse se pautar de acordo com as nossas fraquezas, e aberta somente aos/as semelhantes, então necessitaríamos de uma mesa para cada um de nós! E isto seria participar da nossa própria mesa e não da de Cristo! Porque a mesa d’Ele é oferecida a todos/as e o critério de participação é uma análise pessoal e não uma norma institucional! Pode até ser que nos neguemos participar desta refeição de desiguais, que não aceitemos assentar nesta “roda” onde o pão e o vinho são um só pra todo mundo... mas foi isto que o nosso Mestre fez!

Creio que Jesus é o lugar comum, o lugar de todos/as, onde nos aproximamos para sermos curados/as, abençoados/as e transformados/as! Que Ele nos abençoe!

Na graça e na paz,

Rev. Nilson da Silva Júnior
Pastor Metodista em Cândido Mota – SP
5ª Região Eclesiástica

Celebração ecumênica pela paz

Representantes de várias religiões se reuniram, no dia 7 de Agosto, para discutir ato inter-religioso pela paz.

Representantes das igrejas Católica, Muçulmana, Luterana, Budista, Afro-brasileiras, Fé Bahai, Anglicana, Metodista e Comunidade Espírita reuniram-se para discutir detalhes da "Noite de Oração pela Paz", quando todos vão se unir em oração para pedir a paz no mundo, em especial, o fim dos combates entre Israel e o Hisbolah, no Líbano.

A "Noite de Oração pela Paz", aberta a participação de pessoas de todas as confissões e crenças religiosas, vai ser realizada na segunda-feira, 14 de agosto, a partir das 20 horas, no Salão Social da Mesquita Muçulmana.

A organização do encontro é da Comissão do Diálogo Inter-Religioso, coordenada por Irivaldo Joaquim de Souza. "Vamos unir os nossos esforços e orações para pedir a Deus o interrompimento desse ciclo de violência no Oriente Médio", relata Souza.

O evento religioso será dividido em quatro blocos, e em cada um deles, três oradores vão coordenar as orações.

Ao final da celebração, os participantes vão extrair um manifesto que vai ser encaminhado ao presidente Lula; do Congresso Nacional, Renan Clheiros; dos Estados Unidos, George W. Bush; e ao Secretário Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi Annan.

(Murilo Gatti) - Jornal o Diário de Maringá

Ecumenicos en la Previa de la Internacional del Sida

Entidades ecuménicas e interreligiosa se reunirán antes de la XVI Conferencia Internacional sobre el SIDA que se celebrará del 13 al 18 de agosto en Toronto, Canadá, y cuyo lema es "Tiempo de cumplir", en la que se esperan más de 20 mil participantes entre representantes gubernamentales, investigadores, profesionales de la salud, activistas y personas que viven con VIH.

La Preconferencia Ecuménica e Interreligiosa será en la Universidad de Toronto del 10 al 12 de agosto. Su tema es "Fe en acción: mantengamos la promesa" por lo que las 500 personas que estarán en ese evento se comprometen examinar cómo pueden cumplir con sus propias promesas y desafiarán a los gobiernos y a los demás participantes a que cumplan con las suyas.

El Consejo Mundial de Iglesias participará es estas reuniones y en la XVI Conferencia Internacional. Las iglesias y las organizaciones de Toronto formaron un Comité Anfitrión Cristiano a través del Consejo Canadiense de Iglesias para apoyar y facilitar la presencia de grupos de inspiración religiosa. En la organización se encuentra la Alianza Ecuménica de Acción Mundial, la red internacional de iglesias y organizaciones cristianas que cooperan en la defensa de causas relacionadas con el comercio mundial y el VIH y el SIDA. + (PE)

PreNot 6151
060809

09/08/06 - PreNot 6151Agencia de Noticias Prensa Ecuménica598 2 619 2518 Espinosa 1493. Montevideo. Uruguaywww.ecupres.com.arasicardi@ecupres.com.ar

¿Porqué somos ecuménicos?

Por: Valdo Ferrari

"El que no ama a su hermano, a quien ve, no puede amar a Dios, a quien no ve".

Algunas personas piensan que la iglesia catolica no merece que estemos en comunión con ella. Creo que esa sola frase ya es un error, va en dirección equivocada. En primer lugar, quien se reivindique como evangelico parte de una teología de la Gracia, no de los méritos. Tenemos la Gracia de reconocer a hermanos y hermanas en Cristo más allá de dónde se ubiquen en el mapa religioso. Y de esto mismo se trata. Ningún concilio podrá impedir que "el viento sople donde quiera" y Dios siga levantando hermanos y hermanas, obreros, profetas y mártires del Evangelio en la iglesia católica como en cualquier otra. No soy ingenuo, conozco profundamente los daños que hace la institución católica a mucha gente sencilla, y cómo en nuestros países han acompañado a menudo los horrores más terribles cometidos contra los pueblos. Pero tampoco soy hipócrita: muchas denominaciones evangélicas han hecho lo mismo, incluyendo seguramente a los metodistas. ¡Y qué decir de los presidentes norteamericanos que invaden, matan y saquean pueblos en todo el mundo siendo ellos evangélicos -¡y metodistas!- y acompañados por millones de evangélicos de su país, y de otros países. ¿Acaso esos no son tremendos pecados?.

En nuestro caminar, muchas personas católicas y muchas evangélicas han sido de bendición; y muchas católicas y muchas evangélicas no lo han sido. Por lo tanto estamos errando el criterio para tratar de diferenciarnos entre nosotros.

La iglesia católica debe cambiar el nudo de su teología y el ritmo de su corazón. Las iglesias evangélicas también debemos revisar muchos aspectos teológicos y de práctica concreta. Es el camino de la santificación.

Con todos los errores de las instituciones y de sus jerarquías, Dios no ha dejado de estar presente entre los católicos, como entre muchas denominaciones y religiones alrededor del mundo. Y si Dios no se va de en medio de ellos, nosotros seguiremos estando.

Fraternalmente,

Valdo Ferrari
Pastor Iglesia Metodista de Remedios de Escalada
Buenos Aires, Argentina

Meditação Diária - 09 de agosto

Amós 2.11-12

Os nazarenos não cortavam o cabelo, lembrando a simplicidade e austeridade de vida e as observâncias religiosas durante os anos em que erraram pelo deserto. Constituíam eles uma lembrança não só das obrigações de Israel para com o Senhor, mas também da simplicidade que devia caracterizar uma observância religiosa genuína. Eram, ainda, uma repreensão ao estilo de vida comodista e suntuoso que prevalecia entre as pessoas abastadas de épocas mais recentes. E, como conseqüência, os ricos não só os ignoravam, mas também procuravam corrompê-los, tentando-os a abandonar a prática da abstinência, a qual servia também para recordar ao povo a austeridade dos dias do deserto.

Não só corrompiam aos nazarenos, mais ainda tornavam-se surdos à voz dos profetas. Os profetas eram suscitados por Deus para dirigir e aconselhar seu povo. Mas, prejudicados pela prosperidade e considerando-se auto-suficientes pelo êxito material, os israelitas não reconheciam mais a soberania de Deus e sua dependência dele. Não procuravam nem aceitavam orientação ou conselho. E assim eles repudiavam os profetas, mandando que se calassem.

Um povo que acaba com seus/suas próprios/as idealistas e silencia seus/suas profetas, é um povo que caminha para a ruína. Essa é a advertência de Amós. É um aviso que todo/a indivíduo/a e todas as nações — em todas as épocas da história — precisam guardar no coração. É verdade que existem falsos/as profetas, tanto quanto profetas autênticos/as. Mas, repudiar os/as últimos/as não é menos desastroso que seguir os/as primeiros/as. A história fornece ampla documentação dessas duas espécies de desgraça.

Meditação: Quais são os/as profetas genuínos/as de hoje? A sua voz está sendo ouvida? Como podemos responder à palavra profética para nossa realidade hoje?

Extraído: Leitura Cotidiana da Bíblia - Edição Ecumênica - CMI.
Contribuição de Stephen e Maria Newnum - Maringá, PR.

08 agosto, 2006

Qual é a força da Igreja Metodista?

"Portanto, saiamos até ele, fora do acampamento, suportando a desonra que ele suportou". Hebreus 13.13
Estas palavras de convocação nos faz imaginar uma Igreja como roda de parque que gira, que "envia" seus membros para fora com força centrífuga. Lamentamos a atitude de irmãs e irmãos que fazem parte de uma Igreja que teve a coragem de romper com as amarras opressoras no passado e hoje vemos uma atitude que cheira o retrocesso. Isso pode ser um sinal de que a direção da Igreja em questão, está confusa e perdida em relação a proposta da Comunidade dos Hebreus. A Igreja de Jesus Cristo não pode sofrer uma ação centrípita. Isso não pode acontecer com a Igreja. A Bíblia mostra que Deus tem vocação centrífuga para seu povo. Assim como Cristo foi fora do arraial, a fim de levar e purificar pelo seu sacrifício um povo para si, a Igreja é chamada a sair por este mundo afora como gente, como testemunha de força e aconchego. Uma Igreja que for centrípita, que só pensa em si, vai causar estrago! Deus quer que nos identifiquemos totalmente com Cristo. Portanto, saiamos, rompendo com a vidinha centrípita que gira em torno de nós mesmos. Saiamos para o novo, para novas relações e anunciemos Cristo no diferente.
Senhor Jesus! Obrigado que Tu saíste da glória eterna para sofrer fora das portas, em nosso mundo contaminado pelas divisões e injúrias.
Abraços ecumênicos.
Pr. Raimundo, IECLB de Maringá

ALC continua divulgando as repercussões do 18 concílio

BRASIL
Debate sobre decisão conciliar metodista vai além das questões teológicas

SÃO PAULO, 7 de agosto (ALC) – O debate suscitado pela decisão conciliar de retirar a Igreja Metodista do Brasil daqueles organismos ecumênicos que tenham a presença da Igreja Católica e de grupos não-cristãos não se restringe ao campo pastoral e teológico, mas envereda também pela análise da letra legal.

Enquanto o teólogo, sociólogo e bacharel em Direito, Lair Gomes de Oliveira, alega que a decisão conciliar é inconstitucional porque fere o Cânone da Igreja e não respeita a cláusula dos dois terços, o pastor e advogado metodista Dino Ari Fernandes, em texto postado no blog http://www.metodistaecumenico.blogspot.com/, sustenta que ela não é inconstitucional, pois não contradiz qualquer cláusula pétrea da Constituição da Igreja.

Se a análise de Gomes de Oliveira estiver correta sobre a inconstitucionalidade da decisão, de que aquela aprovação só poderia ocorrer por decisão de dois terços dos membros do Concílio Geral, também a filiação da Igreja Metodista ao Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), aprovada em 1982, teria que se dar sob o mesmo critério, argumentou Ari Fernandes.

A matéria entrara na pauta de votações do 17. Concílio Geral, reunido em Maringá, Paraná, em 2001, quando foi decidida pela manutenção da Igreja Metodista no CONIC por 65 votos a favor, 33 contrários e seis abstenções, de um colégio eleitoral de 104 membros. Pelo argumento dos dois terços, para tal decisão o Concílio teria que ter alcançado 70 votos, lembrou Fernandes.

O 18. Concílio, reunido este ano em Aracruz, Espírito Santo, votou a retirada da Igreja Metodista de organismos ecumênicos por 79 votos a favor e 50 contrários.

Em carta pastoral dirigida aos conciliares, na abertura do encontro de Aracruz, o colégio episcopal disse que seria importante o 18. Concílio reafirmar “o compromisso da Igreja com a unidade de Igreja estendendo nossa destra de comunhão de todas as Igrejas e organismos que mantêm como sua base de fé a confissão de Jesus Cristo como Deus, Senhor e Salvador”.

Na mesma carta, os sete bispos e a bispa do então colégio episcopal metodista, renovado parcialmente no Concílio de Aracruz, expressaram alegria em “compartilhar do movimento de unidade do Corpo de Cristo ao estarmos presentes nos diversos órgãos, ministérios e instituições comprometidas com a unidade do evangelho em termos de missão e evangelismo, testemunho e serviço, tendo como maior objetivo testemunhar ao mundo o amor de Deus revelado em Jesus Cristo”.

A manifestação dos bispos não impediu a decisão conciliar de retirar a Igreja Metodista de organismos ecumênicos que tenham a presença da Igreja Católica. A determinação provoca reações dos que a aprovam e aplaudem e dos que a questionam e repelem. A missionária aposentada Dorothy Schatzman Santee, da Missão Global Metodista, disse, em manifestação postada no blog, que ficou “muito triste e também ofendida” com aquela decisão.

As pessoas que assim o quiseram, prosseguiu a missionária, “na realidade votaram em retirar a Igreja Metodista no Brasil do próprio ‘Metodismo’”. Santee finaliza sua manifestação proclamando que a Igreja Metodista “continuará a ser ecumênica, eu continuarei a ser ecumênica e nenhuma votação política mudará isso. Espero que o Concílio Geral em sua continuação, em outubro, se reposicione”.

Admirador de John Wesley, o pastor anglicano Hermany Soares, da Igreja Anglicana Ortodoxa no Brasil, remeteu manifestação ao Portal dos Metodistas Online (http://www.metodistaonline.kit.net/) parabenizando a comunidade metodista pela decisão conciliar.

Ele se confessou surpreso e feliz com a decisão, pois “num mundo onde as igrejas que entram no engano do movimento ecumênico, não vemos as igrejas voltarem atrás, muito pelo contrário, se deixam levar pelos liberais, que, com palavras bonitas e em ‘nome do amor de Cristo’, se unem com aqueles que um dia ‘deixaram a fé apostólica em busca de fábulas’”.

Soares acredita que, com a decisão conciliar, a Igreja Metodista “terá um novo impulso evangelístico, pois as próximas gerações de profetas se formarão descontaminadas dessa praga liberal e ecumênica”.

De 20 de julho até a última sexta-feira, 5 de agosto, o blog metodista recebeu 1.443 visitas, de diversas regiões do Brasil e de outros países.

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