25 agosto, 2011

Igreja, comunidade promotora de humanidade (Pastor Ronan Boechat de Amorim)

Igreja significa reunião.
É, portanto, um grupo de pessoas reunidas pela fé em Jesus.
É a comunidade da fé,
a comunidade dos discípulos(as) de Jesus,
a comunidade das testemunhas do amor de Jesus,
a comunidade dos amigos e amigas de Jesus.

Esses amigos e amigas foram reunidos por Jesus
que chamou seus discípulos(as)
e os capacitou, autorizou e os enviou pelo mundo
para anunciar o Evangelho (a Boa Nova!) do Reino de Paz e justiça,
Promovendo a fé e espalhando o convite de Jesus para um mundo novo.

A Igreja não tem um fim em si mesma. Não vive pra si mesma!
Ela é um instrumento através do qual Deus cuida do mundo!
Por isso os olhos da Igreja devem estar em Deus, de quem é instrumento,
para não esquecer quem é e a tarefa que tem.
Por isso os olhos da Igreja devem estar no mundo ao seu redor,
a quem ela serve em nome de Deus, para não alienar-se dele.

A Igreja existe para promover a vida
num mundo com tanta violência, opressão e morte,
acolhendo, protegendo e fortalecendo os mais fracos,
reunindo todas as pessoas num grande projeto de solidariedade para com as demais pessoas e o meio ambiente;
educando os mais jovens para a tolerância, para a realização de sonhos e a importância de se preservar valores éticos e humanos;
educando os adultos e mais idosos para o acolhimento e respeito aos mais novos, às novas práticas e visões;
educando a todos para generosamente chorarmos com os que choram e nos alegrar com aqueles que se alegram;
e profetizando juízo sobre os que promovem injustiça e violência
e que se enriquecem
com a escravização e exploração do outro.

A Igreja existe para anunciar o Evangelho (a Boa Nova),
para promover a reconciliação e paz entre as pessoas,
para promover justiça e misericórdia, amizade e generosidade.
Para promover humanidade!


24 agosto, 2011

Mosaico (Pr. Nilson da Silva Junior)

Foi lançado há poucos dias o livro “Cristianismos – Questões e Debates Metodológicos” de autoria de André Leonardo Chevitarese. O autor é historiador, professor doutor do núcleo de história da Universidade Federal do Rio de Janeiro e consultor das revistas Superinteressante e Galileu. Em entrevista ao “Programa do Jô”, da Rede Globo (19/07), comentou que o livro apresenta alguns resultados da pesquisa histórica relacionada à religião e à vida de Jesus. Segundo o autor, os trabalhos demonstram que nenhuma denominação religiosa pode utilizar o cristianismo como motivo para intolerâncias e o ponto central do texto está na questão de que toda percepção religiosa deve ser entendida no plural, por isso, o título utiliza a palavra Cristianismos e não Cristianismo. Chevitarese afirmou que se esse entendimento for aplicado, as relações entre indivíduos podem se tornar bem melhores.

A provocação desta obra é interessantíssima e pertinente, afinal, um dos fatores mais prejudiciais à boa convivência religiosa sempre esteve no entorno de tentar ignorar a existência da pluralidade. Sejam nos pensamentos ou nas tradições, na interpretação ou na contextualização, a religião é um oceano vastíssimo, formado por experiências e conclusões individuais, que quase nunca se repetem da mesma forma, por mais que se tente.

Por isso, tratar Cristianismo como Cristianismos, talvez seja a melhor maneira de entender e aceitar a característica facetada desta religião, que é diversa nos vários países, nas várias culturas e nas muitas denominações. E talvez, uma ação ainda mais contundente seria usar esta percepção para outras áreas da vida, redimensionando questões do cotidiano com a mesma lógica. Por exemplo, poderíamos conceber a existência de ideias, ao invés de ideia, conclusões, ao invés de conclusão, e substituíssemos outras palavras… pensamento, por pensamentos, visão, por visões, ação por ações.

Esta é uma lição infinita que poderia transcender não somente a religião, mas também os costumes, a maneira de interpretar, de falar, de agir. Além do mais, admitir a pluralidade é caminhar em direção ao respeito, a tolerância, a participação, à comunhão. Não há como o mundo ser mundo sem a variedade das cores, formas, raças, opiniões. Ele só será bom e bonito se nos entendermos como um grande mosaico, capaz de formar beleza a partir da individualidade existente em cada um de nós.

Ao olharmos para o relacionamento de Jesus com seus discípulos, nos deparamos com um verdadeiro mosaico. O evangelho de Lucas demonstra que o Mestre escolheu doze homens, “aos quais deu também o nome de apóstolos: Simão, a quem acrescentou o nome de Pedro, e André, seu irmão; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu; Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado Zelote; Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, que se tornou traidor” (Mateus 6.13-16). Dentre estes, existiam ex-pescadores, um ex-cobrador de impostos, além de outros personagens comuns do povo e, até mesmo um traidor, como destaca o texto. Essa variedade de indivíduos, com histórias, experiências e personalidades diversas, é que compôs o primeiro mosaico cristão da humanidade, que, com seus defeitos e qualidades, nos desafia até hoje na luta da convivência e da religião.

Quem sabe possamos aceitar a indicação do historiador para considerar a pluralidade como parte integrante de nossas vidas. Quem sabe tenhamos a capacidade de imaginar algo maior do que a nossa individualidade e sermos mais receptivos em nossas relações, tolerantes em nossas posições e compreensivos em nossas diferenças.

Rev. Nilson

22 agosto, 2011

Ecumenismo pode ser beneficiado por decisões institucionais, mas não depende delas para acontecer (Pastor Ronan Boechat de Amorim)

Alguns delegados(as) ao último Concílio Geral da Igreja Metodita, reunido em Brasília dias 9 a 17 de julho de 2011, retiraram da agenda do Concílio as propostas para que fosse discutida a revisão da decisão do penúltimo Concílio Geral que determinou a saída da Igreja Metodista dos órgãos ecumênicos onde a Igreja Católica esteja representada.

A retirada da discussão da proposta não foi por medo, nem por impotência ou concordância com a decisão equivocada do penúltimo Concílio Geral, mas pelo clima missionário e de conciliação que tomou conta das 9 sessões desse 19º Concílio de Brasília.

Certamente a discussãodo retorno da Igreja Metodista aos órgãos ecumênicos onde a Igreja Católica também se faz representar seria acalorada e nada fácil.

A saída da Igreja desses organismos ecumênicos não impediu a Igreja e seus pastores(as) e líderes leigos(as) de serem ecumênicos, tanto quanto a presença da Igreja nesses fóruns ecumênicos não promoveu de fato o ecumenismo na base da igreja, nas igrejas locais. Assim, a tal decisão do 18º Concílio não obrigou ninguém a deixar de ser ecumênico e ter práticas ecumênicas, do mesmo modo que o retorno a esses fóruns ecumênicos não obrigaria ninguém a ser ecumênico.

Aqui na cidade do Rio tínhamos há poucos anos atrás reuniões regulares de padres e pastores de várias denominações evangélicas. As reuniões reunião 20 ou pouco mais pessoas para um café, conversas, momentos de oração e construção de amizade, respeito e diálogo. Alguns tiveram a idéia de isntitucionalizar o "movimento ecumênico" numa sub-seção do Conic Rio. E isso aconteceu.

Infelizmente o movimento foi institucionalizado e as reuniões de amigos(as) que aconteciam informalmente deixaram de acontecer.

Para ser da diretoria do movimento institucionalizado no Conic-Rio era, por exemplo, nomeado pelo Bispo da Região, o que é certo. A questão é que deixou de ser movimento, deixou de ser inclusivo, deixou de ser... pois acabou.

Pode parecer simplista e superficial essa análise, mas os metodistas ecumênicos, homens e mulheres, leigos e pastores, precisamos recriar o movimento ecumênico, a prática ecumênica, na vida, no cotidiano, como era na cidade de Duque de Caxias nos anos 80 com o movimento Baixada Livre, liderado pelo Rev. Melchias Silvas, e envolvendo os pastores e a liderança leiga do Distrito num movimento que saía dos gabinetes, dos fóruns, das conversas de uns poucos e virava festa, encontro,celebração, vida ecumênica quotidiana.

Nós ecumênicos precisamos ter práticas ecumênicas e não apenas valores, atitudes e discursos ecumênicos. Precisamos mostrar que o ecumenismo que constrói respeito, diálogo e anúncio, solidariedade e amizade, é algo benéfico para o nosso testemunho e nossa prática evangelizadora.

A divisão da Igreja cristã e a falta de respeito entre denominações, entre grupos de poder, entre segmentos teológicos, e essa prática de falar mal uns dos outros, desqualificando-os como cristãos, é uma vergonha que macula a fé cristã. Pois diante das outras práticas religiosas e dos que promovem o ateísmo, parecemos um "saco de gato" de grupos arrogantes, confusos e que querem ser uns maiores emais certos que os outros. Como se diz por aí, "casa onde todo mundo briga e grita, ninguém tem razão".

Como disse Jesus em João 17, e que foi ampla e explicitamente apontado pelo Bispo Metodista da Igreja do México, a falta de unidade é segundo João 17:21 uma forte razão para que o mundo não creia no Evangelho. A unidade (respeito, camaradagem)é fundamental para que o mundo creia qiue Jesus, o Salvador dos diferentes grupos cristãos, é o Deus Vivo que quer salvar este mundo e a cada pessoa de nosso mundo.

Quero que a Igreja Metodista volte a fazer parte de todos os órgãos e fóruns ecumênicos. Mas desejo, oro e trabalho muito mais para que nossa prática ecumênica não dependa disso.

Teu irmão e tua irmã, estão aí... estenda a mão em amizade e respeito. Há questões doutrinárias e teológicas que não teremos como resolver e superar nesse mundo, ou seja, vamls continuar sendo diferentes, mas podemos nos relacionar respeitosamente, generosamente, benignamente, cristãmente. Vamos continuar com as nossas convicções e certamente em nossas denominações e instituições denominacionais, mas podemos experimentar uma unidade de amor e respeito. É a tal unidade nadiversidade.

"Se o teu coração é igual ao meu, dá-me a mão e meu irmão serás", dito por João Wesley, o fundador do metodismo, continua sendo um desafio para nós, metoditas brasileiros do século XXI.