22 dezembro, 2007

Mateus Ricci e João Adão Schall von Bell - jesuitas que por volta de 1583 promoveram a inculturação da fé cristã na China e sofreram com o dogmatismo

(texto extraído do capítulo 6 do livro "Começando de Jerusalém", escrito por John Foster e publicado em português em 1961 pela Imprensa Metodista que narra de forma suscinta e intrigante o avanço missionário e a expansão cristã através de dezessete séculos, começando justamente de Jerusalém).

Em 1583, Mateus Ricci, jesuíta italiano, não apenas penetrou no sul da China, mas dentro de vinte anos esta­va residindo em Pequim, a capital, e estava começando a influenciar os círculos da corte.

Havia se tornado chinês no vestuário, maneiras e falar, e havia conquistado amigos entre os oficiais por sua vasta cultura, tão diferente de toda a educação literária deles. À sua casa podiam ir para examinar e discutir seus relógios e lentes; instrumentos e livros matemáticos, astronômicos e geográficos; música quadros e pinturas; livros e Bíblias em encadernações mag­níficas.

Ricci era bastante erudito em literatura chinesa, respeitava bastante os costumes chineses, e muitas vezes usava termos dos clássicos chineses (Shang-ti, Ser Supremo e T'ien, Céus), quando falava de Deus. Dizia que as ceri­mônias que demonstravam reverência para com Confúcio, e para com os antepassados de uma pessoa, não precisavam ser consideradas como culto, e desse modo não colidiria inevitavelmente com a Fé crista. Conta-se que ao morrer, em 1610, havia 2.500 cristãos. Entre estes se incluía um dos mais altos oficiais, sete membros de uma família inti­mamente relacionada com o imperador, e seis senhoras da corte. Conversões como essas aumentaram. Em 1648, quando os manchus estavam invadindo a China pelo norte, o herdeiro do trono, a imperatriz e duas imperatrizes dowagers foram batizados, recebendo o Príncipe o nome de ba­tismo de Constantino. Realmente iria repetir-se aqui a his­tória do império romano?

Os manchus triunfaram, mas as esperanças dos jesuítas ainda eram muito grandes. Pois o Padre João Adão Schall von Bell (1591-1666), alemão, foi nomeado oficial astrôno­mo, e exercia grande influência junto do novo imperador manchu.

Schall escrevia:
“Como antigamente uma estrela trouxe os Magos à adoração do verdadeiro Deus, assim o Príncipe do Extremo Oriente, pelo conhecimento das estrelas, pode ser levado a reconhecer e a adorar o Senhor.”

Aqui estava ainda uma outra esperança não realizada. O novo imperador foi o maior de todos os manchus, K'ang-hsi. Foi um estudante sério das ciências européias, e durante cinco meses estudou diariamente com o Padre Verbiest. Embora nunca persuadido a tornar-se cristão, foi ele que le­vou a missão a conseguir o seu maior sucesso, publicando um decreto em 1692, garantindo liberdade do culto cris­tão por todo o império. O conhecimento de que os jesuítas gozavam de prestígio na corte impediu por muito tempo que os oficiais locais interferissem, e por esse tempo afir­mava-se haver 300.000 cristãos que se encontravam em to­das as províncias menos no extremo ocidente. Além dos jesuítas, dominicanos e franciscanos e alguns outros ti­nham vindo para valer-se da oportunidade.

Houve, porém, uma séria divisão entre os missioná­rios, especialmente dos dominicanos contra os jesuítas, quanto ao problema de até onde o cristianismo podia aco­modar-se ao costume chinês.

A famosa controvérsia dos Ritos (inevitável a comparação com o que aconteceu em Madura, na índia) foi encaminhada para Roma, discutida entre os eruditos da Europa, e não termi­nou durante um século (1634-1742). Em seu âmago havia estes dois problemas:
1) Poderiam os cristãos usar para "Deus" Shang-ti e T'ien dos clássicos confucianos, ou devem ser limitados a um único termo T'ien cha (Senhor dos Céus)?
2) Poderiam os cristãos ligar-se a outros oficiais em cerimônias, honrando Confúcio como um legislador, sem adorá-lo; e, semelhantemente, poderia um cristão unir-se a outros membros de sua família em reverência aos seus an­tepassados, sem adorá-los?

O imperador K'ang-hsi estava bastante interessado em dar a sua opinião — em apoio da permissão de Ricci de há muito estabelecida em ambos respeitos. Quando foi anunciada a decisão do papa em 1704, verificou-se que era proibição.

Uma cópia chinesa da de­cisão do papa ainda subsiste, apresentando notas furiosas a tinta vermelha, pela mão do imperador:
“Isto demonstra como os ocidentais de mentalidade estreita falam a respeito da alta doutrina da China — entretanto nenhum deles tem educação chinesa!... O autor disto é como qualquer outro sacerdote budista ou taoísta, mas nenhum jamais foi tão longe quanto ele. Doravante não se permitirá a nenhum ocidental propagar a sua religião na China. Assim evitaremos muitos aborrecimentos.”

A ameaça de K'ang-hsi não foi cumprida literalmente. A Missão de Pequim, ligada à corte por serviços astronômi­cos e outros, permaneceu sem ser molestada até 1805, mas em outras partes, desde 1707 por mais de um século e um quarto (125 anos) houve surtos de perseguição, com prisões, exílios e execuções.

Todavia, nunca faltaram recrutas missionários, embora chegassem em números menores, algumas vezes através de rotas indiretas, e muitas vezes com risco de suas vidas.

Em 1810 informou-se que trinta e um sacerdotes europeus e oitenta chineses estavam trabalhando no impé­rio. Embora uma parte de sua obra tivesse sido destruída, a religião cristã não devia desaparecer nessa ocasião.

Quando, em meados do século 19, começou a raiar novamente a alvorada da oportunidade, haveria uma Igreja de cerca de um quarto de um milhão (250.000) para saudar o novo dia.


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Este livro pode ser lido integralmente no site da Igreja Metodista de Vila Isabel.

Roberto de Nóbili - um jesuíta que por volta de 1605 ousou viver um cristianismo que se fez indiano com o povo da Índia

(texto extraído do capítulo 6 do livro "Começando de Jerusalém", escrito por John Foster e publicado em português em 1961 pela Imprensa Metodista que narra de forma suscinta e intrigante o avanço missionário e a expansão cristã através de dezessete séculos, começando justamente de Jerusalém).

Em 1605, Roberto de Nóbili, jesuíta de descendência italiana aristocrática, sobrinho de um dos mais famosos car­deais, chegou em Madura, no sul da Índia, centro da cul­tura hindu tâmil. Ficou desgostoso ao ouvir os cristãos apelidados de "Ferengi", ou seja, europeus, e ao encontrar pouca gente, e assim mesmo pária, forçada completamente a ficar do lado cristão, ou mesmo comprada para isso.

“O cristianismo precisa tornar-se indiano, e precisa conquistar os brâmanes, se quiser ganhar a Índia”. Assim sendo, propôs-se ele mesmo tornar-se um santo nos termos da vida indiana.

Abandonou todos os costumes europeus e vestia-se, comia, vivia e se parecia um indiano. Ainda mais ri­goroso, abandonou a língua italiana pela tâmil. E desse modo tornou-se o primeiro europeu a pesquisar a literatura sanscrítica. Ele próprio descreve a sua obra:
“Logo que dominei a língua dei início a discussões, tanto públicas quanto particulares — muitas vezes com brâma­nes, que são os letrados desta terra. Neste ano (1609) cinqüenta se converteram, e este é o capital tanto no que tange à erudição quanto à política, e assim a conversão é mais difícil aqui do que em qualquer outro lugar.”

Desde logo a Missão de Madura estava contando 1.000 convertidos por ano, embora apenas um número insignifi­cante de brâmanes. Alguns, ganhos com excessiva facili­dade, facilmente se foram. Muitos consideravam essa po­lítica um compromisso com o paganismo, até que uma de­cisão favorável de Roma, em 1623, silenciou tais acusações.

Depois do falecimento de Nóbili (1656) novamente se for­mou a tempestade. A longa controvérsia, conhecida como "os Ritos de Malabar", continuaram até 1744, quando Roma limitou estritamente a adoção de costumes indianos.

Se a Missão de Madura tivesse a tendência de tornar o cristianismo excessivamente indiano, antes de Nóbili, cer­tamente teria sido muito mais português. Poucos missio­nários quiçá poderiam ter-se entregues a si mesmos, mais completamente a um país que não o seu próprio, ou ter exemplificado mais plenamente as palavras de São Paulo: "Não pregamos a nós mesmos".
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Este livro pode ser lido integralmente no site da Igreja Metodista de Vila Isabel.

O Espírito Ecumênico do Metodismo

(Texto extraído do livro "As Crenças Fundamentais dos Metodistas", escrito por Mark B. Stokes e lançado pela Imprensa Metodista em 1962).


Nós, metodistas, temos orgulho de nossa herança. E acreditamos que a melhor contribuição que podemos dar ao movimento ecumênico é levá-lo a uma profunda apreciação e maior compreensão de nossa própria identidade. Ao mesmo tempo, desejamos, sinceramente, trabalhar cooperativamente e criativamente na direção de uma maior unidade de espírito, organização e liderança entre todos os cristãos. Wesley insistia no "espírito católico". Seu sermão sobre este assunto contém algumas das melhores observações sobre a tolerância em toda a literatura cristã. O espírito ecumênico pode começar com a tolerância — no sentido total da palavra — mas vai, além disso, na busca da concordância e da unidade sempre que forem possíveis.

Neste sentido, tem sido sugerido freqüentemente que o Metodismo é católico, protestante e evangélico. É católico (universal) porque compartilha da revelação bíblica e da vasta, rica e cumulativa tradição do cristianismo. É católico em seu chamado a todos os metodistas para que compartilhem dos esforços na busca da unidade cristã.

O Metodismo é protestante porque leva a Bíblia a sério. É protestante em seu chamado a todas as pessoas para que compartilhem da responsabilidade na procura de almas e na reavaliação crítica. É protestante no respeito à consciência das pessoas e porque conclama a todos que busquem, observem e compreendam a si mesmos. É protestante em seu protesto contra tudo o que é falso e demoníaco na Igreja e na vida das pessoas "religiosas".

O Metodismo é evangélico em sua ênfase em um relacionamento vivo com Deus através de Cristo. É evangélico em sua vontade de ganhar o mundo para o Reino. É evangélico em sua luta para alcançar este fim através da conversão e rededicação de indivíduos e da transformação da sociedade. É evangélico em seu chamado a todos os metodistas para que, em seu modo próprio, cresçam em sua eficácia como testemunhas vivas daquilo que Deus fez neles e do que pode fazer através deles.

O movimento ecumênico começou com a Conferência de Edimburgo, em 1910. Neste curto período desde então, muitos avanços foram feitos em relação à unidade cristã. Há um longo caminho a perseguir, e jamais faremos a jornada de uma vez. Mas as conversações estão acontecendo. Estamos mais familiarizados uns com os outros. Estão sendo feitas propostas — às vezes sábias, às vezes impraticáveis.

Penso particularmente nos diálogos católico-metodistas que tiveram início, do nosso lado, pelo Concílio Mundial Metodista em 1966 e, do lado católico, pela Secretaria para a Promoção da Unidade Cristã. Estas conversações têm continuado ano após ano. As principais diferenças — algumas das quais são fundamentais — foram identificadas. As grandes áreas de concórdia também já ficaram claras. Por exemplo, nossa concordância com os católico-romanos no diagnóstico dos problemas e enfermidades do mundo moderno é notável. E no aspecto da espiritualidade, compartilhamos não apenas de uma herança comum desde os dias dos apóstolos, mas também na ênfase da busca da santidade. Em ambos os lados, a ênfase da santidade tem suas dimensões individuais e sociais. Pois concordamos que a vida espiritual em comunidade deve se manifestar na justiça, na paz, na boa vontade e na liderança construtiva.

Mas esta é apenas uma pequena dimensão da busca ecumênica. Existem muitas outras, numerosas demais para se mencionar. Mas uma coisa é certa: onde quer que haja cristãos interessados em se encontrar e compartilhar, em trabalhar juntos nas lutas contra a desumanidade e a mediocridade, em louvar e orar juntos e, onde for possível, se organizarem em uma comunhão comum — ali, nós, metodistas, estaremos presentes e trabalhando. Muitas diferenças permanecem.

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Este livro pode ser lido integralmente na Biblioteca Metodista on line no site da Igreja Metodista de Vila Isabel.

21 dezembro, 2007

Ecumênicos: Nem que seja em uma NOITE DE PAZ!

Ronan Boechat de Amorim

Depois de ser o professor de uma Classe de Liderança na Escola Dominical de Vila Isabel onde estudamos as Pastorais do Colégio Episcopal (entre elas a Pastoral sobre o Ecumenismo), estava relendo por estes dias o livro “As Crenças Fundamentais dos Metodistas”, e me deparei em sua página 18 com a afirmação de que nós metodistas “cremos na Igreja ecumênica”, “que nos orgulhamos do metodismo” e ainda que nos envergonhamos de não fazermos o máximo para unir todas as denominações numa fraternidade parte e ação íntimas”.

Tenho pensado sobre o lugar da proposta ecumênica hoje em nossa Igreja. E as primeiras perguntas que surgem são: Somos de fato uma igreja ecumênica? Em que nível ou lugar da Igreja concretamente vemos uma prática ecumênica? Com certeza somos ecumênicos em nossos principais documentos, na celebração de algumas cerimônias, em alguns discursos feitos em determinados ambientes favoráveis e exigentes de um discurso ecumênico... mas é algo muito pequeno diante do imenso desafio do ecumenismo. Acredito que já fomos mais ecumênicos do que somos hoje. Curiosamente os primeiros missionarios metodistas norte-americanos que chegaram ao Brasil e que foram perseguidos, humilhados, apedrejados, etc... foram a liderança mais ecumênica que a Igreja Metodista teve no Brasil.

Até a alguns anos atrás, apesar de sempre haver resistências ao ecumenismo, tínhamos uma liderança de fé e prática ecumênica. Hoje já não há, em minha opinião, nem mesmo uma liderança ecumênica, mas pessoas ecumênicas que não estão necessariamente na liderança da Igreja.

Mas eu sou Metodista. E justamente por ser metodista (desde aquele longínquo ano de 1974 quando aceitei a Jesus como meu Senhor, Salvador e Deus, na classe de adolescentes da Escola Dominical da Igreja Metodista em Itaperuna, RJ) tenho aprendido que muito, muito, muito, muito mais importante que a denominação religiosa é ser parte do Corpo de Cristo. Que posso abrigar-me sob o nome e a bandeira Metodista, mas meu supremo desejo, meu alvo imediato e eterno é estar sob o Nome que está acima de todos os nomes, o nome de Jesus Cristo.

Desde então meu coração, o meu ministério pastoral, a comunidade de Vila Isabel onde pastoreio há 12 anos, o culto que prestamos ao Senhor, a Ceia do Senhor (e não a “Ceia da Igreja Metodista”) estão abertos e franqueados à participação de todo aquele que confessa e professa que Jesus Cristo é Senhor.

Preservar a característica ecumênica (a unidade) da Igreja de Jesus, é mais que um desafio, um ideal. Para mim é uma ordenança de Deus: “Sermos um para que o Mundo Creia!”.O Ecumenismo não é uma responsabilidade só da liderança e dos que têm funções de mando e poder eclesiástico, mas um motivo de oração, um desafio e parte da espiritualidade de cada crente. Particularmente dos cristãos metodistas...

Precisamos ter clareza de que ao utilizarmos a expressão "ecumenismo" estamos falando não de juntar todas religiões e nem mesmo juntar todas as igrejas denominacionais numa única Instituição, mas em trabalhar pela unidade do povo de Deus, pelo respeito e pelo reconhecimento do Evangelho na vida dos demais cristãos e não achar que eu e minha denominação somos os "únicos salvos!" É verdade que quando a Igreja Católica fala oficialmente de Ecumenismo ela entende isso apenas como o retorno dos "irmãos separados" (pela Reforma Protestante) à instituição e à teologia e ritos católicos. Mas não deve ser esse reducionismo o nosso entendimento pelo desafio ecumênico. Somos muitos, somos diferentes, somos em determinadas circunstâncias, muito diferentes uns dos outros. Mas Deus nos desafia a nos olharmos e a nos tratarmos com amor e paciência e cuidarmos uns dos outros no temor do Senhor.

Eu não quero e não prego que os metodistas sejam como os batistas ou que os batistas sejam como os pentecostais. Eu quero que os metodistas amem, respeitem, intercedam, se solidarizem, bendigam e abençoem os batistas. E a todos os demais cristãos. E que cada grupo denominacional ame, respeite, interceda, se solidarize, bendiga e abençoe aos demais grupos cristãos... Devemos ser um povo que tem um só Senhor e uma só fé. Para que o mundo creia, nos ensinou Jesus, pois a casa dividida não subsiste. Nossa divisão e falta de amor e respeito é uma vergonha para o Evangelho, pois além de nossa luta não ser contra o sangue e a carne e nem contra as denominações diferentes de mim e da minha denominação, confundimos a cabeça do descrente ao falarmos mutuamente mal uns dos outros. O descrente no Evangelho deve achar que somos um “saco de gatos”... a família esquizofrênica do Príncipe da Paz... pois se não nos entendemos uns com os outros, nem ao menos nos respeitamos e nos bendizemos, como queremos que o mundo entenda a nós, nosso testemunho e nossa fé?

Não devemos fingir ser quem não somos. Devemos ser quem nós somos! Ter nossa própria história, nossas ênfases doutrinárias, nossos ritos, nossa cultura denominacional... Mas isso não nos deve levar à arrogância e à atitude vergonhosa de menosprezarmos e desprezarmos quem é diferente de nós.

A diferença deve ser vista como riqueza, como manifestação concreta da multiforme graça de Deus. Deus nos fez diferentes. Deus levantou comunidades de fé diferentes. Deus nos deu liberdade de adorá-lo com variados ritos, jeitos, ênfases, etc...

E aquilo que temos dificuldades em aceitar no outro, na doutrina do outro, na prática do outro, devemos colocar nas mãos de Deus. Ou seja, não devemos ir pra programas de rádio falar mal uns dos outros, mas ir sim e unicamente em oração e intercessão para o Altar do Senhor para colocarmos quem pensa e crê diferentemente de mim nas mãos do Senhor. Jesus é o Senhor da Igreja. Ele é o árbitro em nossos corações e em todas as nossas querelas e demais situações.

Deixemos que seja o Supremo Pastor a curar nossas feridas e a derrubar toda parede de separação. Deixemos que seja o Supremo Juiz a separar os bodes das ovelhas e o Joio do Trigo... nossa tarefa é adorá-Lo e testemunhar seu maravilhoso amor e salvação. Importa é que o Evangelho (e não nossas instituições denominacionais e dogmas) seja pregado.

Certamente por não termos uma prática ecumênica quotidiana (comprometida com a unidade) nem uma ação educativa para sermos ecumênicos, a cada dia somos mais e mais influenciados e transformados pelas práticas não-ecumênicas, e assim vamos priorizando menos essa questão e nos envergonhando dela. Eles dominam a presença (dita evangélica!) na mídia, seja rádio, tv, editoras, produtoras de Cd, e nas distribuidoras desses materiais. E percebam e pasmem: são os pastores e bispos e bispas e apóstolos e os que se investem de caráter messiânico que dividem o rebanho, que construem as muralhas e as cercas de arame farpado da ideologia religiosa para dividir e "separar" em "guetos denominacionais" parte do povo de Deus dos demais que foram remidos e que têm seus nomes escritos no Livro da Vida.

Ironicamente temos confundido a evangelização ordenada pelo Senhor Jesus com o crescimento numérico das denominações e temos reduzido o discipulado ao doutrinamento. Também temos colocado em lado opostos a vivência ecumênica e evangelização, ou seja, temos tratados esses dois desafios bíblicos (unidade e evangelização) como se fossem práticas distintas e excludentes.

Aparentemente fazemos uma evangelização que não constrói unidade ou optamos por uma unidade que não permite a construção de identidade. Desdenhamos, portanto, a evangelização que constrói concomitantemente evangelização, unidade cristã e identidade. Ou seja, não acreditamos em unidade na pluralidade.

É como se às vésperas desse Natal de 2007, os crentes e as suas comunidades, as diferentes denominações e teologias, estivessem esperando cada qual pela sua própria estrela que nos guiará à Promessa do Menino em Belém, ou tentássemos tão somente cada um de nós “tomar posse” da estrela, para a chamar de sua estrela, unicamente sua. Talvez disputemos a manjedoura, o feno, os lençóis que envolveram Jesus... se tivermos essas coisas talvez nos sintamos mais “donos” de verdades maiores, mais capazes de compreender o sentido do Natal e o que o menino Deus nos revela...

Infelizmente ainda não poderemos nos apresentar ao Menino Jesus como um só povo e um só coração. Pois continuamos brigados uns com os outros, desejando ser melhores que os demais, mais santos, mais verdadeiros, mais numerosos, mais poderosos...

Nem mesmo na Mesa do Senhor (Celebração da Ceia) e no Batismo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo nós temos unidade. Estamos sempre querendo ser os mais certos, os mais puros, os que se assentam imediatamente à esquerda e à direita do Menino Jesus.

Certamente concordaríamos com uma frase, ou melhor, um postulado, atribuído a Rubem Alves que diz que se a cristandade ao longo dos séculos tivesse cantado mais, tivesse passado a maior parte do seu tempo cantando, teríamos tido uma outra história, com menos conflitos, divisões vergonhosas, perseguições, guerras, “santas inquisições”, “o livro do index” e fogueiras...

Precisamos ser mais cristãos e menos "dogmólatras", "formólotras", "ritólatras", "institucionólatras" e "denominacionólatras". Precisamos colocar o Evangelho de Cristo acima de nossas picuinhas, precisamos colocar a vontade de Deus acima da soberania de nossas denominações e instituições humanas. Precisamos colocar nosso compromisso com a Evangelização e a Unidade do Povo de Deus acima de nossas políticas eclesiásticas, de nossa sede de poder eclesiástico e de nossa intenção em conquistar fatias crescentes e significantes do mercado religioso. Nós não somos de Paulo, nem de Apolo, nem de Calvino, nem de Wesley, nem de Lutero... Nós somos de Cristo! Amamos em maior ou menor medida a esses homens e mulheres do passado que tanto nos abençoaram com sua vida, ministério e legados, mas nossa história tem de nos levar para mais perto de Cristo, mais para dentro do Reino, mais e mais submissos à vontade de Jesus, incluindo o desafio da unidade cristã... da unidade na pluralidade.

Precisamos amar mais tal como Jesus nos ensina no maior de todos os mandamentos e deixar que o Espírito Santo nos conduza pelos maravilhosos caminhos da reflexão que canta, da música que teologa e da teologia que ora e da oração que se alimenta da Palavra... mesmo quando nossas experiências religiosas são diferentes...

Até porque fomos chamados por Jesus para crermos e amarmos não somente aos que pensam iguais a nós, mas a todas as pessoas. Até mesmo aos inimigos que nos perseguem, machucam e nos matam.

Cristãos diferentes de nós não podem ser nossos inimigos, mas nossos irmãos.Cristãos diferentes de nós não podem ser nossos inimigos, mas nossos irmãos, eu repito.

Neste Natal, eu gostaria imensamente de poder estar aos pés de Jesus, meu Senhor e Deus, tendo ao meu os demais irmãos e irmãs cristãos, Metodistas, Presbiterianos, Luteranos, Assembleianos, Batistas, Congregacionais, Católicos, Anglicanos, Menonitas, Ortodoxos, Adventistas e das comunidades da Deus é Amor, Universal do Reino de Deus, Católica, Brasil pra Cristo, Evangelho Quadrangular e todos os demais que têm suas vidas entregues ao Salvador Jesus, e por algum momento não discutir quem é o melhor e o maior, o mais salvo e o mais errado, e tão somente em oração contemplar a maravilha e a santidade do Filho de Deus, e poder – por um momento ao menos – dar as mãos, sentir nossos corações como um só, pertencentes a um só Corpo, a um só Senhor e a uma só vocação (a Salvação), e cantar com todo nosso entendimento em adoração, uma tradicional canção, que prenuncie e profetize a Paz, nem que seja somente uma noite de paz.Cristo não está dividido. Não nos apresentemos diante dele como um Corpo dividido, um povo dividido, uma família dividida. Diferentes sim, divididos não. Nem que seja em uma única NOITE DE PAZ:

Noite de paz!
Noite de amor!
Tudo dorme em derredor.
Entre os astros que espargem a luz,
Proclamando o Menino Jesus,
Brilha a estrela da paz!

Noite de paz!
Noite de amor!
Nas campinas ao pastor,
Lindos anjos, mandados por Deus,
Anunciam a nova dos céus:
Nasce o bom Salvador.

Noite de paz!
Noite de amor!
Oh! Que belo resplendor
Ilumina o menino Jesus!
No presépio do mundo eis a luz,
Sol de eterno fulgor!

20 dezembro, 2007

Sentido homenaje al obispo (e) Aldo Etchegoyen

Por Hugo Urcola. (*)

La celebración en la cual recibió él reconocimiento del pueblo metodista latinoamericano, el Obispo Etchegoyen, fue ocasión, para que se congregue, el domingo 16 dediciembre, en el templo histórico de la Primera Iglesia Metodista de Buenos Aires, un grupo de creyentes y militantes de la vida.

El Obispo Paulo Lookman, Presidente de CIEMAL, en un simpático portuñol y en menos de 15 minutos, a partir de la fragilidad y poder del niño del pesebre, que no encontraba quien lo reciba, nos llevó a las nuevas responsabilidades que tenemos particularmente para los niños, explotados y masacrados en todas las ciudades latinoamericanas, que en el caso de Rió de Janeiro, su ciudad, en un año, es mayor que todos los muertos en Irak.

Allí estaban los tres argentinos que recibieron el mismo reconocimiento, Eduardo Gattinoni, primer presidente y uno de los artífices del Consejo Latinoamericano de Iglesia Metodistas de América Latina y el Caribe. El Dr. José Míguez Bonino teólogo y profesor pero también convencional constitucional. El Obispo Federico Pagura que supo encarnar en nuestra tierra la voz profética y nos ha dejado no solo su palabra sino su poesía, que nos sigue inspirando.

Aldo, acompañado de su infatigable esposa Ruby y rodeado de sus hijos, agradeció, y se ubicó en una sucesión de creyentes y militantes de la iglesia metodista, que le marcaron el camino desde su juventud. Un nutrido y prologado aplauso fue la respuesta de la comunidad, donde estaban representantes de iglesias e instituciones, particularmente de DDHH, y personas que recibieron la atención pastoral y personal del dirigente-pastor.+ (PE)

(*) Hugo Urcola, pastor de la Iglesia Metodista en Argentina, es Superintendente de la Región Metropolitana.

Fonte: Agencia de Noticias Prensa Ecuménica
Espinosa 1493. Montevideo. Uruguay
www.ecupres.com.ar asicardi@ecupres.com.ar
07/12/20 - PreNot 7082

Foi em uma manjedoura e não num berço de ouro: Refelxões acerca do Natal



















Em tempos de “des-sacralização” do natal por algumas igrejas evangélicas e alguns evangélicos, é bastante apropriado refletirmos acerca dessa data comemorativa do calendário cristão que acabou se tornando polêmica nos últimos anos. Qual a real importância da comemoração do Natal? Mas a verdade é: que importância têm isso? Qual importância de se discutir argumentos contrários à comemoração do Natal? Não tem importância...por isso não vou discutir sobre isso...Gostaria sim de falar livremente a respeito do Natal. Quem não quiser comemorar, que não comemore... Mas eu acho lindo tudo que cerca o Natal! Principalmente, os presépios...o presépio não me permite esquecer a origem do meu Salvador...uma manjedoura...um estábulo...pastores humildes...Meu Salvador nasceu e viveu no meio da “ralé”.


Quando vejo os bispos, bispas e apóstolos, “felicianos” e “m@l@f@i@s” da vida, cheios de pompas e promessas... cheios de truques baratos para arrancar mais e mais dinheiro do povo, cheios de ameaças de maldições sobre a vida de pessoas sinceras e cheias de fé, por não doarem o que tem no bolso para seus Ministérios “abençoados”...quando vejo isso... lembro-me do presépio.


Lembro da vaquinha, das ovelhas, imagino o cheiro de estrume de animais que deveria estar naquele lugar...e penso: Como Deus poderia ser mais humano? Como Deus se dignou a estar tão próximo de nós? A ponto de ser um de nós!


Quando vejo Congressos e mais Congressos e pregadores como estrelas de espetáculos e “adoradores” adorados...lembro de Maria e José...Maria no lombo de um jumento (que segundo defensores da teologia da prosperidade era um Mercedes da época...nada mais ridículo pra se falar!) em viagem de dor e esperança...José, um homem de coragem por assumir a gravidez de uma mulher antes do casamento...um casal simples...banhados na humildade da luta do dia a dia...no suor do trabalho árduo...na vida desesperançada que ganhava forma de esperança no útero da jovem Maria.


Natal pra mim é isso...é beleza...é poesia...é Deus-homem, mais homem que Deus...bem pertinho de nós...porque o amor se expressou na fragilidade adquirida da Divindade mergulhada na humanidade. A criança é o símbolo maior da inocência manifesta em carne... Jesus é isso: é o sentimento encarnado de Deus! No Natal, o que brilha não são as luzes de um berço de ouro, mas a palha de uma manjedoura...porque ouro é para os poderosos e o Nosso Deus é Amor...tudo em Deus é regido pela sua essência prima: Amor. E o Amor é simples, combina mais com palha.
Por esta razão, me incomoda tanto assistir o inverso da Mensagem do Evangelho de Jesus com essa roupagem “positivista-pagã”. Tantos investidores e poucos pregadores...Creio que por essa razão a mensagem do Natal não é tão atraente...O Natal lembra coisas simples...vaca, jumento, berço de palha, ovelhas, pastores...onde entrariam essas coisas no altar ou nas festas pomposas dos cultos evangélicos de hoje? Não...não há espaço para o Natal de Jesus...


Paganismo declarado não é comemorar o Natal, mas sim, adorar o deus Mamon...é trocar a manjedoura por um berço de ouro.

Pr. Antônio Carlos Soares dos Santos Igreja Metodista em Altamira-PA

UM EM CRISTO - Parte final

(Rev. John Robert Nelson)

Paulo estava convencido de que havia poder divino operando dentro da comunidade cristã e dentro de cada um de seus membros em particular. Esse poder preserva o homem ou a mulher crente de ceder ao mal em desespero e os capacita a viver juntos em amor. Mesmo que os crentes sejam fracos e pecadores, e lutas se levantem dentro das igrejas locais, ainda assim Cristo permanece como Espírito vivo de amor dentro da comunidade. Sem a presença de Jesus Cristo, tanto o que ensina a vontade de Deus, como o que capacita o povo a obedecê-lo, seria a moral cristã impossível. Sem a presença dEle que ordenou aos discípulos e aos primeiros cristãos: — "Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei" (Jo 15.12), essa unidade interna da Igreja é impossível.

Várias imagens são usadas em o Novo Testamento para expressar essa unidade interna. Elas não descrevem estado ideal de paz e harmonia, pelo qual os cristãos devem lutar, mas em vez disso transmitem as boas novas de que Deus em Jesus Cristo atualmente tem feito alguma cousa que os capacita a gozar essa unidade.

Parede é símbolo de divisão. Aquela que aparentemente não pode ser ultrapassada, nem destruída e que separou judeus de gentios (ou simplesmente dos não-judeus). A atitude do judeu ortodoxo em relação a pessoas de outras nações, ou religiões, era tão rigorosamente exclusivista como a do brâmane hindu em referência a um varredor da mais baixa classe. Havia mesmo no pátio do templo de Jerusalém uma parede que impedia a todos os não-judeus de se achegarem ao lugar santo. As pedras dessa parede de separação eram como as numerosas leis religiosas que desfiguravam a pureza pessoal e a perfeição do ritual. Para a mente do judeu, essas leis foram firmemente colocadas por Deus mesmo como pedras e seladas com argamassa. Eles criam que era a vontade de Deus que absolutamente não tivessem contacto algum com o estrangeiro impuro.

Mas, qual foi a assombrosa mensagem cristã ao gentio desprezado e rejeitado? "Portanto, lembrai-vos de que outrora vós... estáveis sem Cristo separados da comunidade de Israel... mas agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo. Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derrubado a parede da separação que estava no meio, a inimizade... (Ef 2.11-14). E, que foi dito ao judeu exclusivista? Que Cristo realizou a obra de reconciliação, pois "aboliu na sua carne a lei dos mandamentos na forma de ordenança, para que dos dois criasse em si mesmo novo homem, fazendo a paz e reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz" (Ef 2.15-16).

Em outras palavras, o testemunho do amor de Deus, em humilhação e morte de seu Filho Jesus Cristo, foi tão poderoso que rachou de alto a abaixo aquela barreira formidável que impedia a comunhão humana. Desse momento em diante o Povo escolhido de Deus já não estava mais circunscrito à nação judaica, mas a esse Povo podiam pertencer todos os homens e mulheres que em qualquer parte aceitassem o Evangelho e confessassem Jesus Cristo como Senhor. Pela morte de Cristo as barreiras de culto, classe, e raças terminaram. Há na comunidade cristã lugar para todos os que têm fé. Paulo declarou: "Dessarte não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus" (Gl 3.28).

O Novo Testamento muitas vezes declara que a Igreja na qual essa maravilhosa espécie de unidade pessoal é encontrada, é o "corpo de Cristo". Que significa isso? Não é preciso muita imaginação para compreender o significado do corpo como organismo físico em que cada simples órgão, ou parte, é dependente das outras, tanto quanto dependente da vida do corpo todo. A mútua dependência do olho, da mão, ou do pé, é o modelo do auxílio e sustento comum que cada cristão individualmente deve dar ao seu próximo. "De maneira que, se um membro sofre, todos sofrem com ele; e, se um deles é honrado, com ele todos se regozijam" (I Co 12.26). Este quadro pode ser muito simplesmente aplicado às relações pessoais dentro da comunidade cristã. Uma igreja sã, como um corpo são, é aquela na qual não há discórdia.

O ensino de Paulo perde a sua força para nós, contudo, se virmos em I Coríntios 12 mera lição objetiva que poderia ser aplicada indiferentemente à Igreja ou a qualquer sociedade humana. Paulo dá ênfase àquilo que Deus tem feito pelo seu Espírito para tornar possível essa unidade desejada. Pelo mesmo Espírito, Deus tem dado dons variados e talentos aos membros individuais da Igreja. Conhecendo as necessidades diversas e os temperamentos de suas criaturas, Deus tem dado a cada um certas habilidades que são úteis ao bem-estar de toda a comunidade. Alguns podem curar, outros profetizar, ainda outros podem falar línguas, ensinar, ou governar (I Co 12.28). Essas diferenças de dons do Espírito não são de forma alguma desculpas para dissensão e divisões na Igreja de forma alguma; pelo contrário, Deus deseja manter os crentes juntos e em unidade, pois cada um necessita do seu irmão. Para coroar todos os dons à disposição dos crentes, há ao alcance de todos e não de uns poucos, o próprio amor de Deus que "une todas as cousas e é o vínculo da perfeição" (Cl 3.14 e I Co 13).

Todo este ensino pode parecer bastante teórico para os que têm contemplado muita dissensão e amarguras na Igreja para serem impressionados com alguns pensamentos piedosos acerca da unidade. “Era fácil para Paulo escrever tais cousas, mas ele deveria ver o povo contencioso de minha igreja!”

Se houve homem que teve motivos para desesperar-se pela falta de paz e concórdia dentro da comunidade cristã, esse homem foi Paulo. Leia tudo o que ele escreveu à jovem igreja de Corinto! Cometeram pecados terríveis: inveja, discórdias, impurezas, porfias, idolatria, prostituição, bebedices e glutonarias, cousas que Paulo cita como os pecados dos crentes da igreja de Corinto. Poderíamos perguntar se alguma congregação já tem sido acusada desse viver anticristão. E mesmo assim, a esse mesmo povo, Paulo escreve: "Ora, vós sois corpo de Cristo; e, individualmente, membros desse corpo" (I Co 12.27). Certamente Paulo não era um teórico otimista. Ele conhecia o lado triste e vergonhoso da vida da igreja, e mais: ele conhecia a realidade da graça de Deus dada em Jesus Cristo aos homens. Ele recebeu com fé a revelação da vontade de Deus em relação à unidade de seu povo.

Assim os primeiros conversos em Jerusalém e Antioquia aprenderam acerca da unidade cristã, não pela discussão teórica, mas pela vida em conjunto. Aprenderam em primeiro lugar a verdade de que Jesus Cristo pôs por terra a parede de divisão hostil. As diferenças naturais e culturais entre os cristãos não poderiam impedir a ação do poderoso impulso de Cristo de os manter juntos em comunhão. Quando séria tensão se levantou entre eles por causa do rito judaico da circuncisão — e os que pregavam tal cousa se tornaram intoleráveis aos gentios — houve perigo de que a Igreja se dividisse em partidos ou "denominações", mas Pedro, Tiago e Paulo não permitiram que isso acontecesse.

Qual a causa dessa nova e estranha solidariedade? Dependia unicamente da lealdade comum deles ao Senhor Jesus? O poder coesivo dessa fé foi na verdade forte, porém mais forte foi o poder que surgiu, não somente da vontade dos homens, mas da presença de Deus como Espírito Santo. Os membros da Igreja primitiva "perseveravam... na comunhão" (Atos 2.42). A palavra aqui usada em o Novo Testamento é koinonia que é no grego é uma palavra rica de sentido e vigorosa. Do ensino geral do Novo Testamento, aprendemos que esta palavra, que tão bem descreve aquela qualidade de vida da Igreja, tem muitos significados. Refere-se ao direito comum de propriedade, bem como a co-participação de bens, como foi o caso da coleta para os cristãos pobres de Jerusalém. Significa também o benefício comum do Espírito Santo e participação dos seus dons. Ou descreve a participação dos crentes em Cristo na vida divina do Espírito Santo. Finalmente significa a participação pessoal comum no corpo e no sangue de Jesus Cristo no sacramento da Santa Comunhão, onde pão e vinho se tornam meios de graça divina.
Naqueles primeiros anos da Igreja, a comunhão dos cristãos foi ameaçada pelas tensões internas, e pela tentação de aderir a métodos e maneiras não-cristãos. Mesmo assim esses membros da Igreja neotestamentária deram testemunho da realidade experimentada da magnífica "vida-de-koinonia" em presença do poder do Espírito Santo. Quando as dissensões entre os irmãos pareciam ameaçar essa vida coletiva, o apóstolo Paulo podia confiantemente implorar que "preservassem a unidade do Espírito no vínculo da paz" (E£ 4.3).

Além disso, ele podia assegurar-lhes que o Corpo de Cristo, no qual eles compartilhavam sua vida comum, foi dádiva de união assegurada por propósito especial da parte de Deus. Assim como Cristo veio a este mundo e se identificou com os seres humanos para os reconciliar com Deus, também veio para "unir todas as cousas, tanto as do céu como as da terra" (Ef 1.10). Esta era a sua maneira concisa de escrever acerca do último propósito de Deus — "o mistério da sua vontade". Contra toda a força má do mundo que causa rebelião contra Deus e lutas viciosas entre os homens, o Criador do mundo luta. O ataque grave e decisivo de Deus contra os poderes do mal foi a vinda de Jesus Cristo ao mundo. A unidade da Igreja é um dos primeiros frutos da vitória de Cristo. Essa unidade é parte primária do plano de Deus. É marca necessária da Igreja que Deus introduziu no mundo para proclamar, e estender a obra reconciliadora de Cristo. A unidade da Igreja, pois, é tanto um sinal de unidade perfeita que está para vir no Reino de Deus, como meio pelo qual Deus o trará à consumação. A Igreja deve ser uma, se é que vai ser usada por Deus para unificar todo o mundo em Cristo.


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(*) Esse texto é parte do primeiro capítulo do livro "UM SÓ SENHOR, UMA SÓ IGREJA", escrito por John Robert Nelson (um cristão metodista dedicado ao Ecumenismo, aos Direitos Civis, ao Ensino e à Bioética) e publicado em português no ano de 1964 pelo Centro Cristão de Literatura da Confederação Evangélica do Brasil e publicado em dezembro de 2007 no site da Igreja Metodista de Vila Isabel, Rio, Brasil.

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UM EM CRISTO - Parte 2

(Rev. John Robert Nelson)

O Novo Testamento tem maneiras diferentes de se referir à Igreja e à sua unidade. Fala através de parábolas e de imagens antes que de maneira prosaica ou direta como algum compêndio de história ou de ciência. Muitos de nós, pretendendo definir a Igreja e a sua unidade, tentaríamos descrever a organização de uma congregação, de denominação, ou falaríamos de sua inter-relação, da espécie de trabalho e de testemunho dado por esses cristãos no mundo. Porém, o Novo Testamento tem muito pouco de tal descrição. Preocupa-se mais com a natureza e a qualidade da relação da Igreja com Jesus Cristo e da mútua relação dos cristãos como pessoas. Por esta razão faz livre uso de muitas figuras de linguagem.

A unidade cristã é antes de tudo unidade da Igreja com Cristo. Os cristãos conhecem Jesus Cristo não como herói sepultado há muito tempo, mas como Senhor vivo e ressurreto. Tal fé na presença contínua do Senhor é atestada em culto, testemunho e vida da comunidade cristã. A existência contínua da Igreja através de muitos séculos, com seus movimentos freqüentes de renovação e de poder, é conseqüência da promessa do Senhor: "Eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século" (Mt 28.20).

Os evangelistas e o apóstolo Paulo dão muita importância ao vínculo de unidade entre Cristo e a Igreja. Os quatro Evangelhos apresentam Jesus como o Pastor do fiel rebanho de ovelhas. Esta metáfora é usada freqüentemente no Antigo Testamento, tanto quanto em o Novo. A criação de gado ovino ainda hoje é ocupação muito importante na terra, uma vez chamada Palestina. Os leitores antigos dos escritos sagrados podiam entender imediatamente o poder do pastor sobre seu rebanho, tanto quanto a sua responsabilidade pela segurança e bem-estar do rebanho a ele confiado. Deus mesmo foi lembrado como Pastor no salmo 23, e outra vez no salmo 95.7: "Ele é o nosso Deus, e nós povo do seu pasto e ovelhas de sua mão". Mas em Ezequiel 34.23 é o rei Davi a quem Deus aponta como pastor sobre o seu povo. Nos Evangelhos esse papel é atribuído a Jesus. Como Filho de Deus e Messias, Jesus deu ao título significado distinto e permanente, porque buscou e achou as "ovelhas perdidas da casa de Israel" (Mt 10.6; 15.24; 18.11-14) e deu a sua vida pelas ovelhas (Jo 10.15). Jesus é assim o soberano Senhor da Igreja, tanto quanto o Servo sofredor. A intimidade da relação entre Cristo e a Igreja mostra-se na relação profundamente pessoal entre Ele e seus discípulos fiéis: "Eu conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim, assim como o Pai me conhece a mim e eu conheço o Pai (Jo 10.14-15). Esta comparação do elo entre o Pai e o Filho, com aquela existente entre o Filho e os seus seguidores, faz-nos lembrar o clássico verso referente à união (Jo 17.21), onde a unidade dos cristãos é comparada àquela de Deus, o Pai, com o Seu Filho.

Na experiência humana as relações mais íntimas conhecidas são as existentes entre marido e mulher. Contudo há exceções: quantas vezes os casais não se isolam um do outro, pela suspeita, inveja, ou desafeição. Relações entre os membros da família, ou de bons amigos, podem ser estreitamente chegadas, não obstante o laço humano que é normalmente o mais íntimo, é o do casamento. O ensino bíblico assegura que o homem e a mulher crescem em unidade tão perfeita em amor que eles podem quase ser olhados como uma só pessoa. Aceitando-se este ponto de vista a respeito da união matrimonial, o escritor da Carta aos efésios declara que Jesus Cristo é o noivo e a Igreja a sua noiva, a quem ama e por quem se deu a si mesmo (Ef 5.23-27). Na verdade a união entre Cristo e a Igreja é tão íntima, que é esta união que deve ser tida como padrão e ideal para o casamento humano.

Outra metáfora sugestiva empregada por João é a da videira e seus ramos (Jo 15.1-8). À primeira vista parece antes impessoal, mas a sua propriedade e significado são inequívocos. Mais uma vez, Jesus escolheu, como imagem de si mesmo, alguma cousa conhecida de todos num país vinícola. A videira completa inclui todos os seus galhos. Todavia, cada ramo tem a sua identidade própria, vive da fonte da vida que é videira e faz a sua contribuição à totalidade da árvore. Se ela é sã, produz uvas, se é estéril (veja Mt 7.16-20), é cortada e lançada ao fogo. As palavras essenciais em João 15 são estas: "permanecei em mim, e eu permanecerei em vós" (v. 4). Aqui está a exortação e a promessa que apontam para uma unidade sem fim entre Jesus Cristo e a sua Igreja.

O apóstolo Paulo dá ênfase a essa relação com numerosa repetição da frase "em Cristo", "com Cristo" e "Cristo em mim". Paulo declara: "Se alguém está em Cristo, é nova criatura" (II Co 5.17). Ensinando qual o significado mais profundo do batismo, escreve: "Porque se fomos unidos com ele na semelhança da sua morte, certamente o seremos também na semelhança da sua ressurreição" (Rm 6.5). Em alegre testemunho da realidade de sua fé, Paulo parece gritar através das palavras escritas: "Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim" (Gl 2.20). Por certo, Paulo foi homem que experimentou a verdade contida na promessa de Jesus: "Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós" (Jo 15.4).

As palavras de Paulo acerca desta íntima relação de Jesus Cristo não são semelhantes àquelas de místico não-cristão. Estar "em Cristo" não significa ter experiência emocional e exaltada da presença de Cristo; nem Paulo escreveu acerca de um único sentido místico dessa identidade com Cristo. Sempre, e em primeiro lugar, no ensino de Paulo estava toda a comunidade cristã, a Igreja. O cristão não pode simplesmente separar sua fé em Jesus Cristo de sua relação de membro da comunidade cristã. O cristão é inevitavelmente membro do povo de Cristo. Assim de acordo com o ensino de Paulo, corretamente entendido, a pessoa que está "em Cristo" é aquela que está "na Igreja".

Entender bem o que quer dizer "em Cristo" tem muita importância para aprender o significado da união da Igreja com Cristo. Da Igreja como um todo, pode ser dito, como Paulo disse de si mesmo: "Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim". Esta unidade entre o Senhor e seu Povo é essencial à vida e à natureza da Igreja.

Isto é verdade a respeito da Igreja em cada uma de suas formas terrenas. Quer a congregação adore na simplicidade de uma igrejinha de pau-a-pique e coberta de sapé, quer adore no esplendor de uma grande catedral de pedra mármore, é Igreja tão-somente na proporção de sua unidade em Cristo. Quando Inácio de Antioquia, mártir do segundo século, escreveu aquelas famosas palavras — "Onde Cristo está, aí está a Igreja universal" — simplesmente procurava interpretar a promessa que Jesus fez: "Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou no meio deles" (Mt 18.20).

Ao passo que unidade cristã é união entre o Senhor vivo e a Igreja na sua totalidade, é também união de pessoas crentes entre si. Esta é a outra única maneira de expressar os dois grandes mandamentos de Jesus — amar o Senhor Deus acima de todas as cousas, e o próximo como a si mesmo. Seria impossível protestar contra estes dois mandamentos. A maior parte dos povos está pronta a aceitá-los como preceitos ideais para a vida, seja ele cristão ou não seja. Contudo, como todos sabem pela própria experiência, é mais fácil aceitar um preceito que vivê-lo. O apóstolo Paulo expressou o sentido universal de frustração e derrota, quando afirmou: "O querer o bem está em mim, não, porém, o efetuá-lo" (Rm 7.18). Ele parece em desespero com medo de não poder cumprir a lei de Deus, contudo, noutra parte exulta: "Graças, porém, a Deus que em Cristo sempre nos conduz em triunfo" (II Co 2.14), "pois o amor de Cristo nos constrange" (II Co 5.14).

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(*) Esse texto é parte do primeiro capítulo do livro "UM SÓ SENHOR, UMA SÓ IGREJA", escrito por John Robert Nelson (um cristão metodista dedicado ao Ecumenismo, aos Direitos Civis, ao Ensino e à Bioética) e publicado em português no ano de 1964 pelo Centro Cristão de Literatura da Confederação Evangélica do Brasil e publicado em dezembro de 2007 no site da Igreja Metodista de Vila Isabel, Rio, Brasil.

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19 dezembro, 2007

UM EM CRISTO - Parte 1

(Rev. John Robert Nelson)

Por que tanto interesse hoje pela unidade cristã?
Se o problema da unidade fosse ignorado, a vida seria muito mais fácil para a maior parte dos cristãos em todo o mundo. O fato de que diferenças doutrinárias impedem todos os membros da família de Cristo de receber a Sua Ceia na mesma mesa, não seria causa de angústia de espírito de forma alguma; a competição aberta de igrejas cristãs pregando o mesmo Evangelho da mesma Bíblia na mesma vila para confusão dos mesmos povos não-cristãos, não seria causa de escândalo; cada pequeno grupo de cristãos poderia sentir-se complacente e satisfeito em seu isolacionismo das demais igrejas vizinhas; e cada denominação poderia realizar seu próprio programa de evangelização e de serviço social sem cogitar dos outros. Tudo isto estaria certo, se não fosse por uma cousa: Jesus Cristo quer que sua Igreja seja uma em mente, espírito, vida e testemunho.

O ensino da Bíblia acerca da unidade essencial da Igreja é perfeitamente claro. Ela não nos dá plano pormenorizado para a forma ou para a estrutura da unidade, mas não deixa dúvidas de que a obra de Jesus Cristo foi a de "reunir em um só Corpo os filhos e filhas de Deus que andam dispersos" (João 11.52), e reconciliar todos os que crêem numa só comunidade de amor.
Cristãos não são os únicos que falam de unidade. Mais e mais a palavra é usada na esfera política, como nas Nações Unidas (ONU); como os vários blocos de nações, estados, tribos e regiões formando uma só nação; também os sindicatos falam de unidade e da mesma sorte os comunistas. Centenas de clubes, sociedades, ordens e lojas fazem o mesmo. Além disso, há definidos apelos para a unidade dos aderentes de várias religiões: budistas, xintoístas, hindus e maometanos. Muitos povos hoje falam com crescente fervor da necessidade de união de todas as religiões do mundo. Unidade é palavra popular e universal hoje, mas os povos se encontram desunidos, até mesmo no próprio significado do termo, bem como na sua aplicação.

Os cristãos preservam um significado único e distinto de unidade. Aplica-se à relação comum que têm em Jesus Cristo e à relação mútua de uns para com os outros. Portanto, é palavra essencialmente importante acerca da vida da Igreja. Os cristãos podem muito bem estar desejosos de promover a unidade entre pessoas, grupos e nações para ordem e paz da sociedade humana. Quando, porém, eles trabalham por maior união da humanidade, lutam por um ideal que tem na história, desde há muito, relativamente pouca realidade. Hoje em dia é muito fácil para uma pessoa viajar pelo mundo todo e verificar que pessoas com os mesmos problemas e a mesma fidelidade desejam estar juntas. Mas há qualquer cousa de arbitrário e de artificial mesmo acerca dos mais dignos esforços para conseguir uma união mais íntima entre povos que têm relativamente mui pouco em comum.

Os cristãos do mundo, pelo contrário, têm muitíssimo em comum. O que têm não é somente história comum, ou linguagem, ou ainda limites geográficos comuns, pois tais cousas são temporárias e passageiras, terrenas e efêmeras. A unidade cristã está baseada naquilo que é eterno e divino, a saber, a escolha e chamado por parte de Deus, Todo-Poderoso, de um povo seu; a encarnação do Verbo eterno na pessoa de Jesus Cristo, sua morte e ressurreição, e a dádiva do Espírito Santo. Se os cristãos estivessem unidos somente pela memória de singular mestre religioso e pela lealdade à Bíblia, essa unidade poderia ser real, mas muito frágil. Porém a unidade cristã consiste de uma participação comum nos dons especiais e decisivos do próprio Deus. "Há somente um corpo e um Espírito... numa só esperança... um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos... (Ef 4.4-6).

Quando certo cristão de uma vila da Índia encontra outro de uma fazenda européia, ou citadino japonês, diferenças em linguagem, cultura e cor não são de essencial importância. O que vale realmente é o fato simples e primário de que ele, como os demais, crê no Deus e Pai de Jesus Cristo, professa o mesmo Evangelho de salvação, compartilha o mesmo batismo de água e o idêntico batismo do Espírito Santo. Isso faz com que o indiano, o europeu e o japonês sejam irmãos em sentido ainda mais profundo do que se pertencessem à mesma família e fossem do mesmo sangue. "Eis minha mãe e meus irmãos", disse Jesus. "Qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe" (Mc 3.34-35).

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(Esse texto é parte do primeiro capítulo do livro "UM SÓ SENHOR, UMA SÓ IGREJA", escrito por John Robert Nelson (um cristão metodista dedicado ao Ecumenismo, aos Direitos Civis, ao Ensino e à Bioética) e publicado em português no ano de 1964 pelo Centro Cristão de Literatura da Confederação Evangélica do Brasil e publicado em dezembro de 2007 no site da Igreja Metodista de Vila Isabel, Rio, Brasil).

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"Um menino nasceu. O mundo tornou a começar" *

De Luiz Carlos Ramos


Foi numa noite de lua, nas veredas do grande sertão... Riobaldo atravessava os ermos da caatinga quando ouviu os gemidos de parturiente que vinham de um misérrimo casebre, enterrado na solidão. A mulher estava só, com suas dores e seu ventre inchado.
Não obstante suas andanças o tivessem preparado mais para agente funerário que para obstetra, naquela noite o jagunço não teve escolha, a força irresistível da vida o convertera em parteira. Foi assim que, pelas mãos de um jagunço, no fundo do sertão, mais uma criança “saltou pra dentro da vida”**.

A essa altura da narrativa, ao som do choro do recém-nascido, Guimarães Rosa colocou as seguintes palavras na boca do extasiado Riobaldo: “Um menino nasceu. O mundo tornou a começar. E saí para as luas...” O milagre do recomeço do mundo acontece a cada parto. Sim, o mundo recomeça todas as vezes que, vencendo tantas forças contrárias, a vida sobrevive.
Nas veredas dos nossos urbanos, mas não menos perigosos, sertões, tornamo-nos jagunços cada vez mais cruéis, rudes e selvagens. Extorquimo-nos mutuamente, violentamo-nos, mutilamo-nos, agredimo-nos, ignoramo-nos, executamo-nos com fúria tal que deixaria perplexo o mais impiedoso cangaceiro.

Em noites enluaradas, como a que banhou aquele casebre, tudo pode acontecer. Nossas crendices nos dizem que, em tais ocasiões, há homens que viram feras terríveis, e que vagam pela noite destilando horror e morte. Entretanto, nesta história, o luar do sertão transformou Riobaldo de uma maneira totalmente inusitada: fez daquele ser, embrutecido pela crueza do cangaço, um anfitrião terno, pronto para acolher nos braços a reinvenção do mundo.

Penso que o Natal é isso: Deixarmos que as estrelas e a lua nos transubstanciem em anfitriões da vida. Anoitecemos brutas feras, para amanhecermos parteiras da humanidade. Façamos desta uma noite feliz, pois nasceu mais uma criança e o mundo tornou a começar.

Feliz Natal!



* Exclamação de Riobaldo, personagem de João Guimarães Rosa, no romance Grande Sertão Veredas.
** Esta expressão é de João Cabral de Melo Neto, em seu impagável Morte e Vida Severina.

17 dezembro, 2007

Carlos Wesley en el Vaticano

En la basílica de San Pablo Extramuros de Roma, el 3 de diciembre, una celebración ecuménica recordó los trescientos años del nacimiento de Carlos Wesley (1707-1788). Organizada por el Consejo Metodista Mundial, fue presidida por el cardenal Walter Kasper, presidente del Consejo Pontificio para la Promoción de la Unidad de los Cristianos del Vaticano, lo que se consideró un hecho excepcional.

En una entrevista en “L'Osservatore Romano”, Kasper comentó que “Hace algunos años, algo así era impensable” y en su mensaje en la celebración recordatoria Kasper dijo que los himnos de Carlos Wesley “se interpretan en las iglesias católicas del mundo anglófono, y han enriquecido nuestra alabanza y nuestra celebración de la gracia salvífica de Dios durante generaciones”

En Metodista, la revista de la IMU (Iglesia Metodista en el Uruguay), el investigador Rodolfo Míguez, reseña la vida de Carlos Wesley en el artículo “Un poeta despierto-300º Aniversario del nacimiento de Carlos Wesley. 1707-18 de diciembre-2007”

Al intentar valorar a Carlos Wesley como músico, el pastor Rodolfo Míguez advierte que todo depende con quien se compare “puesto en un trazo grueso” el Siglo XVIII “se abre con Bach y Haendel y se cierra con Mozart y Haydn” y entre medio esos titanes “Gluck, y por si fuera poco, naciendo sobre el último tercio del siglo: Beethoven” por lo tanto se pregunta “¿Qué conclusiones útiles podríamos extraer si pretendiésemos situar al músico Carlos Wesley en medio del finísimo entramado de sonidos y silencios diseñado por esos artesanos de un macramé de hebras de cielo?”

Asombrosa es la cantidad de himnos escritos por Carlos Wesley. Se calcula en no menos de 6.000 a lo que el pastor uruguayo comenta que “ese tsunami poético sería cosa insignificante si detrás de cada himno de Carlos no estuviera una persona que en su espíritu hubiese sentido ese ser declarado inocente (en palabras teológicas: justificado) por el Espíritu de Cristo y hecho heredero de todas Sus promesas”.

“Para Carlos Wesley era tan natural escribir como respirar. Es indudable que llevaba el genio consigo, pero en mayo de 1738, repentinamente, se convirtió en una llama. Desde entonces cada uno de sus pensamientos tuvo un matiz poético. La gran mayoría de sus himnos nunca fueron empleados y probablemente él mismo no tuviese la intención de que se usaran en los cultos públicos. Muchos se cantaban únicamente en las reuniones de clases bíblicas o en otras ocasiones semiprivadas”, transcribe Míguez desde el libro“19 siglos de canto cristiano” de Eduardo Ninde

Tomando esa fuente el artículo de Metodista revela que los himnos de Carlos Wesley “abarcaban toda la escala de la experiencia humana” cantándole al “niño recién nacido”, el “niño enfermo”, el “niño echando los dientes”, al médico de familia, los “maníacos y los muy probados”. “Al entrar a casa”, “al acostarse”, “para el cansado”, “todo lo que acontecía de sol a sol, así como todos los períodos de la vida y toda especie de individuos” estaba en el pensamiento de denominado poeta del metodismo.

En uno de los recuadros que acompañan la nota de Metodista -de próxima aparición- titulado “El secreto bien guardado”, Rodolfo Míguez se pregunta si “¿Carlos Wesley compuso algún himno?”, explicando que “Excepto Pablo Sosa, que no necesita presentación entre nosotros, ni un solo metodista (de los muchos consultados, laicos y pastores) supo responder a eso con seguridad”. Aún más “La pregunta en sí les resultó digna de desconfianza, porque al decir de uno: “¿Acaso no era Carlos, de los dos Wesley, el músico?”.

Desde la amplia investigación que hizo el articulista, que integra la Comisión del Archivo Histórico de la IMU, concluye que “Carlos Wesley no fijó ni una sola nota musical en el pentagrama para alguna de las miles de poesías que escribió”.

Dada la novedosa conclusión, que contradice el imaginario colectivo, Rodolfo Míguez se pregunta si por eso Carlos Wesley es menos “héroe de la fe”, contestándose “Por supuesto que no, pero es posible que la historia-oficial que ha sido extrañamente parca en revelar esta verdad, haya presumido lo contrario”.+ (PE)

Fonte: Agencia de Noticias Prensa Ecuménica
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