15 setembro, 2007

A bacia de Pilatos


Por Leonardo Boff *

A nação está perplexa e indignada. Na cara da maioria dos políticos e, particularmente, dos jornalistas que acompanharam o caso do Senador Renan Calheiros e sabiam as manobras escusas que usava a partir de seu cargo de presidente da Casa, para se manter no poder, se estampava decepção e abatimento.
E com razão, pois, o Senado se transformou num sinédrio, cheio de herodianos, aliados do poder dominante. Esses votaram a favor e 6 se abstiveram. Exatamente o número que Renan precisava para escapar-se da punição. Abster-se é dizer não à cassação. Supõe-se que muitos destes votos, secretos, vieram do PT e aliados. O Senador Mercadante revelou seu voto de abstenção. A líder do PT no Senado, Ildeli Salvati, cabalava votos em favor de Renan e deve ter se abstido, facilitando a vitória do acusado.

A propósito de falta de decoro por permitir que um lobista pagasse suas contas pessoais referentes ao filho que tivera com sua amante ­ isso se chamava antigamente de adultério público - descobriram-se muitas outras irregularidades graves, atestadas pela polícia federal e pelo jornalismo investigativo da televisão. Esta foi ao local, em Alagoas, documentou em som e em cores as mentiras e falsas alegações de Calheiros o que comprovava ainda mais sua falta de decoro. Além do mais, mentiu aos Senadores e sonegou informações e documentos ao conselho de ética.

Aliados do absolvido falaram em vitória da democracia. Que democracia?
Esta, convencional no Brasil, encurtada e farsesca, montada em cima de conchavos, do uso do poder público em benefício próprio, infectada de tráfico de influência e de desvio de dinheiros públicos?

O que envergonha os cidadãos é verem Senadores, alguns velhos provectos, sem qualquer dignidade, verdadeiros mafiosos do poder, voltarem as costas à sociedade e fazerem-se cegos e surdos ao clamor das ruas. Estão tão enjaulados em seus privilégios na redoma do Senado que nem lhes importa o que a mídia e a opinião pública pensam deles.

Mas, o que envergonha mesmo é a recaída de membros do PT. São pecadores públicos contumazes. Já haviam antes enviado a ética nem sequer para o limbo, mas diretamente para o inferno. Agora repetiram o ato pecaminoso. Por isso, são desprezíveis como Pilatos. Este se acovardou diante do povo e condenou Jesus. Mas, antes fez um gesto que passou à história como símbolo de pusilanimidade, de covardia e de falta de caráter. Diante do povo, lavou as mãos com água. Essa bacia de Pilatos foi ressuscitada no Senado. Mas a água não é água. São lágrimas dos indignados, dos cansados de ver injustiças e dos dilacerados diante da contínua impunidade.

A "onorebile famiglia Calheiros" tem novos membros em sua máfia. Todos os que se abstiveram, podem acrescentar a seus nomes o sobrenome de Calheiros. Como revelou publicamente seu voto, o Senador Aloísio Mercadante merece agora ser chamado de Aloisio Mercadante Calheiros. Pelo esforço da argumentação em favor da não cassação de Renan, a Senadora Ildeli Salvatti merece que lhe apodemos de Ideli Salvatti Calheiros. Ela fez a figura inversa da mulher do covarde Pilatos que o advertiu: "não te comprometas com este justo, pois sofri muito hoje em sonhos por causa dele".
Ela e outros devem estar sofrendo muito, sim, roídos pela má consciência. Esse sofrimento transparece em seus olhos revirados e em seus rostos desfigurados.

O povo não merece ser representado por espíritos menores, faltos de ética, desavergonhados e esquecidos de que são meros delegados do poder popular. Que mostrem a cara, que falem ao povo, que se expliquem por quê, diante de tantas provas dos relatórios da comissão de ética e do clamor das ruas, puderam agir de forma tão traiçoeira.
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* Teólogo e professor emérito de ética da UERJ

Consumo sem consciência pode ser pecado, diz arcebispo luterano


Entrevista: Nilton Giese, , Suecia, Março 27, 2007
Consumir sem consciência de que produção e consumo têm a ver com justiça econômica pode ser uma forma de pecado, disse o arcebispo da Igreja Luterana da Suécia, Anders Wejryd, em entrevista coletiva, ontem, quando ele e o secretário geral da Federação Luterana Mundial (FLM), Ishamel Noko, analisaram a caminhada do organismo ecumênico nos 60 anos de existência.

Há 60 anos, Lund recebia representantes de igrejas luteranas das Américas, da Europa, da Ásia e da Oceania para a constituição da FLM, momento histórico agora relembrado na cidade universitária sueca, quando 500 delegados e delegadas de igrejas do mundo, convidados ecumênicos, assessores e jornalistas participaram, de 20 a 27 de março, dos festejos de aniversário da comunhão luterana.

No mesmo período, o Conselho da FLM reuniu-se em Lund para tratar de temas e assuntos que estarão na pauta da próxima Assembléia Geral, agendada para 2010, em Stuttgart, Alemanha, sob o tema “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje”. Muitos se perguntam, em países pobres, “porque o pão não chega à minha mesa”, disse Noko na entrevista, mencionando que esse assunto e o tema da água e da desertificação serão temas da Assembléia.

Veja, abaixo, a entrevista de Wejryd e Noko:

Pergunta: A discussão sobre homossexualidade é uma ameaça à unidade da FLM?

Wejryd: Os novos temas que surgiram na Igreja sempre levaram à controvérsia, de modo especial os temas da ética social e pessoal. Um anglicano me disse, numa reunião de luteranos: “Posso fechar os olhos e pensar que estou entre anglicanos, mas vocês têm algo muito importante na confissão da doutrina luterana. Vocês têm em comum que a boa nova de Deus nos perdoa, nos une e quer nos salvar”. Minha impressão é que as igrejas têm que responder aos diferentes entornos culturais (africanos, europeus, latinos...) e isso pode levar a respostas distintas. Não creio que isso seja o tema que divida a igreja na Suécia. À igreja se pertence porque ela relaciona as pessoas com a fonte de vida.

Noko: Eu creio que sim, que possa ameaçar a unidade da igreja. Mas ameaça não rompe a unidade. Somente se pode deixar a igreja quando se abandona os demais. Deus nos convida para a festa da irmandade. Na comunhão pode ter pessoas que não nos agradam. Mas a festa da irmandade é de Deus. Nós somos mediadores. O anfitrião é Jesus Cristo. Há 60 anos a igreja sueca era a anfitriã de igrejas que não estavam em comunhão. Nem todos que chegaram a Lund em 1947 estavam de acordo em formar uma Federação. No entanto hoje, 60 anos depois, podemos compartilhar o ministério e a eucaristia. Aqui aprovamos a Declaração de Lund sobre o ministério episcopal. O entorno sueco nos facilitou uma neutralidade.

Pergunta: A Igreja da Suécia aceita o matrimônio homossexual?

Wejryd: Como igreja não o decidimos ainda. É uma proposta que será debatida nos próximos três, quatro meses. É um processo transparente. Como igreja, entendemos que deve ter uma forma para a união de todos os que querem viver como casal. Isto é importante: Como igreja entendemos que o matrimônio deve ser entre homem e mulher e para a igreja estar como casal é diferente que estar em matrimônio.

Pergunta: Com respeito à dívida externa, como vão dar seguimento às ações no futuro?

Noko: Algumas das dívidas contraídas por governos militares foram feitas sem consulta popular. Temos que falar desse ponto. O governo da Noruega levou a sério esse ponto de vista. Para nós, é importante que cidadãos em diversos países falem entre si. Quando se empresta dinheiro é importante que os governos tornem público em que será investido esse dinheiro. Se os governos do Norte perdoassem determinadas dívidas dos países do Sul, não haveria a necessidade de pedir novos empréstimos.

Wejryd: A decisão da Noruega nos encanta e como Igreja Luterana da Suécia estamos enviando carta ao governo sueco neste sentido. Estamos comprometidos com a temática.

Pergunta: O que a FLM pode fazer em relação à situação de violência na América Latina?

Noko: Tentamos informar a família mundial luterana a respeito dessa difícil situação na América Latina. Estamos animando igrejas e organismos internacionais para uma estratégia de acompanhamento, parecida aos anos 80, que chamamos de Corrente de Esperança. Uma vez por semana, chegava gente de fora, que visitava a igreja e suas comunidades em El Salvador. Essa foi uma forma de acompanhamento que se pode repetir em El Salvador e na Colômbia, por exemplo. Estamos conversando para que esse acompanhamento se repita e que seja um tema ecumênico.

Pergunta: As igrejas luteranas da América Latina apresentam um grande avivamento litúrgico. Vemos que a igreja sueca é muito cerimoniosa. É sempre assim?

Wejryd: Há muitos estilos diferentes de celebração. Nós não nos rebelamos contra o rito católico. O movimento carismático teve mais espaço nas igrejas livres. Nossa alegria pode ser chamada de “alegria solene”. Mas temos serviços mais abertos e mais dinâmicos no meio da semana.

Pergunta: O que fazer para ter maior participação de mulheres e jovens nos encontros da FLM?

Noko: Alegra-me que este tema tenha sensibilizado pessoas nesta semana. Os governos na Europa temem que os jovens fiquem em seus países e por isso têm dificuldades em dar-lhes visto. Além disso, as igrejas estão acostumadas a enviar seus bispos aos encontros internacionais. É preciso animar as igrejas para que enviem também alguns de seus jovens, que serão seus líderes no futuro.

Pergunta: Não se viu muitas conversas sobre o clima nesta semana. Como o tema estará no horizonte da FLM?

Noko: Vejo que aqui na Suécia esse é um tema muito importante também na igreja. Com o Conselho Mundial de Iglesias tivemos uma colaboração mais próxima a respeito desta temática.

Wejryd: O clima está cada dia pior. Aqui, na Suécia, temos nos aproximado da Igreja Ortodoxa em busca de um tipo de comunicação mais profunda sobre este tema, que é sobretudo um tema de expressão da vida. O consumo exagerado se converte numa religião e isso é muito perigoso para o nosso planeta. Discutimos e informamos nossas igrejas a respeito das condições em que determinados produtos são produzidos, ou o dano que fazem ao meio ambiente seguir produzindo esses produtos. Esta preocupação levou as igrejas a dizer que produção e consumo têm a ver com justiça. Assim que consumir sem consciência pode ser uma forma de pecado.

Noko: Nosso tema na Assembléia de 2010 será “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje”. Muitos se perguntam nos países pobres porque o pão não chega à minha mesa? Vamos tratar do tema da água, do deserto. Em Mauritânia o deserto avança seis quilômetros por ano. Há um arbusto ali que pode parar o avanço do deserto. Temos que considerar essas alternativas, e, em conseqüência, temas como a produção e a distribuição do pão, no sentido aberto apresentado por Lutero no Catecismo Menor, farão parte da preparação da Assembléia em nossas igrejas.

Pergunta: Que comentários a FLM tem sobre o comércio de escravos, que alguns analistas chamam de o “holocausto africano”?

Wejryd: Mencionei-o no sermão do domingo, sobre a base que é preciso aprender dos erros do passado. Os países de Europa ganharam muito dinheiro com o comércio de escravos. A sociedade precisa ter consciência desse passado.

Noko: As igrejas luteranas não têm uma tradição muito forte com a escravatura. Mas nosso papel deve ser o da denúncia e do anúncio: “Nunca mais para que essas coisas se repitam”. Vemos que nos Estados Unidos há uma diferença entre os afro-americanos descendentes dos escravos e os outros americanos, que tiveram um outro tipo de início na América.

Pergunta: Como será a FLM em 60 anos?

Noko: Creio que nenhum de nós vai estar aqui a 60 anos. Mas posso falar dos últimos 60 anos. Lund converteu-se num lugar histórico para a FLM. Encontramos nosso posto no contexto mundial: a nós corresponde ser ecumênicos. Temos que apoiar a busca da unidade cristã. E creio que no futuro haverá bem mais sinais de unidade do que agora. Haverá novas famílias de igreja que se complementarão.

Wejryd: Eu tampouco estarei presente em 60 anos. Mas me imagino que seremos uma igreja ainda mas presente e audível na proclamação de princípios. Lutero esperava produzir modificações na igreja com a apresentação de seus princípios. E na proclamação dos princípios aprendemos da doutrina cristã, redescoberta por Lutero, que o cristão sempre tem que interpretar o mandamento do amor, continuamente. O amor de Deus é básico para todos porque a salvação se baseia no amor de Deus.


Verso e Voz - 15 de setembro

Então a voz do céu me disse de novo: "Não chame de impuro aquilo que Deus purificou"... Aí três homens que me foram mandados de Cesaréia chegaram à casa onde eu estava hospedado. E o Espírito de Deus disse que eu fosse com eles, sem duvidar. Estes seis irmãos da cidade de Jope também foram comigo, e todos nós entramos na casa de Cornélio. - Atos 11.9, 11-12 (BLH)

Muitas vezes nosso maior inimigo somos nós mesmos! Nós nos limitamos pelos nossos preconceitos. Pedro estava cheio de preconceitos religiosos e raciais que o impedia de se aproximar de alguém que não fosse da sua própria religião e raça. Foi preciso Pedro ter uma visão, e alguém que fosse atrás dele para insistir que ele fosse à casa do Cornélio. ... A vida está cheia de tabus, de “não pode”, que limitam as nossas ações. Muitas vezes estes tabus, ou preconceitos sociais, não têm nada com a realidade e nos roubam as experiências positivas. Pior ainda, muitos usam as escrituras para reforçarem seus preconceitos e barreiras. Uma visão de que todos são criaturas amadas por Deus e fazem parte da criação pode abrir novas portas de ação e bênção! Ninguém deve ser desprezado ou rejeitado! Aqueles que rejeitamos podem significar uma oportunidade perdida de sermos uma bênção, e também sermos abençoados... - Derrel Santee

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14 setembro, 2007

Verso e Voz - 14 de setembro

Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize. - João 14.27

Toda vez que apanha um pedaço de lixo ao longo do caminho, diga a você mesmo, “Santo, Santo, Santo é a casa de Deus.” - Edward Hays, Citado por Joan Chittister, OSB em Como Devamos Viver

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13 setembro, 2007

Café Teológico em Maringá: Monge Eduardo apresenta os conceitos básicos do Budismo: milenarismo, modernidade e fuga da religião de mercado


"Se alguém de outra religião, por algum motivo, procura o budismo, nosso empenho é para que volte a sua religião sendo um fiel melhor... Quando nós, budistas, conseguimos isso, sentimos que alcançamos um feito magnífico. Não é nossa prioridade, "converter" pessoas ao budismo".
A fala do monge surpreendeu.... Justamente porque a realidade moderna religiosa e a religião de mercado visa o crescimento, quase a qualquer custo.
"Muitos budistas não conseguem descrever o budismo em conceitos. Especialmente o conceito de um "Deus". Mas, mais importante que conceitos é a vivência da espiritualidade e de uma religiosidade ativa no mundo. A paz, o respeito ao semelhante, a contribuição solidária no mundo, absorve e supre a necessidade de se formular "conceitos" sobre "um" Deus."

Esse foi outro ponto alto na fala do Monge Eduardo que, como de costume, apaixona os que dele se aproximam, nem que seja por um tempo curto.
Ficou aquele gostinho de "quero mais" entre os 29 presentes no café teológico.

Verso e Voz - 13 de setembro

Assim diz o SENHOR: Por três transgressões de Israel e por quatro, não sustarei o castigo, porque os juízes vendem o justo por dinheiro e condenam o necessitado por causa de um par de sandálias. Suspiram pelo pó da terra sobre a cabeça dos pobres e pervertem o caminho dos mansos; um homem e seu pai coabitam com a mesma jovem e, assim, profanam o meu santo nome. E se deitam ao pé de qualquer altar sobre roupas empenhadas e, na casa do seu deus, bebem o vinho dos que foram multados. - Amós 2.6-7

Estou muito grata a todas estas organizações nos Estados Unidos, especialmente as organizações privadas e religiosas. Aprecio a comida e vestidos que eles enviam. Eu lhes agradeço sinceramente a sua vontade em ajudar, e sei que eles fazem isto com grande amor. Mas também gostaria de dizer que este relacionamento - onde somos dependentes da benevolência de estranhos - não é o tipo de relação que gostaríamos de ter. ... Não vamos resolver nosso problema com folhetos. Porque nosso problema é social. E até que mudarmos este sistema, toda a caridade no mundo não nos levará a sair de pobreza. - Elvia Alvarado, Não Tenha Medo Gringo: Uma Mulher Hondurenha Fala do Coração

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12 setembro, 2007

Anonimato e racismo

* Por Antonio Ozaí

Em certas circunstâncias, o anonimato é aceitável e mesmo aconselhável. Por exemplo, sob o regime político ditatorial ou situações de opressão nas quais o assumir-se põe em risco a própria vida e a sobrevivência econômica individual e da família. O sindicalista não precisa de anonimato se tem a estabilidade no emprego e sabe que se for demitido o sindicado o protegerá.
Mas o trabalhador comum, que luta no interior da fábrica por melhores salários e condições de trabalho, sabe que não pode se expor. Assim, ele aprende táticas como abaixo-assinados em forma circular e outros procedimentos. De certa forma, vive na clandestinidade. Sabe que deve se precaver quanto à chefia e os alcagüetes. Ele não se ilude. Ainda que o país seja formalmente uma democracia, o local de trabalho tem suas próprias leis definidas por governantes autocráticos.
É o poder econômico que se impõe. Para o trabalhador, a necessidade econômica é imperativa; o emprego é o meio que garante a sobrevivência. Portanto, é aceitável que recorra ao anonimato. Porém, mesmo assim, ele assume riscos e, cedo ou tarde, terá que se expor.Em outras circunstâncias, o anonimato revela comportamentos irresponsáveis. É fácil criticar ou destilar racismo e preconceitos protegido pelo anonimato.
Em Maringá, por exemplo, um anônimo postou um comentário considerado racista sobre o ministro Joaquim Barbosa. O caso está sob investigação.
Leia texto completo - http://antonio-ozai.blogspot.com/
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* Antonio Ozaí é professor da Universidade Estadual de Maringá

Um país chamado Brasil

Por Dom Demétrio Valentini *

Em tempos de Semana da Pátria, convém atentar para o nome do nosso país. Chama-se Brasil. Este nome foi cunhado a partir da primeira riqueza natural, encontrada nestas terras pelos descobridores. O "pau brasil", como sabemos.

O país começou a ser chamado de "Terra de Santa Cruz". Este nome indicava uma missão a cumprir. Também neste caso, o nome tem a força de motivar para a realização da própria identidade, no caso das pessoas, da própria personalidade.

Quando chamaram o país de "Santa Cruz", estavam apontando uma meta a atingir. Quando o chamaram de Brasil, começaram a identificar as riquezas que ele já detinha, e que precisavam ser valorizadas e colocadas também a serviço de uma realização mais plena de suas potencialidades.

Pois bem, esta história do nome de nosso país nos faz pensar nos motivos do plebiscito promovido neste ano em torno da privatização da Vale do Rio Doce, a companhia que explora as riquezas naturais do nosso subsolo.

Mais que o "pau Brasil", são elas que agora se constituem na primeira referência para fundar a identidade de nosso país. Daí os amplos questionamentos que são feitos a respeito da natureza, da finalidade, e do estatuto jurídico de uma empresa que lida com aquilo que serve de primeiro fundamento da identidade de nossa pátria.

Em nosso caso, até o nome do país ajuda a perceber o nexo indispensável que existe entre pátria e as riquezas naturais que constituem o seu primeiro patrimônio. A Constituição Brasileira tomou o cuidado de explicar este nexo, declarando o subsolo brasileiro propriedade da nação, e não passível de alienação.

O singelo "pau Brasil", foi precursor de outras riquezas, que serviram de motivação para a exploração predatória dos tempos de colônia, mas serviram também de motivação para o país atingir sua maioridade e se tornar independente e autônomo. O caminho da soberania nacional passa pelo adequado equacionamento da exploração dos seus recursos naturais.

Por isto, hoje a adequada solução política, jurídica, econômica, social, ambiental, da questão do nosso subsolo, tem tudo a ver com nossa nacionalidade, com nosso soberania, com nossa independência como pátria brasileira, como nação que serve de contexto vital para seus habitantes, e para se situarem no contexto mais amplo do relacionamento com outros países, fator hoje indispensável para uma autêntica soberania nacional.

Se por natureza os recursos naturais do subsolo constituem patrimônio da nação, sua preservação e sua utilização para o bem comum da nação brasileira se constituem num imperativo que precisa ser garantido pela consciência nacional e por adequada legislação que assegure esta destinação, tornando-a também economicamente viável e ecologicamente sustentável.

Todas estas questões estão embutidas no debate que o plebiscito levanta, a respeito da maneira como foi feita a privatização da Vale do Rio Doce, e da política que a presidiu.

A questão da Vale, vale muito mais do que à primeira vista possa parecer. Vale a pena pensar nela, e assumir nosso posicionamento responsável.

O plebiscito nos oferece a oportunidade de dar mais consistência a este debate, que precisa ser aprofundado.
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* Bispo de Jales - São Paulo.

Os dois burrinhos

*Por Dom Pedro José Conti
Dois burrinhos de carga caminhavam juntos. Um levava ouro; o outro, simples farinha para a tropa. Inutilmente o segundo burrinho tentava puxar conversa com o primeiro. Este o olhava de cima para baixo, com desprezo. O que aquele burro miserável, carregado de farinha, queria dele, escolhido para levar o ouro? Mas aconteceu que os ladrões caíram em cima daquela tropa e logo procuraram o que tinha mais valor. Com um chute mandaram embora o burrinho que carregava a farinha e quase mataram de pancadas o burrinho do ouro, porque o coitado não queria entregar a carga.

Quando os ladrões se foram, o burrinho quase morto pediu socorro ao outro colega ainda em pé e carregado de farinha. Esse último, a esta altura, desculpou-se por não poder ajudar em nada, porque, afinal, ele era um simples carregador de farinha, absolutamente indigno de aproximar-se de um burro tão importante, escolhido para levar o ouro.

Assim, conclui-se a historinha. Isso acontece a quem se esquece, que, apesar da carga, ou do cargo, continua sendo um burro como todos os outros.

Não conheço o autor dessa história, nem lembro onde a encontrei, mas é tão simples e clara que o povo gosta de ouvi-la e de contá-la.

É mais uma lição de humildade, uma virtude tão preciosa quanto o bom senso e a inteligência. Jesus falou muitas vezes da humildade; convidou-nos a escolher os últimos lugares, mais conscientes das nossas limitações que inchados pelo nosso orgulho.

No entanto, o mundo anda, mais do que nunca, cheio de arrogantes e fanfarrões. Ao ouvi-los, parece que existem somente eles, os insubstituíveis salvadores da pátria. Os que sabem tudo, ajeitam tudo e, obviamente, criticam todos os outros.

O bom senso nos diz que se nos acomodamos no último lugar, somente poderemos ficar por aí mesmo, ou subir, convidados a maiores tarefas ou responsabilidades. Pelo contrário, quem se achou o tal, ocupando logo os primeiros lugares, só poderá ficar para trás, descendo os degraus da vida.
A inteligência também nos convida à prudência, a reconhecer o valor dos outros, porque sempre poderá aparecer alguém melhor e mais importante do que nós.

Fico pensativo quando vejo ex-cantores, ex-campeões, ex-tudo, mendigar um pouco de luz, porque a estrela deles, ou delas, parece que se apagou. Não sabiam que o sucesso era passageiro, que as modas iam passar e que têm muitas outras coisas que valem na vida, mais do que a fama e a glória dos homens?

Mas os orgulhosos se acham injustiçados, desmerecedores do esquecimento. Não se conformam com a queda, parece mesmo que tenham vivido só para aquele lugar, em cima, e que seja insuportável sentar mais em baixo. Ao contrário, quem sempre ficou na sombra continuará tranqüilo e satisfeito no seu canto. Se subir, por um tempo, voltará a gostar, como antes, das coisas mais simples e verdadeiras da vida, com menos bajuladores e aproveitadores ao seu redor.

Já deveríamos ter aprendido a lição, mas, infelizmente, sempre haverá quem ache que a humildade seja a virtude dos fracos e dos incapazes. Ao passo que o orgulho e a arrogância seriam as qualidades dos corajosos e dos ousados.

É mesmo, cada um de nós é burro do seu jeito.

(Publicado no sítio da CNBB) -
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* Bispo de Macapá

Verso e Voz - 12 de setembro

Vocês conhecem a mensagem que Deus mandou ao povo de Israel, anunciando a Boa-Notícia de paz por meio de Jesus Cristo, que é o Senhor de todos. - Atos 10.36 (BLH)

O texto declara que Jesus é o Senhor de todos os que respeitam a Deus e fazem o que é direito, independente de outros fatores. Jesus não é o Jesus dos credos, dogmas e articulações teológicas, mas o Jesus que ilumina a todos que nascem. Como Jesus não foi da exclusividade da religião judaica daquela época, Ele não é da propriedade da igreja institucional dos nossos dias! Jesus age tanto fora das estruturas eclesiásticas como dentro. É cósmico. Pode ser que Jesus aja mais fora do que dentro, por causa dos bloqueios que as próprias estruturas impõem. As igrejas estão mais interessadas em manter uma falsa pureza doutrinária e moral, do que se abrir para os “pecadores”! Os templos das igrejas estão fechados a maior parte do tempo e são de uso quase exclusivo dos membros. A Ceia é o privilégio dos "bons" em vez de ser a cura espiritual. A igreja, como instituição, não consegue apresentar um Jesus cósmico porque inventou um Jesus fechado e sectarista. - Derrel Santee

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11 setembro, 2007

Verso e Voz - 11 de setembro

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas! - Mateus 23.23

Uma pessoa não está absolutamente só, uma pessoa não pode viver e morrer só para si mesmo. Minha vida e minha morte não são puramente e simplesmente meu próprio negócio. Eu vivo por e para outros/as, e minha morte envolve outros/as. - Thomas Merton

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10 setembro, 2007

Governador de São Paulo homenageia teólogo luterano

São aulo, 10 de setembro (ALC) –
O governador de São Paulo, José Serra, condecorou o teólogo luterano alemão Heinz Friedrich Dressel, 78 anos, com a medalha da Ordem do Ipiranga por sua luta contra regimes totalitários do Cone Sul. A cerimônia teve lugar no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, na segunda-feira, 3, e contou com a presença do arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, e do rabino Henri Sobel.
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Verso e Voz - 10 de setembro

Ao estrangeiro emprestarás com juros, porém a teu irmão não emprestarás com juros, para que o SENHOR, teu Deus, te abençoe em todos os teus empreendimentos na terra a qual passas a possuir. Quando fizeres algum voto ao SENHOR, teu Deus, não tardarás em cumpri-lo; porque o SENHOR, teu Deus, certamente, o requererá de ti, e em ti haverá pecado. Porém, abstendo-te de fazer o voto, não haverá pecado em ti. - Deuteronômio 24.20-22

Em qualquer trabalho que você faz, você deveria dizer a você mesmo em todo momento: “Se Deus olhar para mim, o que verá?” Então observe como você se responde. Se você se condena, saia imediatamente. Pare o trabalho que você estava fazendo e faça qualquer outra coisa para alcançar seu destino. Para isto é necessário que o viajante sempre esteja pronto para continuar a viagem. - Declarações dos Pais de e Mães do Deserto, Citado por Hugh Feiss em Sabedoria Monástica Essencial

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09 setembro, 2007

Verso e Voz - 09 de setembro

Antes mesmo que eu fale, tu já sabes o que vou dizer. Estás em volta de mim, por todos os lados, e me proteges com o teu poder. - Salmo 139.3-4 (BLH)

Barateamos a oração ao torná-la “ato público” ao usarmos muitas palavras! ... Jesus disse que são os pagãos que acham que Deus ouve orações cumpridas (Mateus 6.5-8). ... O clamor público é um ato pagão e revela que as pessoas se sentem afastadas de Deus. Não se grita, não se clama quando sentimos que o Amado está ao seu lado para compartilhar seu jugo. A poluição sonora invade até os nossos templos. Confundimos o barulho eletrônico com a voz de Deus. Por sentirmos Deus distante, é necessário chamarmos a Sua atenção com microfones, amplificadores e alto falantes. Achamos que barulho é comunhão e uma espiritualidade elevada. Voltamos ao paganismo. ... Na sua essência, orar é curtir a presença de Deus. ... A oração não é um ato. É uma atitude. O conteúdo do salmo revela uma grande intimidade com O Divino e o sentimento de admiração. ... A linguagem mais eloqüente pode ser o silêncio do espanto diante da grandiosidade do Deus conosco. - Derrel Santee

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