11 agosto, 2008

Ministério Cristão, sim! Clericalismo, jamais! (Pr. Ronan Boechat de Amorim)


Muito do avanço do metodismo pelo mundo se deve ao ministério dos leigos (uma palavra que vem da palavra grega “laós”, que significa “povo”), ou seja, dos homens e mulheres do povo de Deus), muito particularmente os que se consagraram-se à tarefa da pregação e do evangelismo. É dentre os leigos que o Espírito Santo de Deus levanta evangelistas, missionários, mestres, professores, músicos, pastores, ecônomos (administradores), intercessores e gente solidária para o ministério da ação social, etc.

Jesus não foi sacerdote (um clérigo) no sentido eclesiástico do termo. Jesus, ouso dizer, foi um leigo, e seu ministério era o de pregador e evangelista. Sua equipe de trabalho era composta de leigos. Os maiores líderes das igrejas do Novo Testamento eram leigos. Jesus inaugurou uma igreja onde os leigos também eram considerados “sacerdotes” , ou seja, ministros (servos) de Deus e onde o pastorado é um dos ministérios da Igreja de Deus.

Em relação à Igreja, a Palavra de Deus nos afirma: “...vocês são a raça escolhida, os sacerdotes do Rei, a nação completamente dedicada a Deus, o povo que pertence a ele. Vocês foram escolhidos para anunciar os atos poderosos de Deus, que os chamou da escuridão para a sua maravilhosa luz” (1Pd 2:9 na versão NTLH da Sociedade Bíblica do Brasil).

A Reforma Protestante de Martinho Lutero em 1516 reafirmou o “sacerdócio de todos os crentes” como um de seus pilares doutrinários. Entendeu-se que o mesmo desvirtuamento que criou a “veneração aos santos” e o culto à Maria, havia equivocadamente deixado de lado o princípio bíblico do “sacerdócio universal de todos os crentes”, criando e institucionalizando assim o “clericalismo”, uma prática danosa à Igreja e ao Reino de Deus.

Com Jesus o véu do templo se rasga e não apenas os sacerdotes, mas todo o povo de Deus pode achegar até o “Santo dos santos”, ao trono do Altíssimo, falar diretamente com Deus, interceder, abençoar em Seu Nome.

No metodismo, atendendo a um chamado do Senhor, o leigo prega, torna-se missionário, administra, dirige o serviço de culto ao Senhor (li-turgia), cuida do próximo em nome de Deus através da ação social (di-aconia), é responsável pela unidade e comunhão do povo de Deus, é responsável por missões e evangelismo. No metodismo os ministérios leigos e pastoral são complementares! (1Co 12:1-11; 1Co 12:18).

Ao meu ver o ápice da carreira (do ministério) cristã não seria o pastorado nem o episcopado, mas o apostolado. O apóstolo é aquele que é enviado por Deus ao mundo para pregar o Evangelho. O ápice da carreira cristã é ser missionário!! Seja ele (o missionário) leigo ou pastor, homem ou mulher...

O clericalismo é um mal que entrou e continua existindo em muitas igrejas. É quando a Igreja acha que o pastor é quem tem de fazer tudo sozinho; é quem decide sozinho e quem “manda” nos demais. Há pastores clericalistas que, arrogante e equivocadamente, acreditam e comportam-se como se soubessem tudo, que as coisas só acontecem se eles estiverem à frente e as fizerem acontecer e que os leigos não sabem fazer nada (“leigo é o que não sabe!”). Mas há também muitos leigos clericalistas. Crentes que acreditam que o pastor tem de fazer tudo na Igreja e que eles não têm de fazer nada: “Pago ao pastor para ele fazer!”, alguns chegam a dizer.

Não pode ser uma comunidade viva, santa e missionária uma Igreja onde pastores usurpam o “sacerdócio” apenas para si, isolando-se no poder para mandar nas demais pessoas da comunidade. Vejamos o que Jesus falou sobre sua liderança em Marcos 10:42-42. Se o pastor é o que preside a comunidade, sua liderança tal como a de Jesus, tem de ser uma liderança não para mandar, manipular, oprimir, reprimir e usar os demais, mas para servir. Dar a vida...

Nas igrejas clericalistas quem perde é a comunidade da fé que parece viva mas está morta (Ap 3:1) e o próprio Evangelho que é “aprisionado” nas mãos de uns poucos. Pois não pode ser uma comunidade viva, santa e missionária uma Igreja onde os leigos não se sentem responsáveis pela Missão de Deus, pela unidade da Igreja, pelo cuidado com a sã doutrina, com a evangelização, pois esses leigos se comportariam como preguiçosos, despreparados e/ou desqualificados para a tarefa missionária (cf. Ap 2:4;). “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim” (Mt 15:8). O clericalismo é, portanto, um sinal visível de que o amor de muitos (de quase todos!) se esfriará (Mt 24:12).

Pastores têm seu lugar e tarefa na Obra de Deus. Os leigos também têm seu lugar no serviço ativo, deliberativo e de liderança na Obra de Deus. Pastores precisam ser honrados. O ministério leigo preci-sa ser honrado. E todos os ministérios da Igreja têm de trabalhar como uma única e coesa equipe para Jesus (Jo 17:21). Para o evangelho “ganhar” (ser pregado e vidas serem salvas) há a necessidade do ministério de todos os cristãos, pois grande é o campo de trabalho e poucos os obreiros (Lc 10:2).

É promessa do Senhor Jesus para nós, para todos nós (pastores e leigos): “recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra” (Atos 1:8).

Coloque os olhos em Jesus e abra seu coração para missões, meu irmão e minha irmã, pois o Senhor quer que você seja testemunha vida do Evangelho que pode salvar...

“Ide por todo mundo!” (Mt 18:21).

Éfeso: uma igreja que servia a Deus, mas sem amor (Pr. Ronan Boechat de Amorim)

Apocalipse 2:1-7 é uma carta escrita por João aos cristãos da igreja de Éfeso, uma cidade que ficava na fronteira entre a Europa e a Ásia e que tinha uma população estimada em mais de 250 mil habitantes.

“Conheço as tuas obras”, afirma Jesus, destacando entre as qualidades da igreja em Éfeso o labor (esforço) e perseverança e compromisso com a verdade, suportando a perseguição imposta pelo Império Romano sem negar a fé em Jesus, desmascarando os falsos mestres e não suportando os homens maus (Ap 2:2-3).

Mas Jesus aponta também os pecados. “Tenho, porém, contra ti que abandonastes o teu primeiro amor” (Ap 2:4). Ou seja, era uma igreja operosa, fiel às doutrinas e tradições cristãs, que amava a verdade, mas tinha se esquecido do Amor, do primeiro amor. Assim, já não fazia as coisas por amor a Deus e por amor às pessoas, mas por costume, por tradição, por busca de méritos, por pura obrigação... estavam trabalhando no automático... Esqueceram dos grandes mandamentos que formam a base para todos os ensinamentos de Deus (Mateus 22:37-40). Paulo instruiu os efésios sobre a importância do amor como alicerce da vida do cristão (Efésios 3:17; 4:2,16: 5:2; 6:23). Podemos defender a verdade, como os efésios fizeram e, ao mesmo tempo, praticar o amor. Foi exatamente isso que Paulo pediu aos efésios: “Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo” (Efésios 4:15).

Não foram apenas as experiências humilhantes com os porcos que levaram o filho pródigo ao arrependimento (Lc 15:17); foi sobretudo a lembrança da casa do pai. Para os efésios se arrependerem, teriam que lembrar da comunhão com Deus que deixaram para trás. Jesus pede aos efésios 3 coisas para não deixarem de ser filhos e Igreja de Deus: Lembra-te (Lm 3:21), arrepende-te (Jo 14:26) e volta.

Voltar é dar meia volta, é mudar o rumo, é converter-se. Converter-se de um culto mecânico e de um ativismo religioso para a verdadeira intimidade com Deus (Sl 15:14), que requer vida de relacionamento pessoal com Deus, prazer na prática da oração como um diálogo com Deus, prazer na Palavra e na vontade de Deus e um serviço feito por amor, almejando unicamente a glória do nome do Senhor e a realização da Sua Missão de salvar o mundo pecador.

Tudo o que fizermos seja feito em amor e por amor ao Senhor!