29 maio, 2009

Abertura de arquivos de documentos relacionados ao período da ditadura militar e a Igreja Metodista (Aírton Campos)

Os documentos, que certamente algumas pessoas que vivenciaram aquela época ainda tenham em seu poder, poderiam ser encaminhados para o Centro de Memória ajudando a desvendar este episódio obscuro da história de nossa Igreja Metodista.


O governo federal anunciou que vai enviar ao Congresso Projeto de Lei que muda a classificação de documentos sigilosos, reduzindo o prazo para que se tornem públicos.
Outra medida anunciada foi a convocação aos brasileiros para que repassem ao governo federal ou aos governos estaduais documentos relacionados ao período da ditadura militar que se encontrem em seu poder.

Este é um grande passo na vida democrática. Quem se julgar ofendido pela divulgação de atos produzidos por sua convicção ideológica – qualquer que seja ela – poderá recorrer à Justiça.

A Igreja Metodista também tem um período de repressão que culminou com o fechamento da Faculdade de Teologia em São Paulo no início de 1968.

O jornal de Vila Isabel naquela época tinha o nome de Alvorada, era editado pela Sociedade de Jovens e reagiu firmemente contra o fechamento publicando matérias com criticas à decisão.

Considerando que a medida era arbitrária, drástica e desnecessária, pois criava um obstáculo ao chamado para o ministério pastoral de muitos jovens, inclusive de Délcio Campante, membro de nossa igreja, um Concilio Local de Vila Isabel aprovou um protesto contra o ato e enviou o Luiz Pimenta para verificar in loco o problema.
Nossa reação trouxe à Vila, em julho, o Bispo Natanael Innocêncio do Nascimento para discutir o assunto e dar explicações. Em setembro do mesmo ano, 1968, um Concílio Geral Extraordinário determinou a reabertura da Faculdade. No entanto ela efetivamente só foi reaberta no inicio do ano letivo de 1969.

Somente 30 anos depois, em 1998, a Igreja Metodista assumiu que havia errado e pediu perdão pelos atos que levaram ao fechamento da Faculdade. Naquela ocasião nosso irmão João Wesley Dornellas esteve presente à solenidade e distribuiu exemplares do Alvorada de 1968, que protestavam contra o fechamento, e cópias deles estão nos anais da Faculdade de Teologia.

Agora que está sendo instalado o Centro de Memória Metodista, sob a coordenação do Bispo Paulo Ayres Mattos, quem sabe também poderíamos lançar um projeto para revelar nossas memórias.

Os documentos, que certamente algumas pessoas que vivenciaram aquela época ainda tenham em seu poder, poderiam ser encaminhados para o Centro de Memória ajudando a desvendar este episódio obscuro da história de nossa Igreja Metodista.

Criar este acervo e preservar a memória e a história da Igreja pode ajudar para que não corramos o risco de vê-la repetida.

Uma lista dos documentos, devidamente classificados, poderia ser disponibilizada na internet para acesso aos interessados em conhecer e estudar esta parte da história da Igreja.
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Matéria extraída do Jornal da Vila de 31 de maio de 2009, escrita por Airton Campos, membro da Igreja Metodista de Vila Isabel, professor da Escola Dominical e membro do Conselho Diretor do Hospital Evangélico do Rio de Janeiro.