07 maio, 2009

O Pregador Silencioso: ecumenismo no jornal Expositor Cristão de1886 a 1982 (Suzel Tunes)



"O Pregador Silencioso: ecumenismo no jornal Expositor Cristão de1886 a 1982", é a tese de Mestrado de Suzel Tunes, onde ela se dispôs a avaliar como o jornal Expositor Cristão tratou a questão do ecumenismo desde a sua criação em 1986 até a entrada da Igreja Metodista no CONIC, Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, no início da década de 1980.

A pesquisa constatou que o anticatolicismo arraigado no metodismo brasileiro em seus primórdios jamais desapareceu por completo. Notou também que o metodismo não esteve imune aos conflitos interdenominacionais existentes no próprio meio evangélico. Em que pese o reconhecido pioneirismo da Igreja Metodista na criação de organismos ecumênicos brasileiros, o ecumenismo sempre enfrentou barreiras internas, mais ou menos explícitas.

E o jornal Expositor Cristão, criado para ser um veículo de informação e formação doutrinária, nem sempre comunicou com a necessária clareza qual o significado que a Igreja Metodista confere à palavra ecumenismo e como ela o pratica. Em alguns momentos, a coexistência entre ecumenismo e antiecumenismo no interior do campo metodista não foi trazida à luz dos debates pelo jornal, mas permaneceu oculta por omissões e ambivalências.

É o que este trabalho pôde constatar a partir de uma avaliação qualitativa do conteúdo do jornal.

Esse trabalho pode ser lido em:
http://www.metodistavilaisabel.org.br/artigosepublicacoes/descricao.asp?n=0

05 maio, 2009

Semelhante ao sândalo que perfuma até mesmo o machado que o fere (Ronan Boechat de Amorim)



O texto bíblico de 2 Reis 5:1-19 narra a cura da lepra e a conversão de Naamã, o comandante dos exércitos da Síria, o processo como isso se deu e os personagens envolvidos nessa história maravilhosa. E chama a atenção a menina mencionada em 2 Rs 5:2 que foi levada como prisioneira para a Síria e que foi usada como escrava na casa de Naamã. A menina era uma pessoa tão sem importância que o texto nem menciona seu nome. Mas ela sabia de algo que nem o rei de Israel sabia (cf. 2Rs 5:7): havia um homem de Deus em Israel que poderia curar a lepra de Naamã.

A menina não tinha nenhuma razão para tanto, mas agiu com bondade para com aqueles que a seqüestraram, a reduziram a uma escrava e que exploravam o seu trabalho infantil. Ela não tinha a maturidade e a espiritualidade de um adulto, mas agiu com bondade. Ela não a credibilidade e as oportunidades de alguém do sexo masculino, mas agiu com bondade. Ela não tinha a liberdade de uma pessoa livre (era escrava), mas agiu com bondade.

Ela não tinha funções, cargos, encargos na igreja, no templo, na sinagoga, mas testemunhou o que sabia: em Israel há um homem de Deus que pode curar a lepra do general Naamã. Ela testemunhou algo que nunca acontecera antes e nem depois em todo o Antigo Testamento: a cura da lepra. A menina nunca havia visto e nunca havia ouvido alguém falar que a lepra podia ser curada, mas ela foi uma crente no poder de Deus e seu testemunho levou algo novo a acontecer em todo o Antigo Testamento: um homem foi curado de lepra.

Ainda que consideremos que a menina falou impensadamente, ainda assim seus comentários, sua conversa informal, suas palavras infantis, suas palavras impensadas apontavam para Deus e para a esperança que alguém que sofria poderia encontrar em Deus. Suas palavras deram início a um processo que envolveu dois reis (Síria e Israel) e culminou com a cura e a conversão do grande comandante sírio. Mesmo na adversidade, aquela menina espalhou esperança e bondade: foi como o sândalo (a árvore que dá nome a um perfume de mesmo nome) que perfuma até mesmo o machado que a feria. Ela foi como Jesus que mesmo ao morrer injustamente na cruz, estava de braços abertos, oferecendo perdão e salvação até mesmo àqueles que o traíram e o crucificaram.

Cultura Gospel: Fruto da pós–modernidade (Antônio Carlos Soares dos Santos)




Cada vez mais me convenço de que estamos vivendo um tempo de grandes perdas, de grandes “desvios”, de sepultamento das raízes do mais puro cristianismo. E o algoz tem um nome: Cultura Gospel. Não é protestantismo, nem mesmo pentecostalismo, mas é um fruto oriundo da tal pós-modernidade. Uma das características dessa “dita-cuja” pós-modernidade é justamente a ojeriza ao passado, às tradições e tudo que possa indicar algo que um dia chamamos de IDENTIDADE. Não entendo muito bem o que seja essa tal pós modernidade...mas uma coisa digo..não é coisa boa não...mas vamos recorrer a especialistas. O sociólogo polonês Zygmunt Bauman diz que pós modernidade é “uma realidade ambígua, multiforme, na qual, como na clássica expressão marxiana, tudo o que é sólido se desmancha no ar”. Já o filosófo francês Gilles Lipovetsky declara ser “uma exarcebação de certas características das sociedades modernas, tais como o individualismo, o consumismo, a ética hedonista, a fragmentação do tempo e do espaço”. Agora pergunto: nosso adorável mundo gospel não é pós moderno? Com toda sua busca individualista, com seu capitalismo religioso, com as estatística de mercado, suas estratégias de Marketing...A verdade é que o pós modernismo (leia-se: cultura gospel) esvaziou o cristianismo e nós ainda batemos palmas para isso. Trocamos a seriedade e serenidade pelo êxtase momentâneo do sucesso a qualquer preço.

O Prof. Isaías Lobão Pereira Júnior em seu artigo “A Igreja Brasileira na Pós-modernidade” faz a seguinte declaração: “Na Igreja, o que antes era convicção, hoje é opção. Os mandamentos divinos passaram a ser sugestões divinas. A igreja é orientada por aquilo que dá certo e não por aquilo que é certo”. Que grande e triste verdade! Podemos perceber cada vez mais essa realidade quando nos deparamos com algumas mensagens que exaltam tanto a busca de poder e os dons individuais e nada dizem a respeito da comunhão partilhada, da necessidade do arrependimento, do caráter de Jesus, da compaixão com os injustiçados em uma sociedade corrompida, cruel e impune. Vivemos tempos em que a Bíblia não é mais a nossa única regra de fé, pois, as experiências pessoais acabam por suplantar o conceito bíblico de Igreja, suas doutrinas e orientações mais essenciais. É lamentável vermos nossa amada Igreja Metodista, de tantas histórias e História, de tanta tradição, se perder em meio a uma salada “gospel” de consumismo mercadológico. E todos sabem que os olhos do mercado não enxergam o individuo e sim a multidão. Vivemos uma contradição eclesiológica, pois adotamos o discipulado como estilo de vida, mas a prática é cada vez mais de agrupamento de pessoas sem rosto e sem identidade. E não importa os meios que se usa para alcançar esse “agrupamento”, o importante é que o “número” aumente!

Deus é o produto...os fiéis, os consumidores...Deus é encontrado com várias faces de acordo com o gosto e a tendência...Tem o Deus dos ricos, o Deus dos “guerreiros”, o Deus curandeiro, o Deus-Gênio da Lâmpada...Onde antes era “Senhor, seja feita a Tua vontade” hoje é “ eu reinvidico, eu exijo, eu determino...” Uma pregação triunfalista, ufanista...triste, dolorida para quem antes buscava a Igreja para encontrar uma palavra de consolo, carinho e até mesmo de exortação e não uma chamada para sucesso continuo e ininterrupto. Não existe mais aquela sede pelo conhecimento a Deus, não é mais o que quero conhecer, mas o que eu sinto é o que importa, se a Palavra não me agradou eu busco uma que me agrade e com isso o corpo pastoral passa não mais a aplicar o que a Igreja necessita, mas sim o que o povo quer. Jazie Guerreiro explana muito bem isso ao dizer “Na cultura pós-moderna o religioso se expressa com um forte predomínio da experiência sobre a razão e sobre a própria explicação da fé”. Enquanto o espírito ecumênico é duramente criticado e até visto como jocoso, o sincretismo religioso vai ganhando espaço nas Igrejas e alimentando a superstição popular. Quando vemos que o símbolo se torna maior que o significado, alguma coisa está muito errada!

Ao que parece, já não sabemos mais como o autor de I Pedro nos convida a “estarmos sempre preparados para responder a qualquer pessoa que nos pedir a razão de nossa esperança” (I Pedro 3.15), talvez por considerarmos que Rick Warren com sua “obra prima” Uma igreja com propósitos tenha mais a dizer ao povo de Deus do que a própria tradição bíblica e histórica da Igreja. Como pastor metodista, de tradição Wesleyana, me preocupo muito...hoje estou vendo que não sou festeiro, que não sou alegre o tempo todo, que tenho momentos de tristeza, de solidão...por isso compreendo que não posso prometer a Igreja nada além daquilo que Deus revela na Bíblia...Felizmente, ou infelizmente, para alguns, levo meu pastorado muito a sério. Em meio a tantas heresias ditas à vontade nos púlpitos, televisão e rádios, quero citar um “herege” abençoado por Deus e lúcido: “Já não espero que uma relação com Deus me blinde de percalços. Não acredito, e nem quero, que Deus me revista com uma carcaça impenetrável. Acho um despautério prometer, em meio a tanto sofrimento, que uma vida obediente e pura gere segurança contra doenças, acidentes, violência”. (Pr. Ricardo Gondim). Hoje vivemos uma pós modernidade, “uma mistura de ilusão com esperança”[1], para que no fim de tudo, Deus venha a restaurar a ordem e confirmar os valores de seu Reino.

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[1] Gondim, Ricardo: Repensando a fé.